O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, denunciou na sexta-feira o "colapso catastrófico do direito" nos Estados Unidos, no momento em que Washington reage às sucessivas revelações sobre dois programas confidenciais de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA).
Em uma entrevista concedida à AFP na embaixada do Equador em Londres, onde está há quase um ano, Assange acusou o governo dos Estados Unidos de tentar "lavar" suas atividades de espionagem das comunicações telefônicas e da internet, reveladas na quinta-feira.
"O governo americano tem gravações telefônicas de todo o mundo nos Estados Unidos e a NSA as tira diariamente das mãos das operadoras em virtude de acordos confidenciais. Isto é o que se entende", disse o australiano de 41 anos.
O primeiro programa envolve a coleta, desde 2006, dos dados das ligações telefônicas feitas nos Estados Unidos pela operadora Verizon, e possivelmente outras, e o segundo, denominado PRISM, tem como objetivo interceptar as comunicações de internautas estrangeiros fora dos Estados Unidos em nove grandes redes sociais, entre elas o Facebook.
Na sexta-feira, o presidente Barack Obama defendeu a legalidade dos programas, alegando que era necessário um "compromisso" entre a proteção da privacidade e as exigências da luta contra o terrorismo.
Sobre a vigilância de jornalistas e personalidades por Washington, Assange, cujo site provocou a revolta do governo dos Estados Unidos com a publicação de centenas de milhares de telegramas diplomáticos e arquivos confidenciais sobre as guerras no Iraque e Afeganistão, lamentou o "colapso catastrófico do direito" americano.
Assange manifestou preocupação com a fonte que forneceu as informações sobre o amplo programa de espionagem americano na internet, que segundo ele pode acabar na mesma situação que Bradley Manning. Manning está sendo julgado pelo vazamento de milhares de documentos secretos para o WikiLeaks.
"Nós nos perguntamos se a pessoa que revelou essa informação - e as que estão prestes a vir à tona - não estará exatamente na mesma posição que Bradley Manning hoje", disse Julian Assange à emissora de televisão americana CBS.
O soldado Bradley Manning está no início de seu julgamento em uma corte marcial, sob acusação de conluio com o inimigo. O ex-analista de inteligência no Iraque, que admitiu ter divulgado mais de 700 mil documentos militares e diplomáticos confidenciais pelo site WikiLeaks, pode ser condenado à prisão perpétua.
"As pessoas têm o direito de saber o que o governo faz em seu nome", defendeu Assange. "Isso não significa que cada detalhe deva ser tornado público, mas é preciso conhecer elementos suficientes para compreender o que realmente acontece", explicou.