Analistas: prisão de Sarkozy mancha imagem política do país

No entanto, especialistas acreditam que ambições presidenciais do ex-chefe de Estado devem ser definidas pela visão que seu eleitorado terá do caso

1 jul 2014 - 15h14
(atualizado às 15h23)
<p>Ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy chega à Assembleia Nacional em Paris, em 25 de junho. Sarkozy foi detido nesta terça-feira, 1 de julho, para passar por interrogatório sobre supostas irregularidades na sua campanha eleitoral de 2007</p>
Ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy chega à Assembleia Nacional em Paris, em 25 de junho. Sarkozy foi detido nesta terça-feira, 1 de julho, para passar por interrogatório sobre supostas irregularidades na sua campanha eleitoral de 2007
Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters

A prisão provisória do ex-presidente da França Nicolás Sarkozy ocorrida nesta terça-feira é vista como mais uma mancha na imagem da política do país, já às voltas com vários casos de corrupção. A medida, inédita na história da República Francesa, levou o mandatário a prestar depoimento em um tribunal da região parisiense.

“Esse caso não melhora a imagem da política”, afirmou o professor Daniel Boy, diretor de pesquisa do Centro de Estudos Políticos da prestigiosa universidade Sciences Po, em entrevista ao Terra. “É uma surpresa ver Sarkozy sendo detido para prestar depoimento”, completou.

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O ex-presidente francês apresentou-se hoje após ter sua prisão provisória decretada pela Justiça francesa. Ele é suspeito de violação do sigilo da investigação” e “tráfico de influências” em uma investigação sobre fraude no financiamento da campanha presidencial de 2007, da qual Sarkozy saiu vitorioso. Seu partido, a centro-direitista União por um Movimento Popular (UMP) é investigado por suspeita de uso de dinheiro doado pelo antigo regime líbio do presidente Muammar Kadafi, morto em 2012.

O escândalo é mais um envolvendo a UMP, do qual Sarkozy foi presidente antes de assumir a chefia de Estado na França. A legenda é alvo de várias investigações sobre o financiamento de campanhas regionais e nacionais. A última delas foi iniciada há alguns meses e tenta descobrir se também houve caixa-dois na última campanha presidencial em 2012, quando Sarkozy perdeu a reeleição frente ao atual presidente, o socialista François Hollande.

Essas suspeitas de corrupção nas campanhas derrubaram o ex-presidente da UMP Jean-François Copé no mês passado. Desde então, o partido é dirigido por um triunvirato de caciques da direita francesa. Apesar dos escândalos, a falta de liderança faz com que Sarkozy seja visto como a única salvação por parte do eleitorado de direita. Uma nova candidatura sua à presidência da República nas eleições de 2017 parecia cada vez mais certa.

No entanto, para alguns analistas políticos ouvidos pelo Terra, tudo vai depender de como o eleitor francês interpretará a detenção ocorrida na manhã desta terça e as acusações que pesam contra o ex-presidente. Ponto central dessa percepção do eleitorado de direita sobre o caso é a presença das duas juízas responsáveis pelas investigações, ambas próximas da esquerda francesa.

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“Muitos eleitores dirão que seu ‘herói’ está sendo perseguido por juízes de esquerda”, explicou Boy, para quem o ex-presidente trava uma “pequena guerra com o Judiciário” francês. “Sarkozy continua o melhor candidato à presidência para grande parte do eleitorado da UMP e um político dominante no alto escalão do partido”, completou o especialista.

A visão é compartilhada por Luc Foisneau, filósofo e diretor de pesquisa da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Para ele, o futuro político de Sarkozy depende ainda de seus próprios correligionários. “O posicionamento de seu partido será importante. No último escândalo de financiamento, parte do alto escalão da UMP já deixou claro sua posição ao se afastar dos responsáveis pelo esquema”, explicou o analista.

Fonte: Especial para Terra
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