Após buscar filho na Síria, pai sonha com férias no Brasil

Ex-militar belga viajou à Síria várias vezes até conseguir trazer o filho Jejoen Bontinck de volta. Bontinck é uma das 46 pessoas julgadas no maior processo contra terrorismo já realizado na Europa, que foi finalizado nesta quarta-feira

11 fev 2015 - 20h28
(atualizado às 20h32)
De Mulder foi condenado à revelia a cinco anos de prisão pela Justiça belga
De Mulder foi condenado à revelia a cinco anos de prisão pela Justiça belga
Foto: BBC

Com o país em estado de alerta 3 (em escala de 1 a 4) contra ameaças terroristas, a Bélgica finalizou nesta quarta-feira na cidade de Antuérpia o maior processo contra terrorismo já realizado na Europa. O megaprocesso julgou 46 pessoas, entre elas o filho da brasileira Ozana Rodrigues, Brian de Mulder, que ainda se encontra na Síria, e Jejoen Bontinck, que retornou à Bélgica graças ao pai e ex-militar belga Dimitri, que viajou à Síria várias vezes até encontrá-lo e trazê-lo de volta.

Os líderes da organização terrorista receberam sentenças que variam de oito anos a 15 anos de prisão e multas de até  30 mil euros. É o caso de Fouad Belkacem, 32 anos, que deve ficar 12 anos na prisão e pagar 30 mil euros de multa ao Estado belga. "Belkacem é responsável pela radicalização de jovens para prepará-los para o combate salafista, que em sua essência não tem lugar para os valores democráticos", afirmou um dos magistrados. "Sharia4Belgium recrutou esses jovens para o combate armado e organizou sua partida para a Síria", detalhou. No próximo mês de março, Belkacem deve voltar ao banco do reus acusado de tráfico de drogas pelo Tribunal de Bruxelas.

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Jejoen comparecendo ao tribunal em outubro
Foto: Viviane Vaz / Especial para Terra

Hoje apenas uma mulher foi absolvida, conhecida por El Ouazna N.. Ela era acusada de enviar dinheiro para o filho Brahim B. na Síria. Os demais acusados de participar da rede de extremistas receberam penas de cinco a oito anos de prisão e 15 mil euros de multa, mas alguns poderão cumprir a sentença em liberdade condicional, como Jejoen. O jovem de 20 anos colaborou no julgamento como testemunha de acusação e recebeu uma pena condicional de 40 meses, que poderá ser cumprida em liberdade, além de 12 mil euros de multa. Seu advogado de defesa alegou que o jovem foi vítima de "lavagem cerebral" e teria sido torturado quando estava na Síria, país onde conheceu a verdadeira face da jihad".

Ex-militar belga Dimitri após o julgamento do filho, nesta tarde, em Antuérpia
Foto: Viviane Vaz / Especial para Terra

Dimitri comemorou a sentença do filho Jejoen e acredita que poderão começar uma nova vida. "Estamos felizes que podemos deixar tudo para trás, fechar um capítulo e seguir em frente". Ele agora pensa tirar férias em um país "ensolarado" e o Brasil estaria entre as opções. "Adoraria ir ao Brasil, estou sonhando em ir ao Brasil… Agora eu realmente preciso de umas férias", disse o pai de Jejoen ao Terra.

O ex-militar avaliou que algumas sentenças poderiam desmotivar os jovens que ainda se encontram na Síria de retornar à Bélgica, como o filho da brasileira Ozana, Brian de Mulder, de 21 anos, e a jovem belga de origem marroquina, Nora V., 20 anos. "Punir esses jovens que ainda estão na Síria com cinco anos? Eles nunca vão voltar e com este veredito se cria mais raiva e frustração", opinou. Por outro lado, o Tribunal de Antuérpia indicou que todos os condenados ausentes durante a tramitação do caso ainda poderão se opor à decisão. "O Tribunal Penal vai reavaliar o arquivo para essa pessoa", afirma a nota à imprensa.

Pena máxima contra terrorismo

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Presente no tribunal de Antuérpia, Ozana Rodrigues não ficou satisfeita com o tempo de condenação de Belkacem. "Ele levou o meu filho e levou os filhos de muitas pessoas aqui na Bélgica", disse a mãe brasileira. "A pena de 12 anos não significa nada para um homem assim. Ele é um terrorista. Vivendo em uma prisão na Bélgica é como estar em um hotel", protestou. No entanto, Ozana se contentou com a sentença imposta ao filho. "Cinco anos para o Brian, não tem nenhum problema", disse. "Espero que o meu filho volte. Ele vai cumprir a pena e vai ficar tudo bem. Eu prefiro ter o meu filho aqui para visitá-lo na prisão do que na Síria", disse Ozana.

Uma fonte do Tribunal Penal de Antuérpia explicou à reportagem que como se trata de uma legislação nova na Bélgica para um tipo de crime muito recente no país, a sentença máxima ainda é de 15 anos. Outros países da Europa, com legislações mais antigas contra o terror, como a Espanha, possuem penas máximas de até 40 anos. A fonte considera que foi dada uma nova chance aos jovens se reintegrarem à sociedade belga. 

Fonte: Especial para Terra
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