Quase 47 anos depois, os crimes cometidos por Charles Manson e seus seguidores no sul da Califórnia, nos Estados Unidos, ainda estão bem frescos na mente de muitos. Especialmente entre familiares das vítimas.
Alguns deles respiraram aliviados ao saber, nesta semana, que o governador da Califórnia, Jerry Brown, negou um pedido de liberdade condicional para Leslie van Houten, a discípula mais jovem de Manson.
O governador justificou sua decisão dizendo que a mulher, condenada à prisão perpétua por sua participação nos assassinatos de Leno e Rosemary LaBianca em 1969, representa "um perigo inaceitável para a sociedade se deixar a prisão".
Brown anulou assim a sentença de uma comissão de revisão do Estado, que em 16 de abril recomendou a liberdade condicional de Leslie, que era a mais jovem do grupo. Hoje, ela tem 67 anos. Tal comissão havia baseado sua decisão em fatores como:
- A idade de Leslie no momento do crime: 19 anos
- O fato de ter cometido o crime sob efeito de LSD
- O tempo que ela está na prisão: 45 anos
- Não ter cometido delitos violentos em sua vida adulta
- Bom comportamento na prisão
O governador, no entanto, argumentou que todos esses fatores perdem peso diante de fatores negativos que fazem com que Leslie não seja uma boa candidata para a liberdade condicional.
"A impactante natureza dos crimes deixou uma marca indelével na sociedade, e o motivo - desatar uma guerra racial matando inocentes ao léu - é igualmente inquietante", afirmou Brown.
Mas qual é a história de Leslie van Houten?
Jovem sociável e popular
"Sei que a dor se transmite por gerações. Quero que as vítimas saibam que estou profundamente envergonhada pelo que fiz", disse Leslie em 2002, em uma das audiências para analisar sua possível saída da prisão.
E por "pelo que fiz" Leslie se referia ao brutal assassinato de Rosemary LaBianca, que morreu apunhalada junto ao seu marido na madrugada de 10 de agosto de 1969.
Procedente de uma família de classe média do sul da Califórnia, ela era uma jovem toda como sociável e atlética - foi eleita rainha dos bailes da escola que frequentava.
No entanto, pouco a pouco ela foi entrando em um mundo mais obscuro. Segundo o advogado de Leslie, Richard Pfeiffer, essa trajetoriasua decadência começou quando seus pais se divorciaram e seus amigos teriam se afastado.
Ela então ficou grávida e sua mãe a forçou a fazer um aborto ilegal. O feto foi enterrado no pátio de sua casa. "Digam-me se isso não deixaria qualquer um transtornado?", questiona o advogado.
Nessa época, Leslie começou a experimentar maconha, haxixe e LSD.
A família Manson
No verão de 1968, a jovem conheceu Bobbe Beausoleil e Catherine "Gypsy" Share e começou a viajar com eles.
Catherine lhe falou de um homem chamado Charles Manson, que descreveu como alguém parecido com Cristo, com respostas para todas as perguntas.
Meses depois, Leslie e seus amigos estavam vivendo com Manson no rancho Spahn, nos arredores de Los Angeles.
No ano seguinte, a mensagem do pacifista de Manson mudou e passou a defender a revolução e a violência.
Segundo explicou a própria Leslie, "de repente, tudo o que fazíamos era escutar o álbum branco dos Beatles e ler o título bíblico "O Livro das Revelações".
Manson desejava uma guerra racial e tinha um estranho plano para incitá-la, começando com o assassinato da atriz Sharon Tate (esposa do diretor de cinema Roman Polanski, que estava grávida de oito meses) e outras quatro pessoas em Bel Air, em Los Angeles, em 9 de agosto de 1969.
Assassinatos
Leslie não participou desses crimes, mas, na noite seguinte, assaltou juntamente com Charles "Tex" Watson e Patricia Krenwinkel - também membros do grupo de Manson - a casa do casal Leno e Rosemary LaBianca, que tinha 44 e 39 anos, respectivamente.
Ela foi testemunha de como Watson matou Leno e admitiu ter dado facadas em Rosemary.
No final de 1969, todos os membros da "família Manson" estavam presos, acusados pelos assassinatos.
O julgamento deles se tranformou em uma espécie de circo, tanto pelo comportamento peculiar dos acusados, como pelo frenesi midiático em torno do caso.
"Peguei uma das facas, Patricia estava com outra - e começamos a apunhalar e cortar Rosemary", disse Leslie em um de seus depoimentos, acrescentando que a vítima implorou por sua vida e prometeu que não chamaria a polícia.
Em 29 de março de 1971, Leslie foi declarada culpada e sentenciada à morte. A subsequente proibição da pena de morte na Califórnia por uns meses fez com que a sentença fosse comutada automaticamente por prisão perpétua.
Um tribunal revogou a condenação em 1976 e, em um segundo julgamento no ano seguinte terminou sem acordo.
Por fim, um terceiro e definitivo julgamento, ocorrido em 1978, considerou Leslie culpada do assassinato de primeiro grau, mas a sentença de prisão perpétua dessa vez incluía a possibilidade de haver liberdade condicional.
Desde então, ela cumpre sua pena em uma prisão feminina na Califórnia. Seus advogados afirma que ela é uma prisioneira com uma conduta exemplar. Ela se formou, obteve licenciatura e mestrado e já coordenou grupos de autoajuda para as presas.
Mas os parentes do casal LaBianca e o governador Brown seguem a considerando um perigo para a sociedade. Leslie deve socilitar liberdade condicional pela 21ª vez.
Charles Watson, hoje com 81 anos, segue na prisão, assim como a de seus outros seguidores, incluindo Patricia e Watson.