Com mortos dos dois lados, Ucrânia caminha rumo à guerra

Aumento da violência mudou o tom da diplomacia, e até os Estados europeus mais cautelosos estão falando cada vez mais da probabilidade de uma guerra no país

6 mai 2014 - 19h54
<p>Pró-russo se posiciona em um posto de controle na cidade de Slaviansk, no leste da Ucrânia</p>
Pró-russo se posiciona em um posto de controle na cidade de Slaviansk, no leste da Ucrânia
Foto: Reuters

No momento em que os dois lados do conflito ucraniano estão enterrando os seus mortos, os que defendem uma Ucrânia unida e aqueles que apoiam a Rússia estão trocando acusações mútuas sobre a devastação do país.

A terça-feira foi mais tranquila que os últimos dias no leste e no sul da Ucrânia, mas no começo da noite houve atos de violência na cidade portuária de Mariupol, no leste, de acordo com a mídia local.

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O website www.0629.com.ua postou fotos de pneus em chamas fora do prédio da câmara municipal, que já tinha sido ocupada por manifestantes pró-Rússia, e fumaça espessa sobre o centro da cidade. Algumas ruas foram isoladas por ônibus ou paredes de pneus e tiros foram ouvidos perto de uma base militar.

Em Kramatorsk, que está sob o domínio dos separatistas no leste e aonde tropas ucranianas avançaram no fim de semana, o caixão de uma enfermeira de 21 anos foi conduzido pelas ruas isoladas por barricadas de pneus e troncos de árvores na segunda-feira. Cravos vermelhos espalhados pela rua marcavam o trajeto.

Na Igreja da Santíssima Trindade, sete padres conduziam as orações dos enlutados em homenagem a uma mulher morta por balas de alto calibre, que os habitantes locais acreditam terem sido disparadas por soldados ucranianos.

"Por que eles atiram em nós? Por que não queremos viver com fascistas?", indagou o fotógrafo Sergei Fominsky, de 58 anos, acompanhado por sua mulher na igreja. "Não somos escravos. Não nos curvamos a ninguém".

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Em Odessa, uma cidade portuária multiétnica no Mar Negro onde mais de 40 foram mortos na sexta-feira, pessoas carregavam o caixão aberto de Andrey Biryukov de uma van até a esquina onde ele foi morto por tiros. Foi o dia mais violento desde que a revolta de fevereiro derrubou o presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovich.

O ativista pró-Ucrânia Biryukov, de 35 anos, foi morto durante um dia agitado que começou com centenas de simpatizantes pró-Moscou armados com machados, correntes e armas atacando uma passeata ucraniana, e terminou no fim da noite com os partidários da Rússia entrincheirados dentro de um edifício incendiado, matando dúzias.

Uma pequena multidão de cerca de 50 pessoas cercava o corpo, cobrindo-o com cravos e rosas. Uma bandeira ucraniana tremulava ao vento e uma canção patriótica sobre heróis mortos foi tocada.

Parentes choravam e uma jovem caiu de joelhos aos prantos. A esquina onde o homem morreu foi decorada com flores e pequenas bandeiras ucranianas.

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"O governo fracassou na proteção do seu próprio povo. A polícia fracassou vergonhosamente", disse Nikita, de 56 anos, com uma braçadeira com as cores da Ucrânia, o amarelo e o azul.

Sergei, de cerca de 40 anos e que também foi lamentar a morte, disse que a violência "foi importada para Odessa".

"Tínhamos orgulho de Odessa como um lugar único onde as pessoas costumavam viver em paz, independentemente de suas crenças, religião e raça", disse ele. "Agora tudo isso acabou".

O aumento da violência mudou o tom da diplomacia, e até os Estados europeus mais cautelosos estão falando cada vez mais da probabilidade de uma guerra no país de cerca de 45 milhões de pessoas e do tamanho da França.

"As imagens sangrentas de Odessa nos mostraram que estamos só a alguns passos de um confronto militar", disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, em entrevistas publicadas em quatro jornais europeus.

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Os próximos dias podem ser decisivos: separatistas na região de Donbass, no leste do país, dizem que farão um referendo sobre a independência no dia 11 de maio semelhante àquele que antecedeu a anexação russa da Crimeia.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos rejeitou qualquer tentativa de uma votação como "farsa" e prometeu mais sanções se a Rússia a utilizar, como na Crimeia, para enviar forças ou anexar mais territórios: "Esse é o mesmo enredo da Crimeia", disse uma porta-voz.

"Nenhuma nação civilizada irá reconhecer os resultados".

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