A Rodovia Nacional 44 na Índia tem uma reputação triste. A estrada liga o norte e o sul do país e é apontada como uma das principais causas de morte de moradores de vilarejos que ficam próximos da rodovia, no sul do país.
Um destes vilarejos é Peddakunta, que fica às margens da rodovia 44. É fácil encontrar o local, pois é conhecido como "vila das viúvas da estrada".
Peddakunta tem 35 casebres e famílias, mas há apenas um homem adulto. Outros 30 morreram e três abandonaram a vila.
"Não sobraram homens aqui", disse Mohammed Dastagir, de 65 anos, dono de uma loja de cigarros perto da estrada que leva ao vilarejo.
"A sede (do governo) da vila está do outro lado da estrada. Todo mundo precisa atravessar para conseguir que o governo execute qualquer tipo de serviço - e muitos não voltam. A morte mais chocante foi há alguns meses quando um morador de um vilarejo próximo veio até o escritório do governo com uma petição por causa do alto número de mortes e morreu quando voltava", acrescentou.
Na vila, Korra Sakini, de 44 anos, perdeu o filho em um acidente na estrada há três anos. O marido dela morreu atropelado meses depois, no mesmo lugar, onde o caminho que vem da vila encontra a rodovia movimentada.
"Não tenho dinheiro, nem família, trabalho e nada para viver. Os deuses nos amaldiçoaram. Nenhum homem vai viver muito em nossa vila. A estrada é só um veículo que leva o nosso destino", afirmou.
"Estamos fadadas a esperar nossa morte e sermos conhecidas como a vila amaldiçoada das viúvas da estrada. Políticos e autoridades do governo chegam, principalmente depois que vocês jornalistas escrevem (sobre a vila). Mas nenhuma de nós ganhou uma rúpia sequer até agora", acrescentou Korra em entrevista à BBC.
Quando a rodovia chegou à cidade, há cerca de uma década, também foi aprovada uma verba para construir uma passagem para pedestres.
Esta passagem seria uma rota segura para o outro lado da estrada. Mas, nunca foi construída.
Com isso, os moradores do vilarejo precisam atravessar as quatro pistas da estrada para coletar os pagamentos mensais de aposentadoria ou trabalhar nos outros vilarejos próximos.
Último homem
Thariya Korra é o único homem adulto ainda vivo na vila, mas ele é viúvo. A mulher morreu atropelada na estrada.
Desde então ele cuida sozinho do filho de cinco anos.
"Primeiro veio a estrada. Não trouxe prosperidade, apenas morte. A fábrica nas proximidades veio depois. Nos prometeram água, centro de saúde e empregos. Nada aconteceu", disse à BBC.
"Eles não conseguiram fazer com que vendêssemos nossas terras para uma fábrica. Eles nunca vão construir um acesso (de pedestres). Quando todos nós estivermos mortos, eles poderão tomar as terras."
Com isso, Peddakunta é um dos vilarejos mais pobres da região. Alcoolismo e analfabetismo estão entre os principais problemas.
Anchan, de sete anos de idade, é uma das apenas cinco crianças da vila que frequentam uma escola próxima.
"Ficamos com medo quando eles se atrasam. Já tivemos muito o que lamentar e nada para comemorar", disse a mãe de Anchan.
Muitas das mulheres são obrigadas a se prostituir para conseguir dinheiro, ou, às vezes, em troca de comida.
Korra Panni conta a história sem nenhum vestígio de emoção.
"O que podemos fazer? Depois de quase todos os homens da vila morrerem, ficamos desamparadas. Homens de outros vilarejos vêm aqui nos procurando."
Nenavath Rukya perdeu o marido, três filhos e um genro na estrada. Homens de vilarejos próximos começaram a assediar a nora e, por isso, Nenavath teve que mandá-la de volta para a vila onde moram os pais dela.
"Queremos mandar todos nossos filhos para albergues do governo, para que eles possam viver", disse.