Em um pronunciamento inesperado, durante seu período de férias, o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu por justiça durante investigações no caso da morte do jovem negro no último sábado, que levou um tiro de um policial branco. Com informações da ABC News e agência Deutsche Welle.
Os manifestantes tomaram as ruas de Ferguson, no Missouri, na madrugada de quarta para esta quinta-feira, em mais um ato contra a morte de Michael Brown, de 18 anos. O quarto dia seguido de protestos teve coquetéis molotov jogados contra a polícia, que respondeu com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
O caso desencadeou uma série de protestos no Missouri e levanta questionamentos sobre relações raciais e o tratamento das autoridades a afro-americanos no país.
Os protestos vêm expondo, mais uma vez, quão delicada ainda é a questão racial nos Estados Unidos. Quando um policial branco atira e mata um adolescente negro, a cor da pele importa – especialmente em Ferguson, onde duas em cada três pessoas são negras e onde polícia e comunidade mantêm uma relação de constante desconfiança.
Caso cercado de dúvidas
Dos 53 policiais da cidade, apenas três são negros. "Esta é uma oportunidade para consertar o que está errado", disse o chefe de polícia Thomas Jackson em entrevista coletiva. "Estamos trabalhando para encontrar meios de nos envolvermos com a comunidade. Relações raciais são nossa prioridade máxima."
Os manifestantes criticam, sobretudo, o que consideram falta de transparência das autoridades, sobretudo por a identidade do autor dos disparos ainda não ter sido divulgada. A polícia alega que o agente recebeu ameaças de morte.
As circunstâncias exatas do que aconteceu no sábado continuam não esclarecidas. Segundo a polícia, os disparos foram feitos após uma briga entre o rapaz negor e o policial. Mas uma testemunha que acompanhava Brown afirma que ele estava desarmado e com os braços erguidos quando foi baleado. O jovem havia acabado de se formar na escola e se preparava para entrar para a universidade, dentro de poucos dias.
A morte de Michael Brown faz lembrar o caso de Trayvon Martin, o jovem negro que, mesmo desarmado, foi morto por um segurança comunitário em fevereiro de 2012, na Flórida. O caso desencadeou uma onda de protestos nos EUA e emocionou o presidente Barack Obama, que chegou a dizer que o jovem poderia ser seu filho. A família de Michael Brown será representada pelo mesmo advogado do caso Trayvon Martin.
"O assassinato é uma dolorosa lembrança da criminalização dos corpos negros e pardos, desde o momento em que são introduzidos na sociedade", escreveu o articulista Charles Blow, do New York Times.
Pouca confiança na polícia
As estatísticas do Departamento de Polícia de Ferguson mostram como é complicada a questão racial na cidade. Em 2013, por exemplo, a polícia parou 686 carros dirigidos por brancos e 4.632 por negros.
"De forma feral, todos os 'não brancos' não são devidamente representados nos departamentos de polícia", diz a jurista Delores Jones-Brown, da Faculdade de Justiça Criminal de Nova York.
Segundo ela, por isso há tão pouca confiança em cidades como Ferguson. "Policiais negros dizem que tendem a olhar para pessoas negras com menos suspeita que seus colegas", afirma a especialista.
O centro de pesquisas Pew Research sugere, num estudo do fim do ano passado, que 70% dos afro-americanos se sentem tratados pela polícia com menos justiça do que os brancos. Só 37% dos brancos concordaram. Uma sondagem do instituto Gallup, também de 2013, apontou que apenas 38% dos negros admite ter "grande" ou "bastante" confiança nos policiais, número que chega a 60% entre os brancos.
Enquanto a tensão escala, Obama, políticos e personalidades vêm apelando à calma em Ferguson. "Deveríamos consolar um ao outro de forma que cure, não que machuque", pediu o presidente americano.