O jornalista americano Matthew Rosenberg, correspondente do The New York Times em Cabul, embarcou rumo aos Estados Unidos nesta quinta-feira depois que recebeu uma ordem para deixar o Afeganistão do procurador-geral do país por ter publicado um artigo sobre uma possível tentativa de golpe de Estado.
"Servir e Proteger: o promotor chefe de Cabul, um general da polícia e quatro agentes me escoltaram até a imigração. Tudo muito amistoso", tuitou Rosenberg pouco antes de decolar do aeroporto internacional da capital afegã.
O voo, que o leva a Nova York com escala em Dubai, saiu do aeroporto internacional de Cabul durante a tarde local, explicou à Agência Efe uma fonte policial do terminal aéreo.
"A primeira expulsão de um jornalista desde o fim do período talibã - que terminou com a invasão americana do Afeganistão em 2001 - é um lamentável retrocesso na liberdade de imprensa do país", afirmou hoje em comunicado o embaixador dos EUA em Cabul, James B. Cunningham.
Rosenberg foi notificado ontem que deveria deixar o país no prazo de 24 horas, depois que se recusou a revelar para as autoridades afegãs na terça-feira a identidade das fontes anônimas que o informaram sobre a formação de um "governo interino" no Executivo afegão.
De acordo com o repórter americano, a ordem para que fosse expulso do país veio da "presidência" de Hamid Karzai, por isso lamentou que os afegãos sofrem "o pior, porque as autoridades não respeitam as leis", conforme escreveu no Twitter.
Karzai, por sua vez, garantiu em comunicado que artigos como o publicado pelo jornalista do New York Times "não deveriam ser permitidos", pois representam ações "de conspiração e interferência estrangeira com o objetivo de desestabilizar o Afeganistão".
"O Centro de Mídia e Informação do governo afegão está ciente que (o New York Times) realiza atividades de espionagem sob (a máscara) do jornalismo", disse hoje o presidente Karzai em sua nota.
A situação no Afeganistão é conflituosa devido a um processo eleitoral conturbado desde a votação do segundo turno das eleições presidenciais no dia 14 de junho, o que explicaria a tentativa, como garantiu o jornal, de criação de um "governo interino".
A crise começou quando um dos dois candidatos presidenciais, Abdullah Abdullah, se negou a aceitar o resultado da apuração preliminar de votos, que apontava seu oponente, Ashraf Gani, como vencedor com 56,4% dos votos.
Abdullah ameaçou então abandonar a corrida presidencial e criar um governo paralelo, pois afirmou que tinha ocorrido uma "fraude em escala industrial" preparada por Gani, pelo atual presidente Karzai e pela Comissão Eleitoral afegã.
No entanto, graças à mediação do secretário de Estado americano, John Kerry, os dois candidatos chegaram a um acordo que determinava que a totalidade dos 8,1 milhões de votos seria auditada e que, após a divulgação dos resultados, seria criado um governo de união nacional liderado pelo vencedor.
Entretanto, a apuração que começou no dia 17 de julho, avança muito devagar devido às diferenças entre as equipes de Abdullah e Gani sobre os parâmetros a serem seguidos na hora de invalidar ou não uma cédula, o que paralisou a auditoria em várias ocasiões.