Bélgica vive estado de tensão desde ataques em Paris

Ameaças e falsos alertas levam Exército a aumentar sua presença em pontos sensíveis e nível de atenção foi elevado a três numa escala de quatro

3 fev 2015 - 07h26
(atualizado às 10h39)
Carro suspeito é revistado pela polícia em frente ao parlamento europeu em Bruxelas: número de ameaças aumentou na Bélgica desde ataques em Paris
Carro suspeito é revistado pela polícia em frente ao parlamento europeu em Bruxelas: número de ameaças aumentou na Bélgica desde ataques em Paris
Foto: BBC

Uma onda de ameaças de ataques iniciada depois dos atentados que mataram 17 pessoas em Paris mantém a Bélgica sob tensão há quase um mês, com o Exército presente nos pontos mais sensíveis do país e o nível de alerta elevado a três em uma escala de quatro.

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A polícia federal belga registrou 35 alertas de bomba ou denúncias de atos ou pacotes suspeitos desde 15 de janeiro, quando operações antiterror resultaram no desmantelamento de uma célula jihadista prestes a atacar o país, afirmou o porta-voz da coorporação, Peter De Waele.

"Depois dos atentados de Paris há alertas, ou falsos alertas, quase todos os dias. Levamos todos muito a sério", disse à BBC Brasil o porta-voz do Centro de Crise do Ministério de Interior belga, Benoit Ramacker.

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"Pode ser que haja gente que faça isso para rir ou porque é desequilibrado. Mas não podemos nos permitir não levar a sério."

Só na manhã de segunda-feira, dois falsos alertas levaram a polícia federal a evacuar a Embaixada dos Estados Unidos e três edifícios administrativos do Parlamento Europeu.

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Em ambos os casos, a medida foi tomada como precaução devido à identificação de um veículo suspeito nas proximidades dos edifícios.

As regiões foram bloqueadas e o esquadrão antibombas investigou os veículos em questão, mas não encontrou explosivos.

Horas antes, na madrugada de domingo para segunda-feira, uma discoteca na localidade de Willebroek, ao norte de Bruxelas, foi esvaziada depois que o Corpo de Bombeiros recebeu um alerta a bomba, que acabou sendo falso.

O mesmo aconteceu na noite de sábado em uma casa de eventos de Bruxelas onde 2,5 mil jovens participavam de uma festa mensal popular entre expatriados.

O local fica no bairro de Molenbeek, de onde saíram muitos dos belgas que se juntaram aos jihadistas na Síria - entre eles o suspeito de liderar a célula terrorista desmembrada em uma megaoperação no dia 15 de janeiro.

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Entre os locais já afetados por alertas de bomba desde o início de janeiro estão a praça da Bolsa de Bruxelas, no coração da capital; o Palácio de Justiça, próximo à Grande Sinagoga e ao Museu Judeu de Bruxelas; e a sede do jornal Le Soir.

Houve também episódios em locais públicos, como uma estação de ônibus da capital onde um homem deixou uma mala na qual dizia haver uma bomba.

Na Bélgica, a realização de alertas falsos é contravenção que pode resultar em três meses a dois anos de prisão, além do pagamento dos custos das operações lançadas para enfrentar a suposta ameaça.

Ameaça real

"O nível da ameaça é mesmo real e está essencialmente ligado ao fato de que há uma centena de jihadistas belgas na Síria", disse em entrevista à BBC Brasil Claude Moniquet, cofundador do Centro Europeu de Inteligência Estratégica e Segurança (ESISC).

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Foto: AFP

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"Na hora de cometer um atentado, um terrorista busca a facilidade, e para um belga é mais fácil entrar e se mover em seu próprio país, conseguir armas, etc. Mesmo se a noção de território não existir nesses casos, como prova o atentado ao Museu Judeu de Bruxelas, cometido por um francês."

Também a situação geográfica e o tamanho da Bélgica a tornam mais vulnerável, já que "nunca se está a mais de 40 minutos de uma fronteira internacional", disse Moniquet.

Porém, Tom Vander Beken, um dos diretores do Instituto de Pesquisa Internacional em Política Criminal (IRCP) da Universidade de Gante, minimiza o perigo.

"Alertas de bomba acontecem com certa frequência, não são algo tão incomum. E na maioria das vezes são alarmes falsos", disse ele à BBC Brasil.

Apesar de concordar, tanto Ramacker, do Centro de Crise, como Moniquet, do ESISC, asseguram que desde os atentados em Paris os cidadãos belgas estão "mais alertas" e denunciam situações que antes não lhes chamariam a atenção.

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"Em nove de dez casos não é nada, mas basta que uma vez seja verdade. Por isso podemos compreender que, no contexto atual, as forças de segurança sejam precavidas. No clima atual, a sociedade não aceitaria que atuassem de outra maneira", disse Moniquet.

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