Depois de três noites de protestos contra a impunidade policial, cerca de cem pessoas participaram neste sábado, em Nova York, do funeral de mais um jovem negro desarmado morto por um policial branco, um novo e controverso caso que será analisado por um júri popular.
Enquanto eram aguardadas novas mobilizações durante todo o dia em Nova York, pela manhã, a Rede Aliança Nacional, do reverendo Al Sharpton, celebrou um ato no Harlem, que contou com a presença do cineasta Spike Lee, um conhecido defensor dos direitos da minoria negra americana.
Akai Gurley, de 28 anos, morreu atingido por um tiro disparado por um oficial branco nas escadarias de um conjunto habitacional do Brooklyn (sudeste de Nova York), em 20 de novembro passado. Gurley era "totalmente inocente", admitiu o chefe de polícia de Nova York, Bill Bratton.
Este caso se soma ao de Eric Garner, o homem negro de 43 anos, que morreu em julho passado em Nova York, após ser imobilizado com uma gravata por um policial branco durante sua violenta detenção, um caso qualificado de homicídio pelos médicos legistas.
Desde que um júri popular livrou do julgamento o policial Daniel Pantaleo, na quarta-feira passada, Nova York e outras cidades americanas são palco de protestos, que deixaram mais de 300 detidos na Grande Maçã em três noites.
O funeral de Gurley, que teve os custos cobertos pela prefeitura de Nova York, foi celebrado na manhã deste sábado na igreja batista Brown Memorial, do Brooklyn, com a presença de uma centena de pessoas, entre as quais estava a mãe do jovem, Sylvia Palmer, constatou a AFP.
"Pedimos que permitas que o nome do irmão Akai Gurley viva para sempre, enquanto continuamos lutando pelo que é certo neste país e neste mundo", disse o reverendo Clinton Miller, ao lado do caixão cinza metálico com o corpo do jovem.
Em meio à tensão racial gerada por este novo caso, o promotor do Brooklyn, Ken Thompson, anunciou na sexta-feira que pedirá a formação de um júri popular para analisar as evidências do que ocorreu com Gurley.
"Ele não fez nada de errado. Era um bom menino, boa pessoa, que amava sua família e sua filha", disse a mãe do jovem na sexta-feira, ao falar em público pela primeira vez, pedindo justiça.
Segundo o jornal The New York Post, o policial novato Peter Liang, que fez o disparo, mandou uma mensagem de texto pelo celular ao seu representante sindical, enquanto a vítima agonizava, caída nas escadas onde o incidente aconteceu.
Os protestos contra a impunidade policial se multiplicaram nos Estados Unidos desde a decisão, há menos de duas semanas, de um júri de Ferguson (Missouri, centro) de não levar a julgamento outro oficial branco pela morte de Michael Brown, um jovem negro de 18 anos, morto em agosto passado.
Na noite de sexta-feira, em Nova York, manifestantes entraram nas lojas da Apple, na Quinta Avenida, e da Macy's, na Herald Square, deitaram no chão e gritaram "I can't breathe!" (Não consigo respirar!), repetindo as últimas palavras de Garner, quando Pantaleo o agarrou pelo pescoço.
Outras manifestantes significativas foram celebradas em Miami, Chicago, Boston e San Francisco.
Em Washington, centenas de pessoas se reuniram no centro da cidade, repetindo em coro: "Mostre-me o que é democracia!", enquanto a polícia reforçava o cinturão de segurança em torno da Casa Branca.
Aos casos de Nova York e do Missouri se soma a morte, em 22 de novembro, de um menino negro de 12 anos, abatido a tiros por um policial que se dirigiu a um parque de Cleveland (Ohio, norte) para atender a uma chamada de emergência, segundo a qual havia no local um menor segurando uma arma, que acabou se revelando ser de brinquedo.