Sua mãe, Aidé, cruzou a perigosa fronteira entre o México e o estado americano do Texas com quase oito meses de gravidez e deu à luz depois de colocar os pés nos Estados Unidos.
No total, a jovem de 18 anos viajou mais de uma semana desde sua casa em El Salvador até a fronteira. Ela pegou tantos ônibus que não se lembra exatamente quantos e atravessou de balsa o Rio Grande, que separa os dois países.
Seu objetivo era escapar da violência em seu país e se reencontrar com sua mãe e suas irmãs, que vivem em Nova York.
"Foi bastante arriscado, porque faltavam poucos meses de gravidez e assim mesmo decidi vir", explica ela à BBC Mundo, que se absteve - a pedido dela - de questioná-la sobre assuntos pessoais.
Aidé fala de forma tímida, só deixa escapar um sorriso de vez em quanto e evita olhar diretamente com quem fala. Talvez faça isso porque acredite que seus olhos negros, intensos e cansados, refletem seu drama.
Testemunhos silenciosos
O epicentro desse problema é o vale do Rio Grande, no sul do texas, onde é possível ver nas margens dos rios restos de roupas, comida para bebê ou sapatos.
São os testemunhos silenciosos de um êxodo repleto de perigos: desde o calor sufocante, passando pelos traficantes e ladrões que também andam por esta região.
Isso sem contar que é uma viagem sem sucesso garantido: assim que superam os riscos inerentes da fronteira, os viajantes enfrentam a possibilidade de serem deportados ao chegarem aos Estados Unidos.
Muitos cidadãos da América Central buscam fugir da violência e da pobreza. Outros se empolgaram com os rumores que garantem que poderão ficar se conseguirem entrar nos Estados Unidos.
Ainda há as redes de tráfico de pessoas, e 192 pessoas acusadas de envolvimento nelas foram presas no vale do Rio Grande no último mês.
É um assunto que tem gerado repercussões políticas internacionais, ao ponto de que nesta sexta-feira o tesma será discutido em uma reunião na Casa Branca entre os líderes de Estados Unidos, Honduras, El Salvador e Guatemala.
O presidente americano, Barack Obama, disse que se trata de uma "situação humanitária urgente" e tem se esforçado para dissuadir, por meio de campanhas na mídia, jovens como Aidé de cruzar a fronteira.
'A maior alegria'
Aidé está sentada em um abrigo temporário na Igreja do Sagrado Coração da cidade de McAllen, no Texas.
Em suas mãos, César dorme tranquilamente. Atrás dela, um grupo de voluntários organiza as roupas e comida doadas e se prepara para receber um novo grupo de imigrantes.
Desde o início de junho, chegaram cerca de 3,5 mil pessoas, especialmente mães com filhos, que são processadas e logo liberadas pelas autoridades sob a ordem de apresentarem-se a um juiz que definirá seu status migratório.
Os imigrantes chegam sujos, cansados e com fome. Algumas mães choram porque têm medo. No abrigo, podem tomar banho, mudar de roupa e receber assessoria legal enquanto esperam pelo ônibus que os levará até onde vivem parentes que pagam a passagem.
Aidé foi deixada neste abrigo depois de passar seis dias com os agentes de imigração americanos. Neste período, ficou estressada, e diz que isso acelerou seu parto. Teve que ser levada ao hospital na cidade mais próxima, Mission.
Apesar do cansaço, ela garante que o pequeno César é "a maior alegria que poderia ter" e espera que ele seja "uma pessoa de bem" nos Estados Unidos.
Agora só falta para ela um último trajeto: uma viagem de ônibus de 51 horas até Nova York, onde é esperada por sua família e uma notificação para comparecer diante do juiz no meio de agosto. Então, seu futuro será definido.
Por enquanto, Aidé apenas pensa no reencontro e já sabe o que dirá a seus parentes: "Que estou feliz por estar aqui, com eles".
Também sente que realizou seu sonho de chegar aos Estados Unidos, ainda que admita - enquanto fecha seus olhos por um instante - que não faria a viagem de novo.
"Não. De novo, não. Porque não é fácil."