Na primeira entrevista concedida pessoalmente desde o início do seu asilo em Moscou, Edward Snowden, o ex-técnico da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), declarou se sentir um vencedor após denunciar esquemas de espionagem do governo americano, através do vazamento de informações confidenciais em seu antigo cargo.
"Para mim, em termos de satisfação pessoal, minha missão já foi cumprida. Eu já venci. Os jornalistas podem trabalhar (procurando informações sobre espionagem), tudo que eu fiz foi válido. Eu não quis mudar a sociedade. Quis dar à sociedade uma chance de mudar a si mesma", declarou ao jornal americano The Washington Post, que publicou a entrevista nesta terça-feira.
"Queria que as pessoas pudessem ter participação na forma como são governadas. Isso é um marco deixado há um tempo. Agora, precisamos esticar nossas metas", analisou Snowden.
Além disso, rejeitou as acusações vertidas dos Estados Unidos, onde alguns legisladores lhe qualificaram de "traidor" e lhe acusaram de entregar documentos secretos a países como a Rússia e China.
"Não há nenhuma evidência da acusação que tenho lealdade à Rússia ou à China ou a qualquer outro país em vez dos Estados Unidos. Não tenho relação com o governo russo. Não alcancei nenhum acordo com eles", acrescentou.
Por outro lado, explicou como apresentou suas dúvidas em pelo menos duas ocasiões perante a seus superiores a magnitude dos programas de espionagem e a falta de controle, e como estas foram desacreditadas.
"Acho que o custo de um debate público franco sobre os poderes de nosso governo é menor que o suposto perigo por permitir que estes poderes continuem crescendo em segredo", declarou.
No domingo, o programa Fantástico, da TV Globo, falou com Snowden por e-mail. Na conversa, ele afirmou que aceitaria prontamente um convite para ir ao Brasil, caso recebesse uma oferta oficial de asilo.
"Se o governo brasileiro quiser defender os direitos humanos, será uma honra para mim fazer parte disso", disse ao canal brasileiro.
Sobre a possibilidade de receber asilo no Brasil, Snowden afirmou que não está em condições de colaborar com qualquer investigação brasileira sobre as escutas americanas, e tampouco condicionaria o repasse de informações à concessão de abrigo. "Eu nunca vou trocar informações por asilo, e também não acredito que o governo faria isso", disse.
semana, depois que o ex-agente divulgou no jornal Folha de S.Paulo uma "carta aberta ao povo brasileiro". O assunto chegou até a presidente Dilma Rousseff, que evitou antecipar qual seria sua posição diante de um potencial pedido de asilo por parte de Snowden. Segundo interlocutores próximos à presidente, o Brasil dificilmente aceitaria o pedido de asilo do ex-técnico da Agência Nacional de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).
"Eu não acho que o governo brasileiro tem que se manifestar sobre algo de um indivíduo que não deixa claro, não dirigiu nada para nós", afirmou Dilma, em um café da manhã com jornalistas que cobrem assuntos da Presidência. "A nós, não foi encaminhado nada, e eu me dou completamente o direito de não me manifestar sobre o que não foi encaminhado. Vou me manifestar como? Não me encaminharam nada, não me pediram nada, e mais do que isso, eu não interpreto cartas de ninguém, não é minha missão", acrescentou a presidente.
Segundo fontes da Presidência, o governo brasileiro dificilmente aceitaria o pedido de Snowden porque o Planalto não aceita a oferta de utilizar o instrumento diplomático em troca de informações, como é a proposta do ex-técnico da NSA. Além disso, há uma predisposição em não comprar uma briga maior com os Estados Unidos.
Com informações da EFE