Poder de matar milhões: como funciona a 'maleta nuclear' que Trump receberá em sua posse

20 jan 2017 - 10h17
(atualizado às 10h48)
Maleta que controla ataques nucleares dos Estados Unidos não sai de perto do presidente
Maleta que controla ataques nucleares dos Estados Unidos não sai de perto do presidente
Foto: Getty Images

Na sexta-feira, um assessor militar desconhecido será visto acompanhando o presidente Barack Obama até a cerimônia de posse de Donald Trump no Capitólio.

Esse militar estará carregando uma bolsa contendo uma maleta chamada "a bola nuclear". Dentro dela há um aparelho digital que mede 12,7 cm por 7,3 cm conhecido como "o biscoito".

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Ele contém os códigos de lançamento para um ataque nuclear americano. Na hora da posse, o presidente eleito já terá passado por um treinamento sobre como ativar o dispositivo. Mas no momento em que Donald Trump fizer o juramento e assumir o cargo de presidente, o assessor militar e a bolsa passarão discretamente para o lado dele.

Trump terá a autoridade exclusiva de ordenar uma ação militar que poderia provocar mortes de milhões de pessoas em menos de uma hora. A questão que passa pela cabeça de muita gente atualmente é: dados os seu temperamento impulsivo e a sua dificuldade em aceitar críticas, quais serão as salvaguardas - se elas existirem - para impedir uma decisão impetuosa sua com consequências catastróficas?

Primeiro, é preciso dizer que Donald Trump recuou em relação a alguns comentários provocativos que havia feito sobre o uso de armas nucleares. Ele disse em um comunicado recente que seria "a última pessoa a usá-las", apesar de não ter descartado totalmente seu emprego.

Outras figuras de alto escalão estão envolvidas na cadeia de comando, como o secretário de Defesa, o general da reserva James Mattis. Mas Mark Fitzpatrick, especialista em não proliferação de armas nucleares do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos em Washington, diz que, no final, a autoridade individual para lançar um ataque é do presidente.

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"Não há freios e contrapesos na autoridade do presidente para lançar um ataque nuclear", afirmou.

"Mas entre o momento em que ele autoriza um (ataque) e o estágio em que ele é realmente realizado, muitas pessoas são envolvidas".

A ideia de um presidente intempestivo tomando uma decisão monumental como essa, individualmente, não é realista.

Se ele desse a ordem, o secretário de Defesa seria obrigado a cumpri-la. Mas, em tese, ele poderia se recusar a obedecer se tivesse razões para duvidar da sanidade do presidente. Mas isso poderia ser considerado um motim e o mandatário poderia destituí-lo e encarregar o vice-secretário de Defesa a cumprir a ordem.

Donald Trump disse que os Estados Unidos deveriam says the US should "fortalecer e expandir" suas capaciades nucleares.
Foto: Getty Images

Segundo a Constituição dos Estados Unidos, o vice-presidente poderia, em teoria, declarar o presidente psicologicamente incapaz de tomar a decisão, mas para isso ele precisaria ter o apoio da maioria do gabinete de governo.

Então, como tudo ocorreria na prática?

Dentro da "bola nuclear", que nunca sai do lado do presidente, está um "livro negro" de opções de ataque. Ele pode selecionar uma delas depois de se identificar como comandante-em-chefe usando um cartão plástico especial.

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Entre o folclore de Washington, está uma história de um presidente que esqueceu seu cartão de identificação em um paletó enviado à lavanderia.

Uma vez que o presidente selecionar sua opção de ataque em um "menu" pré-estabelecido, a ordem é passada pelo presidente do grupo de Chefes de Gabinete para a sala de guerra do Pentágono e depois - usando códigos de autenticação lacrados - para o Quartel General do Comando Estratégico dos Estados Unidos na base da Força Aérea de Offutt, em Nebrasca.

A ordem para disparar é transmitida para as equipes de lançamento por meio de códigos criptografados que são comparados com códigos trancados em cofres nos locais de lançamento.

Tanto os Estados Unidos como a Rússia possuem mísseis nucleares suficientes para destruir mutuamente suas cidades várias vezes seguidas. Acredita-se que os americanos tenham 100 ogivas nucleares apontadas apenas para Moscou. Os arsenais desses dois países representam 90% do total de ogivas nucleares existentes no mundo.

Segundo dados de setembro de 2016, estima-se que a Rússia tenha 1.796 ogivas nucleares estratégicas instaladas em múltiplas plataformas de lançamentos de mísseis intercontinentais, submarinos nucleares e aviões bombardeiros estratégicos.

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Sob um programa criado pelo presidente Vladimir Putin, Moscou recentemente investiu bilhões de rublos no aprimoramento de seus mísseis nucleares. Isso inclui manter uma estrutura na qual um arsenal de mísseis balísticos ficam constantemente viajando por uma rede de túneis sob as florestas da Sibéria.

Também em setembro de 2016, os Estados Unidos tinham 1.367 ogivas nucleares distribuídas principalmente em silos de mísseis subterrâneos. Sua natureza estática os torna vulneráveis a uma primeira leva de ataque. Mas eles também estão distribuídos em submarinos nucleares, mais difíceis de detectar, e em bases aéreas (onde podem ser despachados rapidamente em aviões bombardeiros).

A Grã-Bretanha tem cerca de 120 ogivas nucleares estratégicas, das quais somente um terço está em submarinos. A Marinha Real sempre mantém uma parte dos submarinos nucleares do programa Trident espalhados por oceanos do mundo - mantendo o que se conhece por "dissuasão contínua no mar".

Mísseis intercontinentais viajam a uma velocidade superior a 27 mil km/h voando acima da atmosfera da Terra antes de mergulhar sobre seus alvos a 6,4 quilômetros por segundo.

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O tempo de voo desses mísseis entre a Rússia e os Estados Unidos é de 25 a 30 minutos. No caso de submarinos nucleares - que podem se aproximar secretamente da região costeira do país inimigo, o tempo de vôo é menor: cerca de 12 minutos.

Isso não deixa muito tempo disponível ao presidente para decidir se trata-se de um alarme falso ou um Armagedom iminente. Uma vez que um míssil nuclear tenha sido lançado, não pode retornar - e se ficar em seu silo, provavelmente será destruído pela primeira onda de ataque inimigo.

Segundo uma autoridade de alto escalão da Casa Branca, a decisão depende muito das circunstâncias em meio às quais ocorreria a ameaça.

No caso de tratar-se de uma decisão política calculada minuciosamente de realizar um ataque preventivo contra um país X, então uma grande quantidade de pessoas seria envolvida. O vice-presidente, o conselheiro de Segurança Nacional e a maior parte do gabinete do governo provavelmente estariam na sequência do processo de decisão.

Mas se houver uma ameaça estratégica iminente aos Estados Unidos, se um lançamento de míssil de uma nação hostil fosse detectado e estivesse a minutos de atingir os Estados Unidos, a fonte afirmou: "O presidente tem liberdade extraordinária para tomar a decisão individual de lançar."

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