Um comediante francês foi detido para interrogatório nesta quarta-feira por escrever em sua conta no Facebook que se sentia "Charlie Coulibaly", um jogo de palavras que combina "Eu sou Charlie", o slogan de homenagem amplamente disseminado na França, com o nome de um dos três homens que mataram 17 pessoas no país na semana passada.
Mais de 3,7 milhões de pessoas marcharam pelas ruas da França no domingo, muitos delas segurando cartazes com a inscrição "Eu sou Charlie" para honrar a memória dos jornalistas do Charlie Hebdo, policiais e clientes de um supermercado judaico, entre outros, mortos por militantes islâmicos na semana passada.
A Justiça abriu na segunda-feira uma investigação sobre possíveis acusações de glorificar o terrorismo contra Dieudonne M'Bala M'Bala, que já foi indiciado antes por antissemitismo e zombou do assassinato do jornalista norte-americano James Foley por militantes do Estado Islâmico.
Dieudonne atraiu repercussão internacional no ano passado após o ex-atacante da seleção francesa Nicolas Anelka comemorar um gol na Primeira Liga inglesa com uma saudação popularizada por ele, que os críticos dizem ter uma conotação antissemita.
Amedy Coulibaly, cujo nome inspirou a piada, matou um policial e quatro clientes de um mercado judaico na semana passada em Paris, dois dias depois de dois atiradores matarem 12 pessoas na redação e imediações do semanário Charlie Hebdo.
O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, disse esta semana que funcionários europeus devem trabalhar mais de perto com as empresas de Internet para eliminar o discurso do ódio e o conteúdo que glorifica o terrorismo.
Dieudonne, nascido em Paris de pai camaronês e mãe francesa, diz não ser antissemita. Ele tem sido repetidamente multado por discursos de ódio na França, onde as autoridades locais em várias cidades proibiram suas apresentações por considerarem-nas uma ameaça à ordem pública.
Seu advogado, Jacques Verdier, disse à BFM-TV que prendê-lo pelo comentário "Charlie Coulibaly" é algo "completamente fora de proporção”. Se condenado por glorificar o terrorismo, Dieudonne poderia pegar até sete anos de prisão e ter de pagar multa de 5.000 euros (5.868 dólares).
(Reportagem de Chine Labbe e Nicolas Bertin)