George Soros é um filantropo bilionário, ex-operador do mercado de câmbio, um campeão liberal e - em alguns ambientes - um bicho-papão. Ele se sente honrado por este último título. "Estou muito orgulhoso dos inimigos que tenho", afirmou. "É uma maneira perfeita de distinguir um ditador ou um possível ditador quando ele me identifica como inimigo".
A lista de pessoas que parecem considerar Soros, 89, um inimigo inclui o presidente Donald Trump, o governo da China, e um incontável número de teóricos da conspiração. As objeções destas pessoas a Soros baseiam-se em seu apoio a causas liberais e a grupos de financiadores políticos que se opõem a Trump, e à sua Open Society Foundation, que apoia a democracia e os direitos humanos em cerca de 120 países, muitas vezes opondo-se a regimes autocráticos.
Há também uma quantidade substancial de antissemitismo dirigida contra Soros, que nasceu em uma família judia na Hungria. Soros admite que a sua visão de "globalismo" - que ele entende como uma economia global, integrada, baseada no governo da lei - não é a favor da estratégia "Estados Unido em primeiro lugar" de Trump, da guerra comercial, do Brexit e da escalada da guerra no Oriente Médio.
Mas Soros acredita que o arco da história poderá mudar de rumo. "Trump é uma aberração, e ele coloca claramente os seus interesses pessoais à frente dos interesses da nação", afirmou. "É fato". O seu rosto se iluminou, e ele disse: "Acho que contribuirá para o seu fim no próximo ano. Por isso estou prevendo de certo modo que as coisas mudarão". Soros vê sinais de que as pessoas estão ficando cansadas dessas tendências nacionalistas. E que a controvérsia a respeito da liberdade de expressão da Associação Nacional de Basquete dos EUA (NBA) demonstrou ao mundo quão perigosas podem ser as sociedades fechadas.
"Considero a China de Xi Jinping a maior ameaça a uma sociedade aberta", falou a respeito do presidente da China, repetindo uma declaração que fez este ano em Davos, na Suíça. Há muito ele encoraja o livre comércio como uma estratégia de abertura para países fechados, mas afirmou que a estratégia não funcionou na China como ele esperava e que seria necessária uma intervenção maior. E declarou ainda que a China é "um inimigo mortal."
"Devemos reconhecer o fato: É um sistema diferente. Totalmente oposto ao nosso, diametralmente oposto ao nosso ", afirmou. E talvez para explicar melhor, acrescentou: "Não sou absolutamente contrário à China, sou contrário a Xi Jinping". Aludindo à famosa citação do reverendo Martin Luther King: "O arco do universo moral é longo, mas ele se curva na direção da justiça". Soros discordou da ideia de que as sociedades estão predispostas à abertura. "O arco da história não segue um curso próprio. Ele precisa ser curvado", ele disse, "Estou realmente empenhado em procurar curvá-lo na direção certa". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA