O ex-consultor americano de Inteligência Edward Snowden revelou que era "um espião treinado" e trabalhou "como agente infiltrado no exterior" para o governo dos Estados Unidos, segundo estratos de uma entrevista divulgados nesta terça-feira pela rede NBC.
Em seu primeiro encontro com a mídia americana, Snowden negou a versão de que era um mero prestador de serviços para a Agência de Segurança Nacional (NSA), e afirmou que trabalhava em "todos os níveis" da Inteligência.
Snowden, acusado por Washington de vazar informações secretas, obteve asilo na Rússia em agosto de 2013, após abalar o sistema de Inteligência americano com a revelação de que os Estados Unidos utilizam espionagem eletrônica contra todos, incluindo seus aliados ocidentais, através da NSA.
Na entrevista, gravada na semana passada e que será divulgada nesta quarta-feira, Snowden afirma que foi "treinado como espião no sentido tradicional da palavra". "Vivi e trabalhei como infiltrado no exterior, sob a fachada de um trabalho que na verdade não realizava. Inclusive utilizei um nome que não era o meu".
Snowden revela que além da NSA, trabalhou como "especialista técnico" para a CIA e como "assessor" da agência de Inteligência da secretaria de Defesa.
"Trabalhei para as informações militares, como professor na Academia de Contraespionagem, onde desenvolvi as fontes e os métodos para pôr em segurança as nossas informações e os nossos cidadãos nos pontos mais hostis do planeta”, disse o analista.
"Não trabalhei com pessoas, não recrutei agentes, mas coloquei em funcionamento sistemas que trabalham para os Estados Unidos, e fiz isto em todos os níveis, do mais baixos aos mais altos", acrescentou.
Snowden disse durante a entrevista ao programa Nightly News que culpa o Departamento de Estado americano por seu asilo na Rússia. "Eu estou surpreso de que eu tenha vindo parar aqui, eu nunca tive a intenção de vir para a Rússia", disse ele. "Eu tinha reservado um voo para Cuba e eu fui impedido porque o governo americano decidiu anular o meu passaporte e me prender no aeroporto de Moscou", destacou.
"Para um cara supostamente inteligente, essa é uma reposta bem estúpida, francamente", disse em resposta, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, durante uma entrevista ao programa Today. "Se o Senhor Snowden quer voltar aos Estados Unidos hoje, providenciaremos um voo para ele hoje; nós ficaríamos encantados se ele voltasse, ele deveria voltar, é o que um patriota faria".
Segundo Kerry, Snowden expôs aos terroristas vários mecanismos que agora afetam as operações de organizações que espalham o terror, o que torna ainda mais difícil para os Estados Unidos desvendar e impedir planos terroristas e proteger o país.
"O fato é, se ele se importa tanto com os Estados Unidos e acredita nos Estados Unidos, ele deveria acreditar no sistema de justiça americano, mas para estar escondido na Rússia, um país autoritário, e ter admititido ter tentado entrar em Cuba, o que isso lhe diz? Acho que ele está confuso, isso é muito triste", ressaltou Kerry.
As revelações sobre o programa global de vigilância da NSA causaram grande mal-estar no governo dos Estados Unidos e em seus aliados, como Brasil e Alemanha, depois que vieram à tona informações de que Washington havia espionado conversas de alguns líderes mundiais, incluindo a presidente Dilma Rousseff e a chanceler alemã, Angela Merkel.
Com informações da AFP, Agência Brasil e NBC.