Ela era a mais jovem das seguidoras de Charles Manson condenadas pelo caso Tate-La Bianca. Uma jovem de 19 anos que parecia a mais provável a ganhar liberdade condicional um dia. Mas 44 anos depois ser presa, Leslie Van Houten, já com cabelos grisalhos e rugas no rosto, enfrenta nesta quarta-feira a sua 20ª audiência em busca da liberdade condicional.
No entanto, múltiplas forças se mobilizam para que o pedido seja novamente negado. Um promotor planeja se opor à liberdade de Van Houten citando a natureza hedionda dos assassinatos que chocaram o mundo no verão de 1969 e ocupam um lugar único nos anais do crime americano. Parentes das vítimas também viajaram para o Instituto para Mulheres da Califórnia para manifestar sua oposição ao pedido de Van Houten.
Ao contrário de audiências anteriores em que pouco falou, seu advogado, Michael Satris, diz que desta vez Van Houten pretende falar ao comitê de condicional - responsável pela decisão - e explicar que se tornou uma pessoa diferente dedicada a realizar boas ações. "Ela está vivendo uma vida de compensações por seu crime diariamente. Tudo que ela faz é para servir e beneficiar o mundo", diz o advogado.
Ele diz que Van Houten segue um conjunto de valores oposto ao de 1969, quando "estava seguindo os ensinamentos de um falso profeta". "Ela só quer ser a melhor pessoa que pode ser. E seria uma graça se o comitê de condicional concedesse a ela a chance de realizar isso do lado de fora", diz o advogado.
Van Houten já foi elogiada por trabalhar para ajudar as detentas do Instituto para Mulheres da Califórnia, onde ela e outras seguidoras de Manson estão encarceradas. Ela também já obteve dois diplomas universitários dentro da prisão.
No entanto, para ser libertada, ela precisa reverter uma tendência. Outros membros da "família" Manson tiveram repetidos pedidos de liberdade condicional negados. Um deles, Bruce Davis, chegou a ter seu pedido de liberdade condicional aprovado no ano passado, mas o governador da Califórnia, Jerry Brown, vetou a decisão em março desse ano sob a alegação de que Davis, 70 anos, precisa dar mais detalhes sobre as mortes de um dublê e de um músico. O homem não esteve envolvido nos assassinatos da atriz Sharon Davis e de outras seis pessoas.
Os assassinatos Tate-La Biana estão entre os mais notórios do século XX e continuam a atrair atenção pública. Van Houten foi condenada por assassinato e conspiração por seu papel nos assassinatos de Leno e Rosemary La Bianca, um casal de ricos comerciantes. Eles foram esfaqueados até a morte em agosto de 1969, um dia após seguidores de Manson matarem a atriz Sharon Tate, mulher grávida do diretor polonês Roman Polanski, e quatro outras pessoas: o cabeleireiro de celebridades Jay Sebring, a herdeira de um grande produtor de café Abigail Folger, o cineasta Voityck Frykowksi e Steven Parent, amigo de um trabalhador da residência de Tate.
Van Houten não participou destes assassinatos, mas estava presente quando os La Bianca foram mortos em casa no dia seguinte. Durante o seu julgamento, ela confessou ter esfaqueado Rosemary quando ela já estava morta.
Ela foi apresentada por seus advogados como a mais jovem e menos culpada dos condenados junto com Manson, uma jovem de boa família, que tinha sido princesa do baile de formatura e possuía um futuro promissor até se envolver com drogas e ser recrutada para o culto assassino de Manson.
Van Houten foi condenada junto com Manson, Susan Atkins e Patricia Krenwinkle. Todos foram sentenciados à morte, mas a pena deles foi reduzida para prisão perpétua com a possibilidade de liberdade condicional quando a pena capital foi temporariamente suspensa na Califórnia nos anos 1970.
Atkins morreu de câncer na prisão. Krenwinkle teve repetidos pedidos de liberdade condicional negados e Manson, agora com 78 anos, parou de ir a audiências e diz que deseja permanecer encarcerado porque a prisão é a sua casa. Charles "Tex" Watson, que fora o braço direito de Manson, foi condenado separadamente e teve o pedido de liberdade negado diversas vezes.
Há algumas décadas, Stephen Kay, um dos promotores originais, disse que chegaria o dia em que Van Houten estaria pronta para ser solta. Mas autoridades da condicional, ainda que reconhecendo suas realizações na prisão, negaram a liberdade a ela 19 vezes.