A notícia do ataque à sede da revista francesa ‘Charlie Hebdo’, que resultou na morte de 12 pessoas nesta quarta-feira, foi recebida com horror por cartunistas brasileiros. Para o gaúcho Adão Iturrusgarai, o atentado representa um ataque à liberdade de expressão. "Ainda estou paralisado, congelado com o que aconteceu. Foi como uma adaga cortando a minha carne. Hoje todos os cartunistas morreram um pouquinho”, disse.
Adão, que está de férias na Patagônia, conta que o cartunista Georges Wolinski, um dos mortos no atentado, era sua “maior influência”. Por coincidência, os três livros que colocou na mala de viagem são do cartunista francês. “Wolinski era minha maior influência nos quadrinhos. Um cara que amava a vida, as mulheres, um senhor doce”, afirmou.
Para Adão, estamos vivendo uma época em que os extremistas – tanto os fundamentalistas islâmicos quanto os representantes da ultradireita – estão ganhando cada vez mais terreno, o que é preocupante. “O mundo está ficando cada vez pior. Vou repetir uma frase que escrevi há algum tempo (em uma tirinha): o mundo já acabou faz tempo. A gente só está forçando a barra”.
Ainda não se sabe quem são os autores do atentado, mas a revista já sofreu ataques por publicar caricaturas de líderes muçulmanos e do profeta Maomé. Em 2011, a redação chegou a ser alvo de um incêndio criminoso.
Onda de intolerância
Para a cartunista brasileira Laerte, agora é o momento de defender a revista e impedir que o episódio cause uma nova onda de intolerância e seja “usado como pretexto para novos ataques ao mundo árabe”.
“O ‘Charlie Hebdo’ é um patrimônio da humanidade que precisa ser defendido tanto do irracionalismo fundamentalista quanto do apoio da direita, que provavelmente vai vir”, afirmou Laerte. “(O ataque à revista) certamente vai ser usado para avanços da ultradireita no cerceamento das liberdades de cidadãos de origem estrangeira e imigrantes”.
Laerte disse que Georges Wolinski, um dos cartunistas mortos, era seu “mestre”. “Tive a oportunidade de encontrá-lo pessoalmente na década de 1990, na Colômbia, e a única coisa que eu consegui dizer em francês a ele foi: ‘você mudou a minha vida’”.
Apesar do atentado à liberdade de expressão, a cartunista afirmou não acreditar em intimidação. “O trabalho do cartunista se insere no campo do jornalismo, reconhecidamente uma das profissões mais perigosas que existem. E a história da sátira política é muito longa e cheia de ameaças e violências, o que não impediu que a linguagem evoluísse e se desenvolvesse”, disse.