A "conta" do divórcio entre a União Europeia e o Reino Unido, o chamado Brexit, poderá ultrapassar os 100 bilhões de euros para o governo britânico, informou em uma análise o jornal especializado The Financial Times nesta quarta-feira (3).
De acordo com a publicação, o número foi levantado com fontes europeias sobre os valores debatidos, especialmente, aqueles apresentados pela França e Alemanha. O montante é muito superior ao que era debatido nos bastidores até então, que ficava na casa dos 60 bilhões de euros, e seria fruto de "um endurecimento da postura" do bloco na negociação.
Questionado sobre os valores levantados pelo jornal, o ministro britânico para o Brexit, David Davis, disse que seu país "não tem nenhuma intenção" de pagar todo esse valor e que Londres está disposta a pagar "o que deve legalmente" e "não o que a União Europeia quer".
"Levamos muito a sério tanto os nossos direitos como os nossos deveres", disse Davis ressaltando que, até o momento, os líderes europeus estão sendo "duros", mas não colocaram nenhum valor na mesa de negociação.
Por sua vez, sem citar o dinheiro, o comissário europeu para a negociação do Brexit, Michael Barnier, informou que o rascunho das diretrizes para os debates com o Reino Unido, aprovado no último sábado (29) durante sessão extraordinária do Conselho Europeu, mostra a "linha de aproximação em duas fases" e se concentra "apenas na primeira parte".
"Ele demonstra onde queremos chegar até quando tivermos finalizado a primeira fase de negociações. A Grã-Bretanha deverá colocar muita energia e fazer grandes esforços sobre essas questões. Alguns criaram a ilusão de que o 'Brexit' não teria um maior impacto sobre as pessoas, mas isso não é assim", disse Barnier.
Ressaltando que será preciso buscar soluções e "precisões legais", o comissário destacou que o tempo "é muito curto e passa rápido". "É preciso colocar as coisas em ordem, em fila, resolvendo com calma para não comprometer as negociações sobre o artigo 50", acrescentou falando sobre o artigo que fala sobre a saída de um país do bloco no Tratado de Lisboa.
O tom da negociação entre europeus e britânicos sempre foi áspero desde que a população aprovou em referendo, no mês de junho de 2016, a saída do Reino Unido da União Europeia. No entanto, desde que foi notificada oficialmente pelo governo de Theresa May, no dia 29 de março, o troca de acusações tem aumentado e o clima tem ficado cada vez pior entre os dois lados.
As negociações em si, que já deveriam ter começado, foram paralisadas temporariamente após May convocar eleições gerais no Reino Unido, que serão realizadas no dia 8 de junho. Nesta quarta, após uma reunião com a rainha Elizabeth II, houve a formalização do Parlamento britânico.
Se por um lado, a medida deve dar mais força à sua posição de premier nos debates, por outro acaba atrasando os debates e aumentando o clima tenso.
De acordo com o artigo 50, o prazo para as negociações de saída de um país é de dois anos - que podem ser prorrogados mediante acordo entre as partes.