O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, chegou à cidade de Ferguson nesta quarta-feira e se reuniu com moradores e funcionários do governo local para tentar reduzir as tensões e os protestos deflagrados com a morte do jovem negro Michael Brown.
Esse é o funcionário de mais alto escalão do governo Barack Obama a visitar Ferguson. A cidade, de maioria negra, tornou-se palco de manifestações e episódios de violência quase que diários desde que Michael, de 18 anos, foi morto a tiros por um policial branco.
Holder, também um afro-americano, visita a localidade do centro do país a pedido de Obama. Nesta quarta, ele anunciou que "os mais experientes agentes e promotores" foram designados para investigar a morte do rapaz, em meio às suspeitas de que a polícia local poderia tentar proteger o autor dos disparos.
"Nossa investigação é diferente", prometeu, cercado de funcionários federais, incluindo o agente do FBI (a Polícia Federal americana) encarregado do caso, William Woods, e do promotor federal Rich Callahan.
Na terça, o procurador-geral dos EUA prometeu que a investigação dos fatos será "completa, imparcial e independente, mas que levará tempo".
Um grande júri decidirá se o policial que matou Brown será alvo de um processo criminal. O caso começou a ser estudado nesta quarta-feira e, de acordo com o promotor Robert McCulloch, a decisão não deve ser anunciada antes de meados de outubro. Os manifestantes pressionam as autoridades para que o responsável pelos disparos seja acusado formalmente.
Também nesta quarta, a polícia anunciou a detenção de 47 pessoas na terça-feira à noite, em distúrbios motivados pela morte do jovem. A polícia apreendeu três armas dos manifestantes durante os protestos - os primeiros majoritariamente pacíficos após várias noites de confronto.
"Temos 47 detidos", anunciou o capitão Ron Johnson, da Patrulha Rodoviária, acrescentando que os manifestantes jogaram garrafas com urina contra a polícia no fim dos protestos, o que obrigou a intervenção policial.
Johnson insistiu em que, ao contrário dos protestos da última segunda-feira, os manifestantes não usaram armas de fogo, e a polícia não utilizou gás lacrimogêneo. "Esta noite, observamos uma dinâmica diferente".
Em relativa calma, centenas de pessoas se reuniram perto do local onde, em 9 de agosto, Brown foi morto pelo policial e exigiram que se faça justiça.
A inesperada chegada de um "trem da paz" - proveniente de um parque de diversões e que tocava a música "What's going on" do cantor negro já falecido Marvin Gaye - deu inclusive um toque festivo aos protestos.
"Não atirem!", gritaram os manifestantes, com os braços para o alto, diante das forças de segurança.
Por volta da meia-noite (2h de quarta no horário de Brasília), os policiais dispersaram a multidão que continuava nas ruas. Depois das acusações de violência dos últimos dias, os agentes não recorreram ao gás lacrimogêneo.
Anthony Gray, um dos advogados da família de Brown, disse a jornalistas que o enterro do jovem será público e contará com a presença de "líderes nacionais".
A morte de Brown ganhou dimensão nacional e reavivou o fantasma dos conflitos raciais nos Estados Unidos.
Os protestos e a violência foram se tornando cada vez mais violentos em Ferguson, desde que, em 9 de agosto, o policial branco Darren Wilson matou Brown. O rapaz estava desarmado.
Depois de uma entrevista coletiva, o presidente Obama disse ter pedido ao governador do Missouri, Jay Nixon, o uso limitado da Guarda Nacional, que havia chegado ao local na segunda-feira. Obama declarou que a polícia não tem desculpa para empregar uma "força excessiva".
A importância de elucidar a morte de Brown resultou na decisão de se realizar três necropsias. Uma foi solicitada pelas autoridades locais; outra, pela família; e uma terceira, pelo Departamento de Justiça.
O médico legista Michael Baden, que examinou o corpo do jovem a pedido de sua família, disse na segunda-feira não ter encontrado sinais de briga com o policial. Além disso, acrescentou o perito, o jovem foi atingido por pelo menos seis tiros - dois deles na cabeça.
A ausência de pólvora no corpo de Brown aponta que a pistola pode ter estado a uma distância de até dez metros, segundo Baden, que deixou claro que suas conclusões são preliminares.
A polícia indicou que, ao deter Brown, o jovem tentou tomar a arma do agente. Testemunhas relataram, porém, que, no momento em que sofreu os disparos, Brown estava com as mãos para cima e não ofereceu resistência.
Para "estabelecer um novo diálogo", o prefeito de Ferguson, James Knowles, anunciou uma série de medidas na terça-feira. Entre elas, está um programa que favorece o ingresso de mais negros na Polícia local. Dos 53 integrantes da corporação, apenas três são afro-descendentes.
Nesta quarta, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pediu ao governo que melhore o sistema de identificação de abusos policiais, que não inclui os agentes locais. A ONG também pediu ao Congresso que revogue uma lei que prevê a formação dos policiais em técnicas com perfis raciais. Vários representantes da HRW vêm denunciando a violência policial em Ferguson.