Cientistas disseram estar mais perto do desenvolvimento de uma vacina viável contra o ebola, após resultados promissores de um teste de fase 1, mas advertiram que ainda serão precisos meses antes de seu uso em campo, revela nesta quarta-feira o New England Journal of Medicine.
A notícia vem à tona em meio à pior epidemia na história da febre hemorrágica, que até agora matou cerca de 5.500 pessoas, a maioria no oeste da África, e enquanto empresas farmacêuticas e agências de saúde lutam contra o tempo para aprovar rapidamente remédios experimentais e vacinas que possam auxiliar a conter o surto.
Na primeira fase de testes, 20 adultos saudáveis tomaram injeções, divididas em doses maiores e menores da vacina, e todos desenvolveram os anticorpos necessários para combater o ebola, informaram os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), que conduziram o estudo.
"A escala sem precedentes da epidemia atual de ebola no oeste da África intensificou os esforços para se desenvolver vacinas seguras e eficazes", disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), que desenvolve a vacina em conjunto com o laboratório GlaxoSmithKline.
As vacinas em desenvolvimento "podem agir para por um fim a esta epidemia e, sem dúvida, serão criticamente importantes na prevenção de futuros grandes surtos", observou.
"Com base nestes resultados positivos obtidos no primeiro teste com humanos desta candidata a vacina, aceleramos nossos planos para a realização de testes mais amplos a fim de determinar se a vacina é eficaz na prevenção da infecção por Ebola", acrescentou.
Mas a vacina do NIAID/GSK ainda está longe de ser testada em campo.
O NIAID está "em ativa discussão com autoridades liberianas e outros parceiros sobre o próximo estágio dos testes com a vacina no oeste da África" para sua eficácia e segurança, acrescentaram os NIH, mas nenhum anúncio sobre testes de larga escala eram aguardados antes do início do ano que vem.
Não existe tratamento ou vacina licenciada contra o vírus Ebola, que é transmitido pelos fluidos corporais e costuma ser fatal em cerca de 70% dos casos no caso da epidemia atual.
Os voluntários começaram a tomar as injeções em setembro e cada um teve resultado positivo para os anticorpos do Ebola em exames de sangue realizados ao longo de quatro semanas.
Os 10 pertencentes ao grupo que tomou a dose mais elevada desenvolveram níveis de anticorpos mais altos, acrescentaram os NIH.
Além disso, duas pessoas do grupo que tomou a dose mais baixa e sete do que recebeu a dose mais alta desenvolveram células imunológicas do tipo CD8 T, que são importantes na resposta do corpo à doença.
"Sabemos, a partir de estudos anteriores com primatas, que as células CD8 T desempenharam um papel crucial na proteção dos animais" que tomaram a vacina e, então, foram expostos ao Ebola, disse a pesquisadora Julie Ledgerwood, principal encarregada do teste.
Nenhum dos voluntários apresentou efeitos colaterais sérios no período de estudos, ainda que dois tenham tido febre moderada por um breve período, 24 horas após aplicada a injeção.
A vacina utiliza um vírus modificado de gripe que afeta chimpanzés para abrigar segmentos do material genético do vírus Ebola.
O material genético não consegue se espalhar pelo corpo como faz o vírus integral, mas ainda é capaz de ativar resposta nos anticorpos.
A versão testada nos NIH contém material de dois subtipos de Ebola: o do Zaire, responsável pela epidemia atual no oeste da África, e outra chamada Ebola do Sudão.
Uma segunda versão da vacina, desenvolvida para bloquear apenas o Ebola do Zaire, também teve os testes iniciados em outubro na Universidade de Maryland.
Outra vacina experimental que apresentou resultados promissores em primatas foi a canadense VSV-EBOV, licenciada pela empresa americana NewLink Genetics. Ela também está nos estágios iniciais de testes em humanos.