A320: crítica à depressão de copiloto preocupa especialistas

Copiloto de avião escondeu doença não identificada, segundo promotores alemães

28 mar 2015 - 08h29
(atualizado às 18h43)
O copiloto do voo da Germanwings, Andreas Lubitz, em foto de arquivo tirada durante meia maratona em 2009.   12/09/2009
O copiloto do voo da Germanwings, Andreas Lubitz, em foto de arquivo tirada durante meia maratona em 2009. 12/09/2009
Foto: Foto-Team-Mueller / Reuters

Nas manchetes de jornais em todo o mundo aparece a afirmação de que o copiloto do avião da Germanwings, Andreas Lubitz, sofria de depressão.

O tablóide britânico Daily Mail, no entanto, foi mais além: "Piloto suicida tinha longo histórico de depressão – por que o deixaram voar?"

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Ainda não se sabe exatamente o que aconteceu nos momentos finais do voo 4U 9525. O que sabemos é que na terça-feira, o avião foi deliberadamente pilotado para uma colisão nos alpes franceses, matando 150 pessoas.

Na sexta-feira, os investigadores revelaram que atestados médicos rasgados foram encontrados na casa de Lubitz, inclusive um para o dia do acidente, que a Germanwings diz não ter recebido.

Um hospital alemão confirmou que ele havia recebido tratamento médico em março e no mês passado, mas negou que o problema em questão fosse depressão.

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Ainda não se sabe exatamente o que aconteceu nos momentos finais do voo 4U 9525
Foto: Wolfgang Rattay / Reuters

A teoria de que uma doença mental teria afetado o copiloto ganhou espaço na mídia alemã, que cita documentos da autoridade nacional de aviação. Os documentos teriam dito que Lubitz sofreu um sério episódio depressivo durante seu treinamento para ser piloto em 2009.

No entanto, jornais britânicos que ligaram os problemas mentais de Lubitz a suas ações estão sendo acusados por especialistas e leitores de serem "simplistas demais".

'Tenho depressão e não quero matar pessoas'

Três dos principais grupos ativistas de saúde mental da Inglaterra – Mind, Time to Change e Rethink Mental Illness – divulgaram um comunicado em conjunto condenando a "especulação difundida" a respeito da condição do copiloto, dizendo que as manchetes contribuem "para o estigma que já existe ao redor dos problemas de saúde mental".

"Todo mundo está tentando entender o que aconteceu neste acidente terrível com o avião, mas há um perigo real de que a correlação que está sendo feita entre depressão e este ato seja muito simplista e não tenha provas suficientes", disse Paul Farmer, diretor executivo do Mind, à BBC.

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"A impressão que se dá é a de que as pessoas com depressão podem ser perigosas, e não há nenhuma prova disso. Há milhares de pessoas que trabalham em cargos estressantes e importantes que lutam contra a depressão e fazem seus trabalhos muito bem."

A hashtag #Timetochange (Tempo de mudar, em português), que critica a cobertura da imprensa, está entre os assuntos mais comentados do Twitter britânico. Personalidades pedem que o acidente não confunda pessoas deprimidas com "assassinos".

O escritor Matt Haig disse no Twitter que "A depressão pode fazer com que a pessoa machuque a si mesma. Mas nunca fez – em 15 anos intensos – com que eu ou qualquer pessoa que eu conheço quisesse machucar outras pessoas".

No Brasil, já começam a repercutir nas redes sociais as manchetes de portais de notícias afirmando que o copiloto "tinha depressão"

Especulação

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Promotores alemães afirmam que Lubitz escondeu detalhes de uma doença da empresa onde trabalhava, mas o tablóide alemão Bild diz que sua pesquisa sobre o passado de Andreas Lubitz sugere um histórico de depressão.

A Lufthansa, segundo o tablóide, teria afirmado que Lubitz interrompeu seu treinamento para ser piloto para receber tratamento médico. Fontes não nomeadas na empresa, citadas pelo tablóide, teriam afirmado que a interrupção foi causada por um problema psicológico.

No total, Lubitz teria feito tratamento psicológico durante um ano e meio durante o treinamento e diagnosticado, em 2009, com um "episódio depressivo severo".

A revista semanal Der Spiegel diz que investigadores teriam encontrado, no apartamento de Lubitz em Dusseldorf, provas de que ele sofria de um distúrbio psicológico. A revista, no entanto, afirma que não sabe exatamente que provas seriam estas.

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Depressão poderia ter causado acidente?

A depressão é uma doença séria, que afeta cada pessoa de maneira diferente. Indivíduos que sofrem de depressão podem atingir um estado tal de alienação que são capazes de tentar tirar as próprias vidas – mas a maioria das pessoas deprimidas não tentaria causar dano a ninguém além de si mesmas.

A psicóloga britânica Jennifer Wild, da Universidade de Oxford, disse ao jornal The Times que que o "pensamento irracional" por trás das ações de Lubitz na cabine podem ter sido motivados por depressão causada por algum episódio traumático recente. "Talvez nesse estado ele não tenha considerado as consequências de suas ações, ou talvez não se importasse por estar consumido pela ideia de pôr fim a sua vida", afirma.

Wild diz ainda que o uso de drogas ou um acesso extremo de raiva também poderia explicar tais ações.

No entanto, o registro da caixa preta do avião mostra o que seria a respiração calma de Lubitz enquanto supostamente apertava botões que levariam o avião à queda. Isso levou à especulação de que o copiloto poderia ser um psicopata. No entanto, Wild explica que psicopatas geralmente evitam infligir dano a si mesmos.

"Devemos ter cuidado para não fazer julgamentos apressados", disse o professor Simon Wessely, presidente do Royal College of Psychiatrists, na Grã-Bretanha. "Se realmente for comprovado que o piloto tinha um histórico de depressão, precisamos nos lembrar que milhões de pessoas também têm, incluindo pilotos que conduzem voos com total segurança até muitos anos depois de serem tratados."

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"A depressão geralmente é tratável. A maior barreira para que as pessoas consigam ajuda é o estigma e o medo de serem descobertas. Neste país, percebemos uma diminuição recente desse estigma e uma abertura maior para buscar ajuda. Recomendamos evitar decisões apressadas que podem tornar mais difícil que pessoas com depressão recebam o tratamento apropriado", alerta.

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