O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou um mito desacreditado sobre um general que teria lutado contra militantes islâmicos usando "balas com sangue de porco" para comentar o ataque em Barcelona na quinta-feira.
O tuíte do presidente foi publicado horas depois que uma van avançou contra pedestres no frequentado calçadão da famosa avenida Las Ramblas, matando 13 pessoas e deixando mais de cem feridos. A polícia disse se tratar de um ataque terrorista; o motorista ainda está foragido.
"Estude o que o general Pershing dos Estados Unidos fazia com terroristas quando eram pegos", disse Trump, em referência a uma história surgida durante a Guerra Filipino-Americana.
Historiadores e checadores afirmaram que o caso nunca aconteceu.
O mito, que andou circulando pela internet, refere-se a ações do general americano John Pershing, que teria ordenado seus soldados a executar 49 de um grupo de 50 "terroristas" usando balas mergulhadas em sangue de porco. O sobrevivente então teria sido libertado para relatar o ocorrido - porcos são considerados animais impuros de acordo com o Islã.
A Guerra Filipino-Americana começou logo após o fim da Guerra Hispano-Americana, vencida pelos EUA em 1998, que passou a controlar os territórios espanhóis de Cuba, Porto Rico, Guam e Filipinas. Os filipinos, entretanto, queriam a independência total, e pegaram em armas contra os americanos.
Pershing era tenente no início deste conflito (que durou até 1902), e comandou várias batalhas contra insurgentes muçulmanos no sul do arquipélago; ele foi nomeado general mais tarde, se tornou comandante das forças americanas na Primeira Guerra Mundial e um dos nomes mais ressonantes da história militar americana.
Em seu tuíte, Trump sugere que o que Pershing fez nas Filipinas "impediu novos atos de terrorismo radical islâmico" por 35 anos.
Durante sua campanha presidencial, Trump repetiu a mesma história, mas na época ele disse que não houve uma insurgência islâmica por 25 anos - desta vez ele falou 35 anos.
A ironia de Trump ter usado um mito desacreditado na mesma semana que afirmou sempre aguardar os fatos antes de comentar atos de terrorismo não passou batida por algumas pessoas, como o jornalista Oliver Darcy.
O presidente vem sido alvo de duras críticas desde sábado, quando se limitou a dizer que "ambos os lados deveriam ser responsabilizados" pela violência ocorrida em manifestações de grupos de extrema-direita em Charlottesville no fim de semana.
Uma ativista, Heather Heyer, foi morta quando um carro em alta velocidade avançou contra uma multidão que protestava contra os grupos de extrema-direita.
Trump foi criticado até por senadores do seu próprio partido pela demora em condenar os grupos que pregam discurso supremacista e de ódio a minorias.