Na caixa de correio ou na porta de uma casa em Charlotte, cidade mais populosa da Carolina do Norte, ao invés de propaganda sobre serviços, novos empreendimentos locais ou anúncio de uma pizzaria próxima, os moradores recebem propaganda política difamando opositores, pedindo que as pessoas votem e também solicitando doações em dinheiro.
É o clima de uma das eleições mais acirradas dos Estados Unidos, que tem o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris disputando os ‘pêndulos’ – como são chamados os Estados que não tem uma preferência clara por votar em um dos dois partidos. Por isso, qualquer papel, anúncio ou até mesmo um e-mail que chame mais atenção do eleitor está valendo e pode fazer a diferença.
Uma das propagandas ao qual a reportagem do Terra, que está nos EUA para cobrir as eleições no país, teve acesso estava pendurado na maçaneta da porta de entrada de uma casa tipicamente americana. De um lado, uma imagem em preto e branco de Kamala Harris e lia-se: “Ela vai vencer se você não votar”. Do outro lado, uma foto de Trump com ar de vencedor e com os dizeres “presidente Trump precisa do seu voto, não o decepcione”.
Como a cidade de Charlotte é um pouco mais democrata do que cidades mais do interior da Carolina do Norte, a quantidade de propaganda republicana era significativamente maior. Uma delas fazia uma comparação de Kamala com o atual presidente dos EUA, Joe Biden, afirmando não haver diferença entre um e outro, aproveitando a alta rejeição da imagem de Biden -- até mesmo entre os democratas. Do outro lado, uma foto de Trump e anúncio de propostas como redução de impostos e fronteiras fechadas.
Outro folheto traz uma montagem de Kamala em um uniforme militar e a chama de ‘czar das fronteiras abertas’, trazendo números – sem citar qual é a fonte desses dados – de condenados criminalmente que tiveram permissão para cruzar a fronteira. “Fracassada, fraca e perigosamente liberal”, traz ainda uma legenda da foto.
Também em tom de ameaça, uma das propagandas mais recorrentes faz o seguinte alerta: “Pare! Democratas perigosos”, com fotos de candidatos que mais lembram registros policiais do que candidatos a um cargo político. Segundo o panfleto, uma candidata a comissária agricultura já teria atacado fazendeiros no passado e outro, candidato a comissário do trabalho, coleciona passagens na polícia. Do outro lado, imagens de paisagens pacíficas com os nomes dos candidatos do partido Republicano.
Há também propaganda democrata, embora em menor número. A reportagem teve acesso a um panfleto que pede que eleitores registrem o seu voto antecipadamente, fotos de Kamala e de seu vice, Tim Walz, e os dizeres “uma oportunidade de traçar um novo caminho a seguir – Kamala Harris”.
Placas pelos gramados
Não é comum ver outdoors na Carolina do Norte. Não há muitas calçadas e o uso do carro é quase que indispensável. Algo corriqueiro de se ver, entretanto, são pequenas placas fincadas nos gramados que cercam as ruas residenciais e comerciais das cidades. Com pouco espaço para passar a mensagem, as placas trazem poucas informações, mas com impacto. A caminho de um comício de Trump, por exemplo, muitos cartazes faziam associações positivas ao candidato republicano, e negativas para Kamala Harris, como “Trump segurança / Kamala crime”.
Outros ‘mini’ outdoors fincados nos gramados apenas anunciavam o nome de candidatos. Na versão democrata, uma placa azul ressaltava o nome de Kamala e de Walz, seu vice.
“Pedindo humildemente sua doação”
Difamações, pedidos de votos e muitas solicitações de doações para campanha também são comuns em e-mails e também por mensagens de texto no WhatsApp (os americanos não são tão fãs de WhatsApp como nós). O Terra recebeu, por exemplo, uma mensagem do ex-presidente Barack Obama -- enviada para qualquer um que se inscrevesse para os eventos de Kamala, claro – pedindo “humildemente” uma doação.
“Conheço Kamala Harris há anos. Eu conheço sua coragem. Eu conheço a força dela. Eu conheço sua compaixão. Conheço a visão dela para o povo americano, porque é aquela pela qual ela lutou durante toda a sua vida: Kamala Harris é para o povo”, diz Obama na mensagem junto a um pedido de doação que vai de 47 dólares até 500 dólares. "Confie em mim quando digo que a sua doação ainda tem potencial para causar um grande impacto e nos ajudará a derrotar Donald Trump nesta eleição", encerra.
Já a campanha republicana costuma a se comunicar mais por mensagens de texto e, normalmente, faz divulgação de comícios de Trump, pede doações (“aqui tem cinco razões para você doar cinco dólares”, diz um desses pedidos) e também critica os oponentes democratas: “O chefe da Kamala, Joe Biden, chamou meus apoiadores de lixo. Aqui é o Trump. Você é incrível.”
A mensagem é uma referência à resposta que Biden deu diante de declarações racistas feitas pelo comediante Tony Hinchcliffe em um comício de Trump. O comediante chamou o território americano de Porto Rico de “ilha flutuante de lixo”. A ironia de Biden, por exemplo, não abalou os seus apoiadores. Em um comício no qual o Terra esteve presente em Gastonia, cidade na Carolina do Norte, um apoiador se destacou por estar fantasiado de lixo. “Eu estou usando a minha fantasia ‘Lixo por Trump’. Joe Biden disse que todos os eleitores de Trump são lixo. Estou aqui”, disse à reportagem.
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