Em julho de 1992, quando a modelo Rachel Nickell foi morta no parque de Wimbledon Common, no sul de Londres, a única testemunha foi seu filho. Alex Hanscombe, que tinha apenas dois anos, viu a mãe ser esfaqueada 49 vezes, em um caso que provocou comoção no Reino Unido.
Vinte e cinco anos depois, Hanscombe deu uma entrevista para o Woman´s Hour, programa da Rádio 4 da BBC, para falar do crime e de como fez para superá-lo.
"Mais do que tudo, lembro-me de como pedi para minha mãe que se levantasse. Logo percebi que ela tinha ido embora e não voltaria mais", contou Hanscombe, hoje com 27 anos.
As memórias de Alex sobre o ataque são vívidas. Ele se lembra do assassino lavando as mãos sujas de sangue em um riacho próximo. Também fala de uma nota fiscal que caiu do bolso da mãe - e que ele colocou sobre sua testa.
Um mês depois do crime, a polícia de Londres havia prendido pelo menos 14 suspeitos, mas todos foram liberados. Foi só no ano seguinte que as autoridades anunciaram seu primeiro avanço nas investigações: a prisão de Colin Stagg, entregador de jornais que havia sido acusado de atentado ao pudor em Wimbledon Common algumas semanas depois do assassinato de Rachel Nickell.
Stagg, porém, foi inocentado em julgamento em setembro de 1994, por falta de provas. Foi apenas em 2008, 16 anos após o crime, que o verdadeiro assassino foi preso: Robert Napper, que sofria de esquizofrenia e já havia sido condenado por homicídio e estupro, foi identificado com o autor do crime em Wimbledon Common.
Ele atualmente está em internado em Broadmoor, um hospital psiquiátrico de segurança máxima.
Por causa do assédio da mídia, o pai de Hanscombe, André, mudou-se com o menino para a França. Eles tiveram que se mudar novamente, para a Espanha, depois de serem descobertos por jornalistas.
André temia pela segurança de Alex, já que ele era a única testemunha do assassinato da mãe. O hoje adulto conta que não sentia medo, mas se dá conta de que sua vida também poderia ter acabado naquele dia trágico no parque londrino.
Ele conta também que, quando criança, sofria profundamente se qualquer coisa o lembrasse do crime - incluindo se visse alguém que se parecesse com o assassino da mãe.
"Durante o dia, eu brincava como se nada tivesse acontecido. Mas, à noite, eu era atormentado durante o sono. Tive pesadelos horríveis por vários anos (...) e passei por um processo gradual de mudanças. Hoje acredito que tudo tem uma razão para acontecer, mesmo que nem sempre sejamos capazes de entender. Acho que em algum momento conseguimos olhar para trás e entender o porquê."
Ao mesmo tempo, Hanscombe esforçou-se para não ser definido pelo que aconteceu.
"Fizeram muitas alegações sobre mim. Disseram que eu jamais voltaria a falar, que iria morar debaixo da ponte ou mesmo repetir o mesmo ciclo de violência (que vitimou Nickell). Mas faz parte da vida criar nosso próprio caminho", diz.
Hanscombe conta que recentemente sentiu necessidade de voltar a Wimbledon Common, o local do crime.
"Algo mágico aconteceu: ajoelhei-me e rezei. Dei graças pelas bênçãos que recebi e pelo fato de que as coisas seguiram o caminho certo. Naquele momento, ouvi alguém gritando o nome Molly", conta.
"Achei que estivesse sonhando, mas era um homem chamando seu cão, Molly".
Era o mesmo nome do cão de estimação que Rachel e seu filho levavam para passear quando a modelo foi atacada.
"Tudo estava lá por uma razão".
Hanscombe vive atualmente em Barcelona com o pai, onde se dedica à hipnoterapia e à ioga. É também o autor de um livro sobre a mãe: Letting Go: A True Story of Murder, Loss and Survival (Deixando Ir: Uma história real de crime, perda e sobrevivência, em tradução livre).
Sobre sua mãe, ele diz recordar de "seu cheiro, seu sorriso, sua presença. Mas mais do que coisas específicas, me lembro do sentimento de amor".