Capitão do Costa Concordia culpa tripulação por naufrágio

"Foi um erro estúpido", afirma Francesco Schettino, que nega ter tentado impressionar uma mulher com quem havia jantado pouco antes

2 dez 2014 - 19h11
(atualizado às 20h17)
<p>Schettino foi uma das primeiras pessoas a abandonar o navio, que tinha 4.200 pessoas a bordo</p>
Schettino foi uma das primeiras pessoas a abandonar o navio, que tinha 4.200 pessoas a bordo
Foto: Giacomo Aprili / Alliance/ AP

Em seu primeiro depoimento à Justiça, o capitão Francesco Schettino, de 54 anos, colocou a culpa pelo naufrágio do navio Costa Concordia em parte da tripulação. "Ninguém me disse nada", declarou várias vezes nesta terça-feira, durante uma audiência em Grosseto, na Itália. "A origem do desastre foi um erro estúpido", disse Schettino, em referência à falta de comunicação entre ele e os outros membros da tripulação.

Um procurador envolvido no caso disse à agência de notícias Ansa que a promotoria pede 20 anos de prisão para Schettino, a única pessoa que está sendo julgada pelo naufrágio que matou 32 pessoas em janeiro de 2012. Ele foi um dos primeiros a abandonar o navio, que tinha 4.200 pessoas a bordo.

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Durante uma manobra arriscada diante da ilha italiana de Giglio, o Costa Concordia colidiu contra uma rocha e naufragou. Schettino disse que a manobra, na qual o navio "saúda" a ilha e os passageiros podem admirar a costa, tinha motivos comerciais. Além disso, ele queria fazer um agrado a um membro da tripulação, natural da ilha, bem como prestar uma homenagem a um capitão seu amigo, que também é oriundo de Giglio.

Schettino rejeitou a acusação de que teria tentado impressionar uma mulher com quem havia se encontrado anteriormente no restaurante da embarcação, mas um membro da tripulação declarou, em depoimento, que a mulher estava no navio e confirmou ter tido uma relação com o capitão. A mulher, uma dançarina loira da Moldávia cerca de 20 anos mais nova, estava no navio de forma irregular.

Schettino disse ter retornado do restaurante cerca de 15 minutos antes do acidente, e que até aquele momento o seu vice tinha o comando da embarcação. Quando retomou o comando, ele teria partido do princípio de que a embarcação estava a meia milha marítima da ilha, em segurança. Se havia dúvidas a esse respeito, a tripulação deveria tê-lo avisado, afirmou. Ele teria olhado apenas de relance para o radar. Questionado por que então perguntou à guarda costeira se havia profundidade suficiente a 0,3 milha marítima da costa, Schettino disse que apenas queria "puxar conversa".

O capitão disse que a empresa responsável pelo cruzeiro não sabia do desvio de rota, mas acrescentou que esse tipo de manobra é comum e que o capitão tem autoridade para decidir se vai fazê-la. Ele reconheceu que, na condição de capitão, é o principal responsável pela tragédia.

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Registros de caixa-preta indicam que ele não tinha ideia do perigo que o navio corria. Poucos minutos antes do desastre, Schettino ordenou uma mudança de direção e fez uma piada em inglês: "Otherwise we go on the rocks" (do contrário vamos ter problemas). Suas últimas palavras registradas são: "Madonna, o que eu produzi?". A audiência em Grosseto prossegue nesta quarta-feira.

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