"São crimes de uma dimensão totalmente nova". Foi assim que autoridades alemãs descreveram a série de agressões sexuais contra dezenas de mulheres durante a noite de Ano Novo em Colônia, no oeste do país. Um grupo de cerca de mil homens agiram de forma coordenada para assediar e roubar múltiplas vítimas. Segundo testemunhos, os suspeitos tinham "procedência árabe ou do norte da África".
O caso gerou ainda mais indignação por ter ocorrido no centro da cidade, em torno da estação central de trens e perto da histórica catedral gótica da região. A prefeita de Colônia, Henriette Reker, convocou uma reunião de emergência para tratar da crise e garantir a segurança de moradores e visitantes a um mês da comemoração do Carnaval, realizado anualmente na cidade.
Corredor de homens
A polícia recebeu ao menos 90 denúncias de mulheres que foram assaltadas, assediadas e atacadas sexualmente, incluindo uma acusação de estupro, na noite de 31 de dezembro. Os ataques foram realizados por um grande grupo de homens reunidos ao redor da famosa praça da cidade, entre a estação central e a antiga catedral.
Segundo o chefe da polícia, Wolfgang Albers, os cerca de mil homens estavam bêbados e aparentavam ser "árabes ou africanos". Espera-se que mais denúncias surjam nos próximos dias.
Uma das vítimas, identificada como Katja L., informou que os homens agiam em grupos menores, de cerca de cinco integrantes. Escolhiam as mulheres e as cercavam para abusar sexualmente delas ou roubar seus pertences. Ela disse à agência de notícias alemã DPA que, ao sair da estação, ela e suas amigas foram forçadas a caminhar por um corredor de homens.
"Passaram a mão em mim em todos os lugares. Foi um pesadelo. Nós gritávamos e batíamos neles, mas eles não paravam", afirmou. "Estava desesperada. Acho que me tocaram umas cem vezes nos 200 metros que caminhamos (entre eles)."
Um homem descreveu como sua mulher e a filha de 15 anos foram cercadas por uma multidão do lado de fora da estação sem que ele pudesse ajudá-las. "Os agressores pegaram em seus peitos e as tocaram entre as pernas."
Uma britânica que visitava a cidade disse que fogos foram disparados contra seu grupo por homens que não falam alemão ou inglês. "Eles tentavam nos abraçar, nos beijar. Um deles roubou a bolsa da minha amiga. Outro tentou nos colocar em um 'táxi privado'. Já estive em situações assustadoras e perigosas, mas nunca tinha vivido algo assim", disse ela à BBC.
'Situação intolerável'
Albers condenou a série de ataques declarando se tratar de "crimes de uma dimensão totalmente nova" e acrescentou ser "uma situação intolerável que estes crimes sejam cometidos no meio da cidade". Foi criada uma unidade de investigação para esclarecer os fatos e punir os responsáveis. Até agora, oito suspeitos foram detidos na noite de Ano Novo, mas não está claro se estavam diretamente envolvidos nos ataques.
O site de notícias Köelner Stadt-Anzeiger disse que os suspeitos já eram conhecidos pela polícia devido aos furtos frequentes nos arredores da estação. Alguns veículos de imprensa do país criticaram as autoridades de estarem mal preparadas para lidar com o problema. Na edição alemã do site The Huffington Post, a ativista Anabel Schunke acusou a polícia de encobrir os fatos e esperar vários dias antes de revelá-los publicamente.
Foi informado que a polícia havia sido deslocada para a região para controlar a multidão durante as celebrações de Réveillon, mas falhou em detectar estes ataques.
Consequências 'incômodas'
A prefeita da cidade convocou nesta terça-feira uma reunião de emergência com a participação das polícias local e federal para abordar a crise. Reker disse que os ataques são "monstruosos" e, em declarações dadas ao Köelner Stadt-Anzeiger, afirmou que "não podemos tolerar que esta área da cidade se torne uma região sem lei".
A situação ganha um contorno particular para a prefeita, que protagonizou manchetes ao redor do mundo em outubro passado depois de ser apunhalada no pescoço por um homem durante sua campanha eleitoral por defender os refugiados que chegam ao país.
Estes incidentes tendem a exacerbar tensões na Alemanha, que recebeu em 2015 um número recorde de imigrantes que fogem da guerra e da pobreza no Oriente Médio e outras regiões de conflito.
A polícia e políticos têm alertado que grupos populistas de direita poderiam estar usando os recentes crimes para fomentar o sentimento contra os refugiados.
Arnold Plickert, diretor do sindicato de policiais em Renânia do Norte-Vestália, o Estado onde está Colônia, disse que os crimes são um "ataque massivo aos direitos básicos" e que deveria ser feita justiça ainda que houvesse consequências "politicamente incômodas".
Segundo a emissora estatal alemã Deutsche Welle, Plicker ressaltou que "toda a força da lei" deveria pesar contra "qualquer refugiado que tenha um problema em se integrar a nossa sociedade aberta e respeitando os direitos dos outros".
Mas acrescentou que o público não pode se esquecer de que "a grande maioria dos (migrantes) que têm chegado o fazem porque suas vidas correm perigo em suas pátrias".
Outros ataques
Por enquanto, a polícia tenta averiguar se os homens que atacaram as mulheres na noite do dia 31 organizaram os atos por meio de redes sociais. Também estão sendo analisados vídeos feitos por câmeras de segurança e celulares.
Colônia se prepara para celebrar seu Carnaval anual em fevereiro, um festival que atrai mais de 1 milhão de visitantes. As autoridades estão decididas a restaurar a tranquilidade e garantir a segurança dos cidadãos para a festa.
Em Hamburgo, no norte da Alemanha, várias mulheres também denunciaram à polícia terem sido assediadas e roubadas na véspera de Ano Novo.
Os incidentes ocorreram em Reeperbahn, uma conhecida avenida do distrito onde a prostituição é legalizada na cidade.
Ataques similares também foram registrados em Stuttgart, no sudoeste do país. No entanto, nestas duas cidades, as denúncias não foram tão numerosas quanto em Colônia.