Embora não se note, eles estão lá e, no combate real, podem ser fatais. Os Dispositivos Improvisados Radiocontrolados (RCIED, na sigla em inglês) são bombas capazes de destruir até mesmo tanques de guerra. Na atual luta contra os militantes do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) no norte do Iraque, as minas são, atualmente, um dos maiores desafios.
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Devagar e com cuidado, dez combatentes curdos peshmerga e seus treinadores alemães percorrem trilhas enlameadas na imensa área de treinamento das Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) em Hammelburg, na Baviera. O grupo de combatentes peshmerga deve aprender a "ver". Eles têm a tarefa de encontrar explosivos escondidos, que foram desativados para os exercícios, é claro. Antenas de bombas radiocontroladas são frequentemente escondidas na relva ou em arbustos.
Esta é a última de um total de quatro etapas de treinamento em duas semanas. Primeiro, foram realizados exercícios de disparo com dispositivos de defesa antitanque do tipo Milan, depois, vieram "atividades médicas na batalha" e "conservação de material em veículos e armas de pequeno porte". A atual etapa se chama "identificação e eliminação de armas". De repente, o treinador faz uma pausa e chama a atenção dos combatentes camuflados para uma pista traiçoeira.
'Estado Islâmico' usa bombas de cloro no Iraque
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Num determinado ponto da área de treinamento, a grama é mais escura que o entorno – uma consequência do aumento de umidade entre a grama e o poço que esconde cerca de 20 quilos de TNT. Essa é uma das muitas dicas valiosas que os peshmerga recebem. O tradutor curdo tem muito o que fazer.
Disciplinados e pragmáticos
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Os combatentes peshmerga estão sendo treinados por soldados das Forças Armadas alemãs com experiência em missões no exterior. E eles não estão treinando novatos, mas combatentes escolhidos a dedo pela liderança peshmerga e enviados para a Alemanha. O critério principal: os peshmerga devem ser capazes de repassar o que aprenderam de forma compreensível.
"Vale o efeito dominó, de forma que, mesmo com os poucos soldados que estão aqui, possamos chegar a um bom resultado na região de atuação dos peshmerga", diz o coronel alemão Hans Sahm. O grupo formado por um total de 30 combatentes peshmerga completou a formação no início de março. Uma primeira equipe, aproximadamente do mesmo tamanho, havia sido treinada na Alemanha em outubro do ano passado.
Mesmo tarde da noite, bem depois do fim dos exercícios, o coronel Sahm se reúne com os peshmerga, que ainda estão estudando suas anotações. Para os homens que vieram à Alemanha, não se trata de teoria. O que está em jogo é a própria vida e a terra natal. "Eles vêm da guerra e, depois, voltam para lá", diz o coronel, classificando os peshmerga de "disciplinados e pragmáticos".
No treinamento com foguetes de dispositivos de defesa antitanque, os peshmerga ajudam as Forças Armadas alemãs a manter os custos baixos. O problema é que a pontaria com equipamentos do tipo Milan exige um período de adaptação. É preciso muita prática. No entanto, uma única ogiva custa por volta de 8 mil euros. Assim, exercita-se primeiramente sem os foguetes de verdade, com um projétil de treinamento, consumindo, ao fim, apenas 36 tiros da preciosa munição.
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Medo de vingança
Sahm fala num "forte espírito de grupo numa coesão interna especial dos peshmerga". O coronel não é uma pessoa de muitas palavras, sendo cuidadoso ao falar de detalhes do treinamento, por razões de segurança. O chefe dos peshmerga, por sua vez, prefere ficar no anonimato e se apresenta somente com a patente de capitão.
Assim como seus companheiros curdos, o capitão só aparece mascarado. O medo de perseguição pessoal ou atos de vingança contra as próprias famílias é grande entre os curdos peshmerga. Mesmo na Alemanha, os participantes do treinamento não se sentem totalmente seguros. Por isso, eles mudam constantemente de alojamentos e lugares de exercícios.
O capitão dos combatentes curdos afasta preocupações, levantadas na Alemanha, de que as armas fornecidas aos peshmerga possam cair em mãos erradas. "Vamos nos esforçar e até mesmo nos sacrificar, pois esta é a única maneira de combater o EI", completa.
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O capitão diz ainda que os peshmerga estão muito agradecidos à Alemanha pela ajuda. Ele descreveu o treinamento como marcado por grande respeito e confiança mútua. "Aprendemos muito", conclui.
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O jornalista americano James Foley, 40 anos, foi decapitado no dia 19 de agosto de 2014 por militantes do Estado Islâmico. Essa foi a primeira vítima cuja a morte foi gravada pelo grupo extremista e divulgada na internet. Foley havia desaparecido na Síria há quase dois anos. No vídeo, o americano - que estava ajoelhado ao lado de seu executor - disse que os EUA causaram sua morte.
Foto: AP
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O jornalista americano Steven J. Sotloff, 31 anos, foi decapitado no dia 2 de setembro de 2014. Ele havia sido sequestrado em 2013 e apareceu no primeiro vídeo divulgado pelo Estado Islâmico na internet. No primeiro vídeo, James Foley foi decapitado e Sotloff foi ameaçado de morte caso os EUA não "colaborassem" com o grupo extremista. Sua morte também foi divulgada em vídeo.
Foto: AP
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O escocês David Haines, 44 anos, foi sequestrado em março de 2013, quando atuava como voluntário em trabalhos humanitários na Síria. Ele foi decapitado no dia 13 de setembro de 2014 pelo Estado Islâmico e foi a terceira vítima ocidental a ser decapitada pelo grupo extremista que teve a morte divulgada em vídeo na internet.
Foto: Twitter
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O motorista de táxi britânico Alan Henning, 47 anos, foi a quarta vítima do Estado Islâmico a ter a decapitação divulgada em vídeo na internet. Henning participava de comboio de voluntários que levavam suprimentos médicos à Síria. Apelidado de "Gadget", Henning foi sequestrado nove meses antes da divulgação de sua morte, no dia 03 de outubro de 2014. No final de seu vídeo, um refém americano foi apresentado como uma nova vítima do EI.
Foto: The Telegraph
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O ex-militar americano Peter Edward Kassing, 26 anos, trabalhava como voluntário na assistência humanitária na Síria. Ele foi o refém apresentado no final do vídeo da morte do britânico Alan Henning. No dia 16 de dezembro, Kassing foi decapitado e teve um vídeo que divulgava sua morte publicado na internet. No vídeo, um militante do Ei, com sotaque britânico, aparece ao lado de uma cabeça decapitada que seria a de Kassing. O americano tinha sido sequestrado em outubro de 2013 e se convertido ao islã.
Foto: AP
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O fotógrafo sírio Omar Alkhani esteve nas mãos do Estado Islâmico por dois meses. Ele diz que foi sequestrado em Aleppo, na Síria, e que dividiu a prisão com o jornalista James Foley, o primeiro a ter a morte divulgada em vídeos pela internet. Alkhani disse que, após dois meses de cárcere, os membros do EI vendaram seus olhos, o colocaram em um carro e ele foi jogado na rua. Durante o sequestro, Alkhani foi torturado.
Foto: El País
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O jornalista independente britânico John Cantlie, 43 anos, foi sequestrado na Síria em 2012. Desde então, ele é um dos reféns do Estado Islâmico. Cantlie apareceu em alguns vídeos do EI e, em um deles, o jornalista aparece andando pelas ruas de Mossul e mostrando que a rotina dos moradores da região não mudou em nada com a presença do grupo extremista. A imprensa ocidental afirma que a vida em Mossul tem sido difícil desde a presença do EI.
Foto: Twitter
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O empresário japonês Haruna Yukawa (à direita), 42 anos, chegou à Síria em agosto de 2014 e seu paradeiro estava desconhecido desde então. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão procurava por ele. Seu amigo, o jornalista Kenji Goto, foi à sua procura e ambos acabaram aparecendo em um vídeo do Estado Islâmico, como reféns, divulgado em janeiro. O grupo exigiu um resgate de US$ 200 milhões de dólares do governo japonês. Sem negociações, Yukawa foi decapitado no dia 21 de janeiro de 2015, sua morte foi anunciada e ilustrada em fotografias por Goto em um vídeo.
Foto: AP
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O jornalista freelancer e documentarista japonês Kenji Goto, 47 anos, foi decapitado no dia 31 de janeiro de 2015 por um jihadista membro do Estado Islâmico. Ele foi capturado em outubro de 2014 e estaria na Síria à procura de seu amigo, o empresário Haruna Yukawa. Yukawa foi morto em janeiro e Goto foi mantido refém ao lado de um jordano. A liberdade de ambos foi oferecida pelo Estado Islâmico em troca da libertação de uma terrorista. O Japão não quis negociar e um vídeo com Goto sendo decapitado foi divulgado na internet.
Foto: EPA/ISLAMIC STATE
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O tenente e piloto jordano Moaz al-Kasasbeh, 26 anos, participava na missão aérea contra o Estado Islâmico, em apoio à aviação dos Estados Unidos, quando o seu caça F-16 foi atingido e caiu em território sírio controlado pelo Estado Islâmico, no dia 24 de Dezembro de 2014. Desde então, o EI divulgou algumas fotografias humilhantes. A Jordânia aceitou trocar a liberdade do piloto pela liberdade de uma terrorista, contanto que o piloto esteja realmente vivo. Porém, em 3 de fevereiro, sua morte foi divulgada por meio de um vídeo, em que ele aparece sendo queimado vivo, dentro de uma jaula.
Foto: Reproducción
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O médico alemão Stefan Viktor Okonek e sua esposa Henrite Dielen foram sequestrados no dia 24 de setembro. O Estado Islâmico ameaça matar a dupla, caso o governo alemão continue a apoiar os bombardeios contra o EI, liderados pelos Estados Unidos. A partir do final de setembro, não houve informações sobre as vítimas.
Foto: interaksyon
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A voluntária americana Kayla Jean Mueller, 26 anos, foi feita refém em Alepo, no norte da Síria, em agosto de 2013. Ela era voluntária de uma organização não-governamental do Arizona. No dia 6 de fevereiro, o Estado Islâmico anunciou que Kayla tinha sido morta durante um ataque aéreo da coligação internacional, conduzido por forças jordanianas. Sua morte só foi confirmada pela Casa Branca no dia 10 de fevereiro.
Foto: New York Daily
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