A família de uma professora morta em um massacre na escola primária Sandy Hook, nos Estados Unidos, entrou com um pedido para transformar o nome da vítima em uma marca registrada. O objetivo da medida é proteger a reputação da professora de abuso em redes sociais.
É difícil para Carlee Soto falar sobre o que a levou a tentar registrar o nome da irmã. Ela disse que preferiria viver o luto e lembrar da irmã que morreu no dia 14 de dezembro de 2012 na cidade de Newtown, em Connecticut.
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Victoria Soto, de 27 anos, foi morta quando tentava proteger sua classe do atirador Adam Lanza. Ela foi uma entre seis professores que morreram naquele dia, além de 20 alunos e a mãe de Lanza. O atirador também morreu.
Desde a morte de Victoria, a família vem lidando não apenas com a perda de um ente querido. Diariamente, recebe mensagens de um pequeno grupo de pessoas que dizem que o massacre nunca aconteceu.
Segundo Carlee Soto, contas falsas são criadas regularmente no nome de sua irmã. Muitas dessas contas atacam a professora morta, outras questionam a veracidade da tragédia em Sandy Hook. "É extremamente doloroso que pessoas nos agridam continuamente depois de tudo o que passamos", ela diz.
"Eu vi minha irmã em um caixão. Eu vi as roupas dela furadas pelas balas - e não quero ter de lidar com isso (assédio na rede)."
Trolls e o Twitter
Ao entrar com um pedido para que o nome Victoria Soto se torne uma marca registrada, a família adota uma estratégia pouco usual para enfrentar o problema do abuso na rede. "Nosso maior problema é que as pessoas estão criando contas falsas no Twitter com o nome de Vicki e tuitando teorias conspiratórias e inverdades", disse Ryan Graney, que auxilia a família a lidar com mídias sociais.
Graney disse que seu trabalho é retirar da rede postagens desagradáveis e falsas sobre a família.
"Em um dado momento, havia 158 páginas falsas no Facebook dedicadas a Vicki e levou dois meses para que eu reduzisse esse número para quatro", explicou Graney. Segundo ela, alguns sites estão tentando arrecadar fundos no nome de Victoria, enquanto outros têm como único propósito o assédio à família.
O FBI investigou algumas das contas falsas. No entanto, o volume de mensagens abusivas é imenso, restando à família denunciar os sites para as redes sociais onde estão inseridos.
Graney disse que um recurso oferecido pelo Facebook permite que postagens e páginas ofensivas sejam retiradas do site. Mas segundo ela, tem sido mais difícil fazer isso no Twitter, onde ocorre a maior parte dos abusos.
O CEO do Twitter, Dick Costol, reconheceu recentemente que a companhia precisa melhorar a forma como lida com os "trolls" na internet (jargão para pessoas que assediam e ofendem usuários na rede). Ele admitiu que, quando se trata de lidar com "abuso e trolls na plataforma", a companhia enfrenta problemas há "anos".
Mas garantir o direito à expressão e ao mesmo tempo evitar abusos não é uma tarefa fácil.
Um porta-voz do Twitter disse à BBC que a companhia investiga todas as reclamações desse tipo que recebe: "Checamos todo o nosso conteúdo para saber se está dentro das regras, que proíbem que uma pessoa adote a persona de outra e (outros) abusos. Se encontramos contas que estão violando nossas regras, nós as suspendemos".
O Twitter suspende usuários que falsamente adotam a identidade de outra pessoa, mas existem, supostamente, 681 pessoas chamadas Victoria Soto nos Estados Unidos, o que torna a adoção dessa medida um pouco complicada.
Incerteza
Uma marca registrada ofereceria proteção adicional a um usuário porque contas que violassem a marca poderiam ser suspensas rapidamente. Daí a decisão da família de usar esse recurso.
A medida, no entanto, é pouco usual e a família não sabe se o pedido será atendido, explicou o advogado especializado em marcas registradas Mark Jaffe.
Marcas associadas a nomes tendem a ser aplicadas a produtos, como camisas Ralph Lauren ou bolsas Louis Vuitton, ele explicou.
"Você receberia proteção para sua marca registrada em conexão com bens e serviços. As pessoas teriam de ver esse nome não apenas como o nome de uma pessoa, mas de um produto."
É possível que a família Soto tenha de esperar meses para saber se o pedido de registro da marca terá sucesso, mas para Carlee Soto, esse foi um passo importante.
"Esperamos que a medida funcione como um obstáculo (aos que desejam cometer abuso) e que as pessoas percebam que levamos isso a sério."
"Saber que algumas pessoas pensam que minha irmã não existiu de verdade é o que mais me ofende."
"Minha irmã é tão real quanto possível. Vivi com ela por 19 anos e ainda não consigo acreditar que ela não está aqui."