O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniu nesta segunda-feira (31) para debater a escalada de tensões na Ucrânia, em um encontro marcado pelo embate entre os Estados Unidos e a Rússia.
O governo americano, que ameaça adotar sanções contra os russos, incluindo o próprio presidente do país, Vladimir Putin, tenta ao lado de suas aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) convencer a Rússia a não invadir o território ucraniano.
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield e o diplomata russo, Vassily Nebenzia, se revezaram para trocar acusações durante o conselho. A americana justificou o encontro afirmando que os mais de 100 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia "ameaçam a segurança internacional".
"Imagine como eles ficariam desconfortáveis se tivessem 100 mil soldados posicionados em sua fronteira. Não se trata de brincadeira, não se trata de retórica, não se trata de Estados Unidos e Rússia", disse ela.
Thomas-Greenfield enfatizou que o contingente russo "é a maior mobilização de tropas na Europa em décadas", além de acusar a Rússia de querer enviar "no início de fevereiro mais de 30 mil soldados para a Belarus, perto da Ucrânia".
"Nenhum de nós pode dizer que não previmos isso", alertou ela.
"Buscamos o caminho da paz. Procuramos o caminho do diálogo. Não queremos confronto. Mas seremos decisivos, rápidos e unidos se a Rússia continuar a invadir a Ucrânia", enfatizou a diplomata americana.
O embaixador da Rússia na ONU, por sua vez, assegurou que com a convocação da reunião, os EUA pretendem gerar "histeria e enganar a comunidade internacional com acusações infundadas" sobre um suposto ataque de Moscou à Ucrânia.
Em seu discurso, Nebenzia agradeceu à China e aos três países que se abstiveram de votar para a realização do encontro e afirmou que o "posicionamento de tropas em nosso próprio território" não significa que haverá um "ato de agressão" e não "há necessidade de histeria".
"Não há evidências" de que a invasão esteja ocorrendo, disse Nebenzia, que rejeitou as acusações reiterando a posição de Moscou e deixou o tribunal antes que a Ucrânia tomasse a palavra para uma reunião com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Antes disso, o embaixador russo pediu respeito aos acordos de Minsk, que visam acabar com os combates no leste da Ucrânia e foram assinados em 2015 pelos líderes da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França. Além disso, ele propôs uma nova reunião do Conselho de Segurança no dia 17 de fevereiro.
"Não estamos surpresos com as palavras da Rússia, mas estamos decepcionados. Mas suas ações falarão por si mesmas", rebateu Thomas-Greenfield.
Na sequência, a Casa Branca publicou um comunicado com declarações do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre o Conselho da ONU. De acordo com o democrata, seu governo apresentou em detalhes "a total natureza da ameaça da Rússia à soberania e à integridade territorial da Ucrânia".
Biden reforçou que, caso os russos sejam sinceros sobre o interesse em responder a preocupações de segurança por meio de diálogo, os Estados Unidos e seus aliados "continuarão a se engajar de boa-fé". Caso contrário, porém, se a Rússia rechaçar a diplomacia e atacar a Ucrânia, o país "enfrentará a responsabilidade, e haverá consequências rápidas e severas".
A Ucrânia pediu que a Rússia retire suas tropas e mantenha o diálogo com os países ocidentais se "realmente" quiser reduzir a tensão. Em meio a esse cenário, Moscou anunciou que o seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, falará por telefone na próxima terça-feira (1º) com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
Ontem, inclusive, Blinken conversou com o ministério das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e abordou, entre outros temas, a escalada de tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia.
De acordo com o Itamaraty, França defendeu uma "solução diplomática" para a crise, e os dois concordaram com a necessidade de dimunuição da tensão na região, destacando a "importância" do Conselho de Segurança da ONU nessa tarefa.
Neste ano, o Brasil voltou a ocupar um assento não-permanente no conselho. "O Ministro Carlos França recebeu hoje telefonema do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Ao abordarem a situação na Ucrânia, os ministros concordaram na necessidade de desescalada das tensões e de uma solução diplomática para a crise. Reconheceram a importância do Conselho de Segurança nesse processo", diz o comunicado do Itamaraty.