A revista satírica francesa Charlie Hebdo anunciou nesta quinta-feira, após o massacre que devastou sua redação na véspera, que publicará na próxima semana uma edição de um milhão de exemplares, apoiada por outros meios de comunicação que a transformaram em símbolo da liberdade de expressão.
O atentado gerou uma onda mundial de repúdio e deixou a França em estado de comoção pelo grau de violência do ataque, que deixou 12 mortos e 11 feridos, vários deles em estado grave.
Perto da sede da revista, no distrito XI de Paris, onde dois homens armados invadiram a redação e abriram fogo antes de fugir ao grito de "Alá é grande!", "Vingamos o profeta!" e "Matamos Charlie Hebdo!", os parisienses penduraram na rua retratos de alguns dos caricaturistas mais conhecidos assassinados.
Em toda a França foram registradas manifestações espontâneas para repudiar o atentado, enquanto jornalistas, autoridades políticas e cidadãos anônimos nas redes sociais exigiram que a Charlie Hebdo sobreviva, carregando por todo o país cartazes que proclamam "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie).
Saiba quem são as 12 vítimas fatais do atentado em Paris
"Vamos seguir, decidimos voltar a sair na próxima semana. Estamos todos de acordo", disse Patrick Pelloux, um dos cronistas sobreviventes, que também é médico.
"Vamos fazer de casa, vamos fazer isso funcionar", acrescentou, informando que atualmente não tinham acesso à sede da Charlie Hebdo devido à investigação.
Entre as doze vítimas do ataque contra a revista fundada em 1970 e que se tornou famosa por seu humor irreverente, figuram cinco chargistas, Charb, de 47 anos, Wolinski (80), Cabu (76), Tignous (57), Philippe Honoré (73), assim como outros colaboradores, incluindo o economista francês Bernard Maris, filho de republicanos espanhóis refugiados na França.
"É uma situação muito dura, estamos todos com nossa pena, nossa dor, nossos medos, mas vamos fazer isso de qualquer forma, porque a estupidez não vai vencer. Charb (diretor da publicação morto no atentado) sempre dizia que a revista tem que sair, custe o que custar", acrescentou o cronista.
A equipe da Charlie Hebdo realizou uma reunião nesta quinta-feira para falar sobre o futuro da publicação, explicou à AFP Gérard Biard, chefe de redação da revista satírica.
Ao fim da reunião, Pelloux confirmou à AFP que Charlie Hebdo sairá à venda nas bancas da França na próxima quarta-feira, com uma tiragem de um milhão de exemplares, contra os 60.000 da última edição.
"Será uma edição dos sobreviventes" de 8 páginas, disse, em vez das 16 habituais, que começará a ser elaborada a partir de sexta-feira na sede do jornal Liberation.
Desde o atentado, a revista, que sofria sérias dificuldades financeiras, recebeu muitas propostas de apoio, pedidos de assinatura e doações.
A maioria dos meios de comunicação franceses apoiaram a iniciativa, incluindo France Televisions, Rádio France e Le Monde, aos que se somaram RTL, Europe 1, JDD, Elle, AFP, Le Parisien, L'Équipe, RFI, France 24, entre outros.
A ministra da Justiça, Christiane Taubira, declarou à rádio France Info que "uma ajuda pública para a Charlie estaria justificada. Não é possível conceber que a Charlie Hebdo desapareça".
Christophe Deloire, secretário-geral da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), disse que o ataque significou a passagem por uma barreira. "Para um país ocidental é, sem dúvida, um novo marco", comentou.
"A única coisa tranquilizadora no dia de ontem - acrescentou Deloire - foi ver até que ponto centenas de milhares de pessoas consideram que defender a liberdade de imprensa é defender a liberdade de todos".