Um sem-teto está processando um casal nos Estados Unidos que lançou uma campanha para ajudá-lo e arrecadou mais de R$ 1,6 milhão. Johnny Bobbitt, de 35 anos, afirma que nunca recebeu o dinheiro arrecadado.
A história de Bobbit com o casal começou com um aparente gesto de solidariedade. Em outubro do ano passado, Bobbitt deu seus únicos US$ 20 (cerca de R$ 80) para ajudar Kate McClure, de 28 anos, que estava sem dinheiro quando o carro dela ficou sem gasolina no meio de uma rodovia na Filadélfia (EUA).
McClure e o namorado, Mark D'Amico, decidiram retribuir o ato generoso lançando uma campanha para ajudar Bobbitt. Por meio da plataforma GoFundMe, de "vaquinha virtual", a campanha estabeleceu como meta arrecadar US$ 10 mil (cerca de R$ 40 mil). Mas, em nove meses, cerca de 14 mil pessoas doaram mais que US$ 400 mil, ou o equivalente a R$ 1,6 milhão.
Mas a troca de gentilezas se transformou em troca de acusações que, agora, foi parar num tribunal.
Na ação, que tramita em Mount Holly, em Nova Jersey, os advogados de Bobbitt alegam que o casal usou o dinheiro da conta da campanha para "financiar um estilo de vida que eles não teriam condições de bancar".
Em entrevistas recentes, Bobbitt disse que McClure e D'Amico viajaram para a Flórida e para Las Vegas, e também compraram uma BMW nova.
D'Amico trabalha como carpinteiro e McClure é recepcionista no departamento de Transporte de Nova Jersey, de acordo com a imprensa americana.
O caso vai ser analisado por um juiz numa audiência marcada para esta quinta. Segundo informou o tribunal à BBC News, McClure e o namorado não nomearam um advogado para defendê-los.
Na semana passada, McClure disse ao jornal Philadephia Inquirer que se sentia frustrada e traída, e que ela ainda queria ajudar o sem-teto.
"Não quero perder meu trabalho por isso", afirmou, chorando, ao jornal.
Roupas, trailer e brigas
Quando a meta inicial de arrecadação foi alcançada, o casal escreveu no site da campanha que iria criar dois fundos para Bobbitt e contratar um advogado, além de um consultor financeiro para ajudá-lo a administrar o dinheiro.
McClure e D'Amico disseram que deram roupas e permitiram que ele estacionasse o recém-comprado trailer ao lado da residência do casal. Mas, depois, teriam pedido a ele que saísse dali.
Bobbitt afirma que eles venderam o trailer, apostaram em jogos de azar parte do dinheiro e se recusaram a mostrar o extrato de quanto havia sido arrecadado ou gasto.
McClure e D'Amico, por sua vez, alegam que Bobbitt consumiu o equivalente a R$ 100 mil em drogas em apenas 13 dias.
Drogas
"Cada dólar em que ele encostou foi usado com drogas", afirmou D'Amico a um programa da rede de televisão americana NBC. Ele disse, ainda, que está disposto a autorizar que um contador revise como o dinheiro foi gasto e o quanto ainda está disponível.
O casal havia prometido que Bobbitt não dormiria ao relento novamente quando agradeceu, no site da campanha, as doações feitas. Informou ainda que "a primeira coisa na lista é uma casa nova para Johnny ser dono", diz o texto.
Mas Johnny Bobbit, que é um ex-militar, voltou a morar nas ruas com o irmão caçula.
Em uma entrevista ao Philadelphia Inquirer, ele disse que pedir trocados para comprar drogas é mais fácil que tentar pegar o dinheiro da campanha lançada pelo casal.
Mais de R$ 600 mil
A advogada de Bobbitt, Jacqueline Promislo, disse à BBC News que não está cobrando para defendê-lo e que trabalha para garantir que ele se beneficie das doações de milhares de pessoas que não queriam que ele vivesse nas ruas.
Segundo Promislo, estima-se que o casal tenha usado o equivalente a R$ 300 mil com Bobbitt e que ainda restam cerca de US$ 150 mil (mais de R$ 600 mil) do dinheiro arrecadado. A advogada afirmou ainda que tentou evitar levar o caso à Justiça e que não cabe ao casal decidir como o dinheiro deve ser gasto.
"Todo mundo que ouvi, por email ou telefone, está chateado e quer muito que Johnny Bobbitt receba o dinheiro que doado para ele".
Um porta-voz da plataforma GoFundMe disse que está avaliando as acusações de mau uso do dinheiro arrecadado. "Vamos trabalhar para garantir que Johnny receba a ajuda que ele merece e que a vontade de quem doou seja honrada."