Por que Trump demitiu o chefe do FBI?

10 mai 2017 - 07h31
(atualizado às 10h02)
Casa Branca alegou que Comey "não estaria apto a liderar efetivamente o FBI"
Casa Branca alegou que Comey "não estaria apto a liderar efetivamente o FBI"
Foto: Reuters

O presidente Donald Trump surpreendeu os americanos na última terça-feira ao anunciar a demissão do chefe do FBI, James Comey.

Em uma nota, a Casa Branca diz que Comey foi afastado do cargo pela forma como lidou com o inquérito conduzido sobre e-mails de Hillary Clinton enviados por uma conta particular durante sua gestão como secretária de Estado americana.

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Segundo jornais americanos, Comey, de 56 anos, que estava havia três anos e meio no cargo - em um mandato de 10 anos -, estava conversando com agentes do FBI em Los Angeles quando recebeu a notícia de sua demissão - e deu risada, por achar que fosse um trote.

A notícia também causou surpresa no Congresso, mesmo entre Republicanos, e no próprio FBI.

As justificativas para a demissão, no entanto, causaram desconfiança, em particular na oposição democrata. Muitos suspeitam de que ela poderia estaria ligada a uma investigação - em andamento - do FBI sobre possíveis ligações entre a campanha eleitoral de Trump e a Rússia.

Enquanto analistas e políticos avaliam a decisão, eis aqui algumas das principais questões que serão possivelmente contempladas.

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Seria uma tentativa de acobertar detalhes sobre a ligação de Trump com a Rússia que estaria sendo investigada pelo FBI?

O momento e a forma repentina da demissão de Comey são altamente suspeitos, para dizer o mínimo.

Apenas uma semana atrás, o chefe do FBI falou perante uma comissão do Senado sobre a investigação a respeito da suposta interferência russa na eleição americana - e sobre possíveis laços do país com a campanha de Trump.

Como Trump irá responder a pergunta-chave agora: se a demissão veio por causa do caso de Hillary, por que só agora?
Foto: Reuters

Nesta quinta-feira, estava previsto seu comparecimento no Congresso para discutir "ameaças globais".

Trump tem repetido diversas vezes em sua conta no Twitter que as alegações sobre a Rússia seriam "falsas" e que as investigações seriam uma "piada bancada pelo dinheiro dos contribuintes".

E agora, o homem que comandava a investigação é mandado embora - pelo próprio Donald Trump.

Enquanto a Casa Branca diz que a demissão está ligada à forma como foi conduzida a investigação sobre o servidor dos e-mails de Hillary Clinton, não há muita gente acreditando nessa explicação - especialmente os democratas.

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Muitos têm ainda fresco na memória os elogios rasgados feitos por Trump a Comey, poucos dias antes da eleição presidencial, por esta mesma investigação dos emails da candidata democrata.

"Foi preciso coragem ao diretor Comey para tomar essa atitude diante do tipo de oposição que enfrentou...que queria protegê-la (Hillary) de um processo criminal. Ele precisou ter muita coragem", disse Trump em um comício.

Recentemente, no entanto, Donald Trump passou a se incomodar com o chefe do FBI. De acordo com o jornal The New York Times, o presidente estava buscando uma razão para demiti-lo há mais de uma semana.

Se o motivo para isso foi a investigação do e-mail de Hillary Clinton, por que a demissão só veio agora? A resposta de Trump a essa questão pode ser determinante para fazer com que as alegações de acobertamento ganhem força ou - pelo contrário - desapareçam com o tempo.

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Comey teria causado a própria demissão?

Pouco depois de o senador democrata Chuck Schumer pedir, em uma coletiva de imprensa convocada às pressas após a demissão de Comey, uma investigação independente sobre as ligações de Trump com a Rússia, a Casa Branca passou a circular uma frase dita pelo senador criticando o chefe do FBI por sua atuação no caso dos e-mails de Hillary Clinton.

