Em reação ao bloco formado por Rússia, Cazaquistão e Belarus, União Europeia reforça interesse na entrada da Ucrânia, Geórgia e Moldávia no bloco. Observadores questionam pressa na admissão de ex-repúblicas soviéticas.
A União Europeia e a Rússia estão em plena competição. Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, acaba de criar uma união econômica com o Cazaquistão e Belarus, o comissário de Expansão da União Europeia (UE), Stefan Füle, defende abertamente a entrada da Ucrânia, da Geórgia e da República da Moldávia na União Europeia.
Em entrevista ao jornal alemão Die Welt, Füle declarou: "Se quisermos levar a sério a transformação dos países do Leste Europeu, então também devemos usar seriamente o instrumento mais importante de que dispomos para a reorganização: a expansão."
Não se trata, porém, de uma admissão rápida, ou mesmo imediata, mas sim de uma perspectiva a longo prazo. Mesmo assim, a declaração de Füle funciona como um posicionamento frente à Rússia – num momento em que Putin dá como certa a expansão da UE e, ao mesmo tempo, amplia a área de influência de Moscou.
Isso leva à pergunta: Este seria o momento adequado para trazer à tona a admissão de antigas repúblicas soviéticas na UE?
Afirmações "pouco úteis"
Sim e não, avalia o especialista em Leste Europeu Hans-Henning Schröder. Para a Ucrânia, diz ele, a perspectiva de entrar na União Europeia pode ter um efeito estabilizador em termos de política interna. Mas o caminho para a normalização, após a mudança política em fevereiro, não pode funcionar sem levar a Rússia em consideração, particularmente porque a Ucrânia está economicamente interligada a Moscou. "Nesse contexto, a oferta de uma integração de longo prazo com a UE não é útil", afirmou Schröder em conversa com a Deutsche Welle.
O eurodeputado conservador Elmar Brok é da mesma opinião, mas por outro motivo. Segundo Brok, Füle tem razão ao dizer que a expansão da União Europeia é um dos instrumentos políticos de maior êxito para garantir a paz.
"No entanto, uma expansão só pode ir até onde a coesão esteja garantida", ressalta Brok, presidente da Comissão para Relações Exteriores do Parlamento Europeu. Ele diz ainda ver tal coesão ameaçada com o rápido crescimento do número de Estados-membros da EU.
Brok também não exclui a possibilidade de que possa haver, um dia, a adesão dos três Estados à UE. Ele adverte, porém, que este não seria o momento de colocar tal possibilidade em vista. Não por causa da Rússia, mas sim devido aos próprios Estados: dessa forma seriam levantadas falsas esperanças, afirma. Primeiramente, devem ser fechados acordos de associação para, num segundo momento, ocorrer a admissão no espaço econômico europeu.
Na última quinta-feira, durante a entrega do Prêmio Carlos Magno ao presidente do Conselho da União Europeia, Herman Van Rompuy, Ucrânia, Geórgia e República da Moldávia expressaram o desejo de uma maior proximidade com a UE. Isso foi enfatizado principalmente pelo primeiro-ministro da Moldávia, Iurie Leanca.
Para seu país, a integração ao bloco europeu é uma questão essencial, disse Leanca. Também o chefe de governo ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, manifestou interesse em uma relação mais profunda com a UE, tendo elogiado, sobretudo, o fato de que nessa Europa as fronteiras não precisam ser modificadas.
Projeto geopolítico
O especialista em Leste Europeu Schröder acredita que a atual liderança na Rússia enxerga afirmações como as de Füle como uma ameaça, terminando por instrumentalizá-las. De qualquer forma, Putin não tem nenhum motivo para mudar sua estratégia – já que ela lhe garantiu êxito interno. "Principalmente a anexação da Crimeia trouxe à atual liderança um ganho enorme de popularidade entre a própria população."
E, assim, Putin vai reforçando sua influência na região. Isso inclui também a União Econômica Eurasiática que Rússia, Cazaquistão e Belarus acabam de formar. "Existe toda uma rede de organizações com as quais a Rússia tenta organizar o espaço pós-soviético, para que Moscou também possa exercer ali grande influência institucional", afirmou Schröder
A Ucrânia ainda continua sendo uma terra incógnita. "As tentativas de incluir Yanukovytch (ex-presidente deposto da Ucrânia) na união alfandegária – mesmo com ofertas financeiras relativamente generosas – tinham como objetivo garantir essa esfera de interesse." A União Econômica Eurasiática é "naturalmente um projeto geopolítico". Afinal, com o bloco europeu, a Rússia perfaz metade de seu comércio exterior. Com Cazaquistão e Belarus, somente 7%, explicou o especialista.