Cresce temor de surto de Ebola; Europa e Ásia mantêm alerta

Organização Médicos Sem Fronteiras anunciou que a crise que afeta o oeste da África vai piorar e alertou que não existe uma estratégia global para lidar com o pior surto mundial da febre hemorrágica

31 jul 2014 - 01h02
(atualizado às 09h50)

O temor de que o surto do Ebola na África se espalhe para outros continentes crescia nesta quarta-feira, com países de Europa e Ásia entrando em alerta e a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) advertindo que a epidemia está fora de controle.

A MSF anunciou nessa quarta-feira que a crise que afeta o oeste da África vai piorar e alertou que não existe uma estratégia global para lidar com o pior surto mundial da febre hemorrágica, para a qual não há vacina e o índice de mortalidade é alto.

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"Se a situação não melhorar rapidamente, existe um risco real de que outros países sejam infectados", declarou o diretor de Operações da MSF, Bart Janssens.

A febre hemorrágica, que infectou mais de 1.200 pessoas e deixou mais de 670 mortos desde março na Guiné, na Libéria e em Serra Leoa, também atingiu a Nigéria, onde um viajante proveniente da Libéria morreu na última sexta-feira, 25 de julho.

Depois desse caso, a companhia aérea pan-africana ASKY decidiu suspender nesta terça seus voos de e para Libéria e Serra Leoa.

O Corpo da Paz dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira a retirada de centenas de voluntários de Guiné, Libéria e Serra Leoa devido à crescente preocupação com a epidemia de Ebola na África Ocidental.

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Uma porta-voz do Corpo da Paz informou que dois voluntários contraíram o Ebola após entrar em contato com uma vítima fatal do vírus, mas esclareceu que não apresentam os sintomas da doença e estão sob observação médica no isolamento.

"Quando receberem alta para regressar aos Estados Unidos, trabalharemos com eles para que retornem de forma segura".

Já Hong Kong indicou que vai colocar em quarentena os viajantes procedentes da África Ocidental suspeitos de alojar o vírus, e a Comissão Europeia anunciou o desbloqueio de dois milhões de euros para ajudar os países afetados.

Diante desse quadro, as autoridades da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) se reuniram com seus pares da Organização Mundial de Saúde (OMS) para avaliar as medidas a tomar.

Na Grã-Bretanha, o secretário de Relações Exteriores, Philip Hammond, presidiu o chamado "comitê COBRA" de gestão de crise para analisar a situação.

"Estamos muito atentos a isso como uma nova e crescente ameaça, com a qual temos de lidar", disse Hammond, acrescentando que a melhor maneira de enfrentar o problema é "fornecendo recursos adicionais para atacar o mal em sua origem".

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O vírus do Ebola pode matar as pessoas em questão de dias, depois de causar febre intensa e sérias dores musculares, vômitos, diarreia e, em alguns casos, insuficiência dos órgãos e sangramento.

Para agravar a situação, os trabalhadores da Saúde precisam lidar com a exaustão, a escassez de pessoal e de material, além do medo bastante real de serem contaminados pelo vírus.

Peter Piot, diretor da Escola de Medicina Tropical de Londres, que codescobriu o vírus do Ebola em 1976, relatou que "enfermeiras de alguns hospitais estão em greve, porque não têm o equipamento mínimo necessário para proteger tanto os trabalhadores quanto os pacientes e seus familiares".

Os trabalhadores do setor "com frequência não têm os recursos e veem seus colegas morrer, de modo que não me surpreende que alguns hospitais tenham sido basicamente abandonados", disse ele, em entrevista à AFP.

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A União Europeia (UE) anunciou que está pronta para tratar do vírus, se for detectado em algum de seus 28 estados-membro, revelou uma fonte do bloco consultada pela AFP em Bruxelas.

Um caso suspeito em Valencia, na Espanha, que foi isolado e depois deu negativo, mostrou que "o sistema funciona", acrescentou a mesma fonte.

Janssens, da MSF, advertiu que os governos e as organizações internacionais não têm "um panorama geral" sobre como enfrentar o surto da doença.

"Essa epidemia não tem precedentes. Está absolutamente fora de controle, e a situação apenas pode piorar, porque ainda está se propagando fora da Libéria e de Serra Leoa, para algumas zonas muito importantes", disse ao jornal "La Libre Belgique".

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs, em inglês) americanos advertiram na segunda-feira que o Ebola pode se espalhar "como um rastilho de pólvora".

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No Canadá, a imprensa local informou que um médico se colocou em quarentena de forma voluntária, após passar várias semanas no oeste da África tratando de pacientes infectados pelo vírus junto com outro médico americano, agora contaminado.

Em Serra Leoa, um outro médico que estava encarregado de um centro de tratamento contra o Ebola faleceu por causa do vírus.

O homem de 40 anos que viajou da Libéria e morreu em Lagos, na sexta-feira, foi o primeiro caso fatal de Ebola confirmado na Nigéria. Foi depois disso que a companhia ASKY suspendeu seus voos na região.

De acordo com a Agência Internacional de Aviação, o fato de o vírus ter cruzado as fronteiras pela primeira vez por via aérea pode levar a mais restrições aeronáuticas. "Até agora, (o vírus) não havia impactado a aviação comercial, mas agora estamos afetados", admitiu o secretário-geral da OACI, Raymond Benjamin. "Temos de agir rapidamente", frisou.

Em um mercado em Lagos, a poucos metros do hospital onde faleceu o viajante, vários moradores pediram ajuda internacional em conversas com a AFP. "A Nigéria está em uma grande enrascada", disse o eletricista John Ejiofor, de 40 anos. "Não temos condições de lidar com essa situação", completou.

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"Muita gente nem sabe da existência dessa doença, quanto mais de medidas preventivas", disse a professora Elizabeth Akinlabi, de 30, que acompanhava John e pediu ajuda à OMS.

Foto: BBC News Brasil

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