"Não tenho mais confiança nele", disse Schumer, em novembro do ano passado.

Muitos dos mesmos democratas que agora criticam a demissão de Comey tiveram posicionamentos parecidos no passado - que com certeza serão lembrados agora pelos simpatizantes de Trump.

Comey cumprimenta o procurador-geral Jeff Sessions, que seria um dos autores de sua carta de demissão
Foto: Reuters

Na carta para comunicar o afastamento de Comey, o procurador-geral Rod Rosenstein disse que os "erros graves" do chefe do FBI no caso de Hillary eram "uma das poucas questões que uniam pessoas de perspectivas diferentes."

De fato, Comey surpreendeu muitos quando, em julho de 2016, anunciou que o FBI não recomendaria acusações criminais contra Hillary apesar de ela ter sido "extremamente descuidada" com um material importante. Pouco mais de uma semana antes da eleição, ele enviou uma carta ao Congresso, dizendo estar reabrindo as investigações sobre os e-mails após novas descobertas.

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Ao longo de 2016, Comey conseguiu enfurecer democratas, com sua condução inicial do caso, e depois, irritar republicanos, com sua decisão de não acusá-la, para, em seguida, desagradar novamente os democratas, pelo anúncio feito pouco antes da eleição.

Agora, pesam as críticas ligadas à investigação das ligações entre a campanha de Trump e a Rússia - primeiro, por ter ocultado a questão do público durante o período eleitoral, o que contrariou os democratas. Após a eleição, a continuidade dessas investigações passou a incomodar o governo.

Com tantos inimigos em Washington, a expectativa de vida de uma carreira política pode se encurtar drasticamente. Uma análise otimista seria a de que Comey navegou em águas difíceis da melhor forma que pôde em uma época em que as disputas políticas são cada vez mais criminalizadas.

Outra visão é a de que ele, talvez, tenha cavado sua própria cova.

Haverá uma investigação especial?

O senador Schumer pediu a convocação de uma investigação independente sobre a suposta interferência russa nas eleições dos Estados Unidos e sobre qualquer ligação com a campanha de Trump. E está cada vez mais difícil encontrar um democrata que não tivesse reforçado o apelo.

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Mas para isso realmente acontecer, os pedidos deverão vir tanto de democratas, quanto de republicanos. Até agora, os principais nomes do Partido Republicano preferiram manter silêncio.

Chuck Grassley, líder da comissão de Justiça do Senado, disse que Comey "perdeu a confiança do povo". Já o senador Lindsey Graham, que mais cedo na terça sugeriu que os vínculos de Trump com a Rússia deveriam ser investigados, afirmou que "um novo começo" seria bom para todo o país.

Outros republicanos foram mais ríspidos. O senador Richard Burr, presidente do comitê de inteligência que investiga a interferência da Rússia nas eleições, disse estar "preocupado" com os acontecimentos, enquanto o senador John McCain pediu uma investigação independente no Congresso.

O crítico de longa data de Trump Justin Amash, deputado republicano de Michigan, disse estar analisando a legislação que autoriza uma comissão independente a avaliar a questão.

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Promotores especiais e investigações independentes são a última coisa que o governo de Trump quer neste momento, No passado, investigações desse tipo acabaram se expandindo e envolvendo vários setores do governo - como no de George W. Bush (cujo governo foi acusado de ter revelado a identidade de Valerie Plame Wilson como agente disfarçada da CIA, como vingança por declarações feitas pelo seu marido, o ex-embaixador Joseph C. Wilson, criticando a invasão do Iraque) e no de Bill Clinton (o caso Whitewater, que investigou a legalidade de uma transação imobiliária realizada pelo casal Bill e Hillary Clinton quando este era governador do Arkansas, e que evoluiu para o escândalo de Monica Lewinsky, que levou a um julgamento de impeachment do presidente Clinton).

O presidente Donald Trump pode não ter escolha, e a única saída pode ser aceitar a investigação independente.

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