Estados Unidos e Rússia (e, antes dela, a antiga União Soviética) são “rivais” históricos e colecionam desentendimentos ao longo dos anos, mas eles também têm algo em comum. A capital russa dá nome a 26 cidades americanas – algo que pode ser considerado no mínimo curioso.
Quem descobriu esse número foi a professora de geografia Ren Vasilyev, da Universidade Estadual de Nova York em Geneseo (noroeste dos Estados Unidos), que quando era estudante decidiu fazer uma pesquisa para descobrir quantas “Moscous” (em inglês, Moscow) existiam dentro dos Estados Unidos.
Era 1986, um período de tensão por causa da Guerra Fria entre Washington e Moscou e em tempos em que não havia internet – por isso, uma tarefa como essa exigia ainda mais trabalho de campo.
Com muita paciência, ela buscou nos livros de história dos condados onde estavam as cidades e descobriu que, na realidade, essas “Moscous” não tinham nada a ver com a famosa capital russa.
Muitas sequer tinham pronúncia igual. Na verdade, com o sotaque do sul ou com a pronúncia mais aberta do fim da palavra, fica até bem difícil de identificar a semelhança com o nome da cidade russa.
Curiosidade infantil
Os habitantes das Moscou americanas não são indiferentes ao nome dos locais onde vivem.
Esse é o caso de Jack Spaulding, da Moscou do Estado de Indiana, que desde pequeno teve curiosidade quanto à origem do nome do local onde nasceu.
“Perguntava para todos os adultos e ninguém sabia de onde aquele nome tinha vindo”, explicou Spaulding.
No entanto, ele nunca conseguiu respostas exatas – diziam ao garoto, por exemplo, que Moscou era onde as vacas (cow, em inglês) iam comer musgos (moss, em inglês) e aí se fez um jogo de palavras que acabou em “Moscou”.
“Ninguém tinha ideia de onde vinha o nome”, contou Spaulding.
Nativos americanos
Também há uma Moscou em Tennessee – essa tem uma explicação mais plausível. Acredita-se que seja a versão em inglês para uma palavra dos nativos americanos que significa “entre dois rios”.
Há outra no Kansas, que tem origem em um erro ortográfico.
As autoridades da cidade quiseram nomeá-la em homenagem ao conquistador espanhol Luis de Moscoso, mas decidiram simplificar o nome e escolheram “Mosco”.
No entanto, quando solicitaram autorização para terem um posto dos correios, os funcionários acrescentaram a letra “w” no final.
“Alguém em Washington pensou que ‘essas pessoas tontas do Kansas não sabiam o que estavam fazendo e escreveram o nome errado’ e acrescentaram o 'w'”, explicou Ren Vasilyev à BBC.
Ao fim da pesquisa, Vasilyev percebeu que a razão mais comum para que todas essas cidades levassem o nome de Moscou nos Estados Unidos é o fato de que outros nomes de lugares mais comuns já haviam sido utilizados.
“A maioria dos nomes mais populares, como Spring Valey, Springfield ou Blossom Hill já haviam sido tomados, então as pessoas começaram a buscar outros nomes exóticos, com a esperança de que ninguém os tivesse utilizado”, explicou.
Comunismo e Olimpíada
Diante de todas as tensões entre Rússia e Estados Unidos durante a Guerra Fria, só uma dessas cidades chamadas Moscou decidiu mudar de nome.
Trata-se da Moscou do Estado de Nova York, que passou a se chamar Leicester.
O resto manteve a identidade – e os moradores das Moscous americanas dizem se sentir orgulhosos.
Em 1980, a Moscou do Kansas, com uma população de 228 habitantes, tentou sediar os Jogos Olímpicos que seriam na Rússia naquele ano, boicotados pelos EUA.
A Moscou de Kansas era para se chamar Mosco, mas houve uma confusão com o nome e um 'w' foi acrescentado
Ao longo da história, pode até ser que os políticos americanos tenham se sentido incomodados ao ouvir falar de “Moscou”, mas para muitos dos “moscovitas” dos Estados Unidos ela é simplesmente a sua casa.