As enfermeiras americanas, a linha de frente do atendimento médico nos hospitais, disseram não ter treinamento nem preparo para lidar com pacientes infectados com o ebola que estão chegando nos pronto-socorros do país.
Muitas dizem que procuraram os administradores dos hospitais pedindo treinamento para saber a melhor maneira de cuidar dos pacientes e protegerem a si mesmas e às suas famílias da doença mortal, que já matou pelo menos 3.439 pessoas no pior surto já registrado.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) vem dizendo de forma reiterada que os hospitais do país estão preparados para lidar com estes pacientes, e muitos especialistas em doenças infecciosas concordam com esta avaliação.
Um deles, o doutor Edward Goodman, do Hospital Texas Health Presbyterian, em Dallas, atualmente tratando da primeira pessoa diagnosticada com Ebola nos Estados Unidos, acredita que a unidade está pronta.
O hospital completou o treinamento para o ebola pouco antes de Thomas Eric Duncan aparecer no pronto-socorro em 26 de setembro. Mas, apesar de ser informada de que Duncan havia chegado recentemente da Libéria, a equipe do hospital não foi capaz de reconhecer o risco do Ebola e o mandou para casa, onde ele passou mais dois dias, ficando mais doente e mais apto a infectar outras pessoas.
“O caso do Texas é o exemplo perfeito", afirmou Micker Samios, enfermeira do setor de triagem do pronto-socorro do Centro Hospitalar Medstar Washington, o maior hospital da capital dos EUA.
“Além de não estarem preparados, houve uma falha no diagnóstico, assim como na comunicação", disse Samios.
Enfermeiras argumentam que o preparo inadequado pode aumentar as chances de disseminação do ebola se a equipe do hospital não conseguir reconhecer um paciente, ou se os funcionários não estiverem informados sobre como se proteger adequadamente.
Um levantamento do sindicato nacional da categoria com cerca de 400 enfermeiras em mais de 200 hospitais em 25 Estados americanos revelou que mais da metade (60%) delas declararam que seu hospital não está preparado para lidar com pacientes com ebola, e mais de 80% afirmaram que seu hospital não deu nenhuma instrução sobre a possível internação destes pacientes.
Outras 30% disseram que seu hospital não tem quantidades suficientes de proteção ocular e vestimentas resistentes a fluidos.
“Se existem protocolos em vigor, as enfermeiras não estão sabendo, e elas é que são expostas”, argumentou a diretora-executiva do sindicato, RoseAnn DeMoro.
O presidente da Behavioral-Based Improvement Solutions, Sean Kaufman, empresa de biossegurança sediada em Atlanta, ajudou a treinar enfermeiras da Universidade Emory no processo de vestir e despir o equipamento de proteção pessoal enquanto cuidavam de dois agentes de saúde infectados no oeste da África e levados aos EUA para tratamento.
Karen Higgins, enfermeira de uma unidade de tratamento intensivo (UTI), disse que as autoridades do seu hospital vêm ensinando as enfermeiras em um dos andares como lidar com pacientes com ebola.
“Eu disse ‘bom, isso é ótimo, mas se o paciente precisar de uma UTI, o que vocês planejam?’ Eles ficaram olhando para a minha cara”.