O ex-agente da técnico americano que revelou os programas de monitoramento das telecomunicações usados pela inteligência americana, Edward Snowden, afirmou, em uma entrevista divulgada nesta terça-feira, que escolheu expor os detalhes da vigilância dos Estados Unidos a jornalistas que disseram não ter medo de assuntos polêmicos.
Na entrevista ao jornal The New York Times, Snowden disse que escolheu a documentarista Laura Poitras e o repórter do jornal britânico The Guardian, Glenn Greenwald, porque eles não se intimidaram diante do governo americano.
"Depois do 11 de setembro, muitas das agências de notícias americanas mais importantes deixaram de lado seu papel - a responsabilidade jornalística de desafiar os excessos do governo - devido ao medo de serem vistas como antipatrióticas e punidas no mercado durante um período de elevado nacionalismo", teria dito Snowden em uma conversa criptografada com o jornalista Peter Maass, do Sunday Times.
"Laura e Glenn estão entre os poucos que relataram sem medo temas polêmicos nesse período, mesmo diante de críticas pessoais, o que, inclusive, fez com que Laura se tornasse alvo dos próprios programas revelados recentemente", explicou.
Snowden disse que Poitras "demonstrou a coragem, a experiência pessoal e a habilidade necessárias para lidar com o que é, provavelmente, a tarefa mais perigosa que pode ser dada a qualquer jornalista - relatar crimes secretos do governo mais poderoso do mundo -, o que fez dela uma escolha óbvia".
Snowden, que recebeu asilo temporário na Rússia depois de passar mais de cinco semanas em uma zona de trânsito do aeroporto de Moscou, estaria, de acordo com seus advogados, em um local secreto.
Os Estados Unidos querem julgar o ex-técnico por ter vazado detalhes dos vastos programas de vigilância americanos, mas Moscou se recusou a entregá-lo.
Snowden, que trabalhou como terceirizado para a inteligência americana, divulgou detalhes dos programas secretos da Agência Nacional de Segurança para combater o terrorismo, que acessavam uma enorme quantidade de dados telefônicos e da Internet.
Ele disse que quando encontrou os dois jornalistas em Hong Kong para a entrevista, percebeu que "eles estavam irritados por eu ser mais jovem do que o esperado, e eu estava incomodado porque eles chegaram muito cedo, o que atrapalhou a verificação inicial".
"Poitras ficou mais desconfiada de mim do que eu dela. E eu sou paranoico", acrescentou.
Snowden disse ainda que ficou surpreso quando Greenwald recusou seus pedidos para encriptar todas as comunicações.
"Fiquei surpreso ao perceber que havia pessoas nas empresas jornalísticas que não sabiam que qualquer mensagem não criptografada enviada através da internet seria entregue a todos os serviços de inteligência do mundo. Na esteira das revelações deste ano, deve ficar claro que uma conversa não criptografada entre um jornalista e sua fonte é imperdoável e imprudente", concluiu.