Bradley Manning, responsável pelo maior vazamento de documentos confidenciais da história dos Estados Unidos, sofria de um "desequilíbrio mental" ligado à sua identidade sexual, que lhe causava episódios de cólera, mas nunca perdeu o acesso a arquivos sigilosos, disse seu supervisor, nesta terça-feira.
Durante uma audiência na base de Fort Meade, norte de Washington, destinada a estabelecer a pena que será imposta ao jovem soldado por atos de espionagem, o sargento Paul Adkins contou que uma vez encontrou o analista de inteligência em posição fetal no chão, com uma faca entre os pés. Depois de conversar com o subordinado, o sargento disse a ele para voltar a trabalhar. Horas mais tarde, ele agrediria um outro militar.
Atkins também explicou à juíza militar Denise Lind que havia escrito um relatório para um psiquiatra, no qual suspeitava de um "desequilíbrio mental" de Manning, devido a seus ataques de raiva e a um possível estresse pós-traumático.
Em contrapartida, nunca escreveu qualquer boletim sobre esses incidentes para afastar Manning de suas funções, pois precisava dele para avaliar as ameaças dos militantes xiitas no Iraque. "Continuava achando que produzia relatórios válidos sobre as ameaças, as quais era encarregado de analisar", explicou.
O sargento também não informou a seus superiores ou aos psicólogos a respeito de um e-mail que Manning tinha enviado para ele, contando aspectos de sua identidade sexual. Em 2010, se alguém revelasse sua opção sexual ainda poderia ser dado baixa do Exército dos Estados Unidos.
Nesse e-mail, cujo título era "Meu problema", Manning contava sua ansiedade, além de enviar em anexo uma foto sua vestido de mulher, com peruca e os lábios pintados. "Nesse momento, achava que ter uma foto de um dos meus soldados vestidos de mulher circulando não estava dentro dos melhores interesses da missão", justificou.
Por ter transmitido mais de 700 mil documentos para o site WikiLeaks, incluindo relatórios das atividades militares americanas no Iraque e no Afeganistão, além de correspondências diplomáticas, Bradley Manning pode ser condenado a até 90 anos de prisão.
Para obter a condenação mais leve possível, seu advogado David Coombs tenta mostrar as falhas na cadeia de comando do jovem, que não conseguiram evitar o "Cablegate".