Tea Party e democratas se unem contra plano de inteligência de Obama

14 jun 2013 - 17h25
(atualizado às 17h33)

O Tea Party e a ala mais progressista do Partido Democrata americano raramente chegam a um acordo sobre o que quer que seja, mas no momento concordam em exigir do presidente Barack Obama mais transparência sobre os programas de registros telefônicos que escandalizaram a opinião pública há uma semana.

Essa confluência de interesses bagunçou a tradicional oposição entre democratas e republicanos, em uma semana movida pelas revelações de Edward Snowden, um ex-analista de inteligência da agência de espionagem americana, hoje refugiado em Hong Kong.

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Ambos os grupos aproveitaram as audiências dos diretores da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) e do FBI para questionar os líderes democratas e republicanos do Congresso que foram informados secretamente sobre todos os detalhes dos programas de inteligência.

"O simples fato de alguns congressistas tenham sido informados em nível confidencial não é sinônimo do nosso apoio", disse o democrata John Conyers a Robert Mueller, chefe do FBI desde 2001. Conyers é um dos congressistas mais à esquerda na Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

Obama defende "programa de vigilância" do governo
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"Não se trata de uma preocupação partidária, aplica-se tanto a essa administração quanto à anterior", frisou, acrescentando: "Por causa desses atos da NSA e do FBI, temo que estejamos nos transformando em um Estado policial".

Horas mais tarde, o republicano Rand Paul, admirador incondicional do filósofo Ayn Rand, venerado pelos libertários, anunciou que entrará na Justiça com uma ação coletiva contra a NSA por abuso de poder.

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"Eu quero capturar os terroristas tanto quanto qualquer americano", argumentou Paul, acompanhado de congressistas do Tea Party e de um dirigente da American Civil Liberties Union (ACLU), organização considerada de esquerda. "Mas o que nos distingue deles é o Estado de direito", completou.

"É uma aliança incomum, isso é certo", disse o professor de Ciência Política da Universidade George Washington Christopher Arterton. Mas "sempre houve áreas de entendimento entre ambos os extremos do campo político sobre o poder do Estado federal", afirmou.

Segundo o acadêmico, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) foi criado em 1913, e o padrão ouro passou a valer nos Estados Unidos, no final do século XIX, o movimento de oposição também transcendeu as correntes tradicionais. No Congresso, porém, esses legisladores não controlam a ordem do dia. Os líderes dos partidos habilitam o debate, mas não a revolução.

A verdade é que a opinião pública americana está longe de se escandalizar. Uma maioria desaprova a coleta sistemática de informação sobre suas chamadas telefônicas, de acordo com pesquisa realizada pelo Gallup (53%), e outra feita pela rede CBS (58%). Quando a pergunta formulada evoca a luta antiterrorista, as maiorias se invertem.

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Pelo menos 56% das pessoas consultadas pelo Pew Institute consideram "aceitável" coletar registros telefônicos "para investigar o terrorismo", contra 41% que consideram o contrário.

"Em tese, os americanos desaprovam os programas de coleta de dados, mas uma maioria está disposta a aceitá-los em certas circunstâncias para combater o terrorismo", explicou à AFP o chefe de redação do Gallup, Frank Newport. "Quando os americanos não se sentem seguros e se trata de um problema complexo, as respostas mudam", completou.

Todas as legislações sobre espionagem hoje questionadas têm sido aprovadas desde 2001 por amplas maiorias. Em 2008, por exemplo, o então senador Barack Obama votou em favor da lei que criou o programa de espionagem Prism sobre as comunicações de estrangeiros pela internet.

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