O ex-confidente de Bradley Manning disse nesta terça-feira, no segundo dia do seu julgamento nos Estados Unidos, que o soldado tinha um caráter frágil e buscava sua identidade sexual, mas nunca disse "uma palavra" contra seu país enquanto divulgou milhares de documentos militares secretos.
Na base militar de Fort Meade (Maryland), Adrian Lamo, um hacker que se tornou confidente de Manning on-line, revelou que decidiu contactar as forças de segurança porque estava preocupado com a vida do jovem soldado após a divulgação dos documentos no site WikiLeaks.
Interrogado pelo advogado de defesa, David Coombs, Lamo manifestou sua crença de que Manning estava a procura da verdade. "Isto é algo que efetivamente senti".
Segundo Lamo, o militar queria tornar publicas estas 'informações horríveis', parecia importante divulgar isto, queria revelar a verdade.
Lamo disse que, provavelmente, foi contatado por Manning porque era simpatizante da Liga da Defesa de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transsexuais (LGBT) e também conhecido como um "grande hacker".
Detido e condenado por "acesso não autorizado a computadores" em 2004, Lamo admitiu que, provavelmente, Manning se interessou por ele porque havia fornecido informações ao WikiLeaks.
A principal acusação de Manning na Corte Marcial é "colusão com o inimigo", no caso a rede Al-Qaeda, pelo qual corre o risco de ser condenado à prisão perpétua.
Lamo disse ao promotor militar Ashden Fein que "Manning admitiu conhecer Julian Assange", o fundador do WikiLeaks, a quem o governo se esforça para processar por cumplicidade no caso de vazamento de informações.
Para Lamo, cujas revelações ao FBI de Sacramento (Califórnia) permitiram à prisão de Manning, então com 22 anos, o militar precisava da "ajuda de alguém de confiança" em sua base no Iraque, onde se "sentia desesperado", "paralisado pelo medo", "emocionalmente partido", entregue "a um combate interno devido a seu problema de identidade sexual".
A testemunha revelou ter perguntado a Manning por que motivo "não vendia tudo isto à Rússia ou à China", e o militar respondeu que "estas informações eram de domínio público".
Lamo concluiu afirmando que Manning "jamais disse uma palavra contra os Estados Unidos" ou sobre algum "desejo de ajudar o inimigo".
O advogado Coombs garantiu que Manning acreditava sinceramente que a "primeira potência mundial explorava um país do Terceiro Mundo" e que "em qualquer parte onde houvesse uma representação americana também haveria um escândalo diplomático".
O fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, refugiado na embaixada do Equador em Londres, condenou o "julgamento-espetáculo" de Manning.
O ciberativista australiano denunciou o fato de o soldado americano ter sido acusado pelo "crime de dizer a verdade".
"Isto não é justiça. Não pode ser, de maneira alguma, justiça. O veredicto foi lançado há muito tempo", acrescentou. "É justo descrever o que acontece com Bradley Manning como um 'julgamento-espetáculo".
"Este é um exercício de relações públicas destinado a fornecer ao governo (dos Estados Unidos) um álibi para a posteridade. Este é um show de vingança inútil, um alerta teatral às pessoas com consciência", ressaltou.