A Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) monitorou as comunicações de outros governos antes e durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Copenhague (COP15), em 2009, de acordo com informações vazadas pelo ax-agente da agência americana, Edward Snowden, e publicadas pelo Huffington Post.
O documento, que tem trechos marcados com “top secret”, indica que a NSA estava monitorando as comunicações de outros governos antes do início do encontro e que pretendia continuar com a ação durante o evento.
Postado no site da agência no dia 7 de dezembro de 2009, primeiro dia da conferência, o documento afirma que “analistas aqui na NSA, assim como nossos parceiros, continuarão a providenciar (...) conteúdos valiosos, únicos e em tempo real, assim como deliberações dos países sobre políticas de mudança climática e estratégias de negociação”.
Os parceiros se referem às agências de inteligência do Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, com quais os Estados Unidos mantêm uma relação de cooperação e compartilhamento de inteligência.
Enquanto o futuro da conferência “continua incerto, sinais de inteligência sem dúvida irão ter um significante papel em manter nossos negociadores o mais informados possível durante o evento de duas semanas”, diz o documento da NSA.
O Huffington Post publicou os dados providenciados por Snowden na noite dessa quarta-feira em coordenação com o jornal dinamarquês Informação, que contou com o trabalho da jornalista americana Laura Poitras.
Caitlin Hayden, porta-voz da NSA, se recusou a comentar o conteúdo do documento vazado por Snowden, mas disse, segundo o Huffington Post, que “o governo americano deixou claro que os Estados Unidos reúnem inteligência estrangeira do tipo reunido por todas as nações”. Hayden ainda citou uma declaração do presidente Obama do dia 17 sobre a NSA, quando o líder afirmou que “expôs uma série de reformas concretas e substanciais que a administração irá adotar ou buscará codificar com o Congresso”.
Expectativas
A COP15 reuniu delegações de mais de 195 países para negociar medidas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e o seu impacto. O encontro em Copenhague foi a primeira grande reunião sobre o clima após a eleição do presidente americano Barack Obama, e reunia grandes expectativas antes de seu início.
Outros países desenvolvidos já eram signatários do Protocolo de Kyoto, de 1997, mas os Estados Unidos, o maior emissor de gases do efeito estufa quando o protocolo entrou em vigor, em 2004, tinham se recusado a assinar e aderir ao projeto. Dessa forma, esperava-se que a COP15 produzisse um documento que sucedesse o de Kyoto e incluísse países como Estados Unidos, China e Índia.
O documento da NSA indica que a agência planejava reunir informações sobre os líderes mundiais e suas equipes, que mantinham encontros privados durante a conferência. “Líderes e times de negociação de todo o mundo irão sem dúvida estar envolvidos em formulação de políticas de última hora; ao mesmo tempo, eles terão discussões com parceiros – cujos detalhes são de nosso grande interesse”, diz o texto vazado por Snowden.
Esse documento, com os dados recolhidos, provavelmente seriam usados para informar as autoridades americanas presentes na conferência, como a então secretária de Estado, Hillary Clinton, e o próprio presidente Obama, entre outros da delegação de Washington.