Cresce o risco de um calote da Grécia. E o Brasil com isso?

Se um acordo não for fechado em duas semanas, o país não conseguirá pagar a dívida de 1,6 bilhões de euros com o FMI

19 jun 2015 - 09h00

Com o aprofundamento da crise na Grécia, o Banco Central do país fez um alerta de que Atenas pode acabar tomando um caminho há muito temido tanto pelos gregos como por seus colegas europeus: um calote seguido de uma saída da zona do Euro e da União Europeia.

A cada dia que passa, há menos otimismo sobre a possibilidade de que se possa romper o impasse entre representantes do governo grego e seus credores nas negociações sobre a liberação de uma parcela de 7,2 bilhões de euros do pacote de resgate da União Europeia ao país.

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A negociação é uma corrida contra o relógio para a Grécia: se um acordo não for fechado em duas semanas, o país não conseguirá pagar a dívida de 1,6 bilhões de euros com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que vence nessa data. Ou seja, terá de dar um calote.

De um lado da trincheira, credores europeus exigem mais reformas econômicas, cortes de gastos e aumentos de impostos para liberar os recursos. Do outro, o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras, eleito em janeiro com uma plataforma antiausteridade, se recusa a "violar seu mandato".

Bandeira grega no topo da Acrópolis em Atenas 14/6/2015
Bandeira grega no topo da Acrópolis em Atenas 14/6/2015
Foto: Kostas Tsironis / Reuters

Nesta quinta-feira, ministros das finanças da zona do Euro falharam mais uma vez em uma tentativa de destravar o diálogo em Luxemburgo.

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"O fracasso em obter um acordo marcaria o início de um caminho doloroso que levaria em um primeiro momento a

Grécia ao default e, em seguida, a uma saída da zona do Euro e da União Europeia", advertiu o Banco Central grego.

Mas como um cenário como esse poderia repercutir nas economias do resto do mundo ─ e do Brasil em particular?

Poderíamos ter um "efeito dominó" em que seriam atingidas, em um primeiro momento, a Europa e os países europeus mais vulneráveis e, logo, outras economias que se esforçam para retomar o crescimento?

Contágio?

Há certo consenso entre especialistas ouvidos pela BBC Brasil de que, no caso de um calote grego, o risco de contágio para outros países da região seria menor do que há alguns anos.

"Primeiro porque os bancos europeus já reduziram bastante sua exposição à Grécia. Depois, porque outras economias consideradas vulneráveis do bloco, como Espanha, Portugal e Irlanda, estão caminhando na direção de colocar suas contas em dia e retomar o crescimento", diz o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.

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Para ele, "um calote grego poderia até ter algum um impacto no ritmo de recuperação da Europa, mas não iria reverter esse processo."

O diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, compara as reverberações de um possível calote grego com o da moratória argentina de 2001.

Em um primeiro momento houve grande turbulência nos mercados da região. Com o tempo, porém, esse efeito se dissipou. "No fim, foi um desastre principalmente para a Argentina, que nunca mais voltou aos mercados financeiros internacionais", diz ele.

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Tanto Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, em Londres, João Augusto Neves, analista da Eurasia Group, e Campos Neto, da Tendências, concordam que uma moratória de Atenas poderia ter um impacto em mercados emergentes como o Brasil ao aumentar a aversão ao risco entre investidores.

"No imediato, poderíamos ter uma pressão maior sobre o câmbio, com uma desvalorização do real, por exemplo", diz Campos Neto.

"Mas esse efeito sobre os emergentes seria de curto prazo", completa Colmerauer.

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Para o diretor do EM Funding, o Brasil, "por estar em uma situação econômica complicada está na linha de frente dos países que podem sofrer com qualquer marola na economia internacional".

"Mas em função da Grécia não ter nada a ganhar com uma ruptura, não acho que essa deva ser uma preocupação para o país", diz ele.

Jogo de ameaças

A percepção de economistas e especialistas consultados pela BBC parece ser a de que uma eventual saída da Grécia da zona do Euro é pouco provável, porque não interessa nem aos gregos nem a seus colegas europeus.

"Todo mundo perde com um default na Europa", diz Ernesto Lozardo, especialista em economia internacional da FGV.

"A probabilidade de termos um cenário como esse, com contágio para outras economias, é pequena. Mas ainda assim esse é um risco que precisa ser monitorado", concorda Neves, do Eurasia Group.

Ao comentar as declarações da autoridade monetária grega, Ricupero diz que "existe um jogo de ameaças que sempre faz parte de uma negociação como essa".

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"Além disso, o que o BC grego colocou em um mesmo pacote seria resultado de um longo processo com diversos cenários possíveis. A Grécia poderia sair do euro mas não da UE, por exemplo ", afirma ele.

O ex-ministro admite, porém, que uma moratória seguida de abandono da moeda europeia pelos gregos poderia ter consequências imprevisíveis para a economia europeia e mundial.

"E o que se teme não é só o efeito econômico direto, mas também os efeitos psicológicos e políticos. Deixar uma união monetária e voltar a ter uma moeda própria seria uma decisão sem precedentes e é difícil saber o que poderia acontecer se ela fosse tomada", diz Ricupero.

Para Ricupero, o problema para o Brasil é que, hoje o país está em uma situação tão crítica "que qualquer coisa que piore o desempenho da economia mundial certamente é ruim para o país".

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"Poderíamos ter de pagar juros mais altos no mercado com um aumento da aversão dos investidores a risco. Além disso, a Europa é um grande parceiro comercial do Brasil e as exportações para a região poderiam sofrer."

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Para Lozardo, da FGV, o único efeito positivo de uma lenta recuperação europeia para o Brasil é de médio e longo prazo.

"Com um cenário ainda turvo em seus países, os investidores de longo prazo europeus, ou seja, aqueles que investem na economia real, acabam procurando oportunidades em mercados emergentes como o nosso", diz ele.

Já Neves acredita que a grande esperança do Brasil de conseguir no exterior algum impulso para a recuperação de sua economia vem dos Estados Unidos, que está se recuperando em um ritmo mais acelerado que a Europa.

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"A presidente Dilma Rousseff poderia aproveitar a visita ao país (no fim do mês) para começar a costurar um acordo que ajudasse a trazer mais investidores ao Brasil", diz ele.

"Como mostra a questão da crise grega, a Europa, no momento, ainda é uma interrogação."

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