Eleição na UE: analistas minimizam ascensão de nacionalistas

Novos deputados poderiam dificultar as negociações de acordos comerciais e podem pressionar por políticas de imigração mais restritivas

22 mai 2014 - 07h32
(atualizado às 08h15)
Entre quinta-feira e domingo 28 países votarão em eleições para o Parlamento Europeu
Entre quinta-feira e domingo 28 países votarão em eleições para o Parlamento Europeu
Foto: BBC News Brasil

As eleições para o Parlamento Europeu, realizadas entre esta quinta-feira e domingo nos 28 países da União Europeia (UE), poderão marcar uma ascensão histórica de partidos nacionalistas e eurocéticos (contrários à integração), que, segundo pesquisas, conquistariam quase 30% dos 751 assentos da casa.

Analistas ouvidos pela BBC Brasil afirmam que esses novos deputados poderiam dificultar as negociações de acordos comerciais como as que a UE mantém com o Mercosul e podem pressionar por políticas de imigração mais restritivas.

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Desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, em 2012, o Parlamento Europeu tem poderes para emendar e vetar propostas legislativas nessas duas áreas, entre outras.

Entretanto, os entrevistados dizem que os parlamentares de tendência protecionista não teriam impacto sobre as decisões finais, já que os três partidos tradicionais - Popular, Socialista e Liberal-Democrata - seguiriam sendo maioria na Eurocâmara, com 489 assentos.

Comércio

"Esse grupo (de eurocéticos) poderá parecer um obstáculo adicional para a conclusão das negociações (do tratado de livre comércio entre) União Europeia e Mercosul e a gestão eficaz das relações entre a União Europeia e o Brasil", afirmou Franco Perroni, diretor de relações institucionais com o Parlamento Europeu da EUBrasil, um lobby dedicado a promover as relações empresariais entre o Brasil e o bloco europeu.

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"Entretanto, precisamos primeiro ver qual será o grau de representatividade desses eleitos nos órgãos do Parlamento Europeu, como a comissão de comércio internacional e a nova delegação para as relações com o Brasil", afirmou.

São esses órgãos que elaboram as propostas de emendas, relatórios e posições negociadoras assumidas pelo Parlamento depois de votadas em sessão plenária.

Perroni confia que os grupos dominantes no Parlamento Europeu, "abertos a uma maior integração", "neutralizem" as ações negativas dos eurocéticos com respeito às negociações União Europeia-Mercosul.

Mas para Pieter Cleppe, analista do centro de estudos Open Europe, alguns partidos tradicionais têm assumido posições que vão ao encontro das plataformas protecionistas.

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Ele cita como exemplo o Partido Social Democrata da Alemanha, que na semana passada pediu uma pausa nas negociações do tratado comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos.

"Essa oposição se deve a uma certa crítica contra os Estados Unidos, em particular. Mas, se a atual tendência continua, é só questão de tempo para que os outros acordos comerciais comecem a ser atacados", afirmou.

Imigração

Andreia Ghimis, analista do centro de estudos Europen Policy Centre, disse acreditar que um bom resultado dos partidos extremistas nessas eleições lhes daria "mais força para influenciar na agenda política" europeia.

Ela também afirmou que muitos dos principais partidos têm se alinhado à posição dos populistas também em matéria de imigração.

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"É uma tentativa de atrair mais atenção da mídia e ganhar mais votos. Resta saber se, uma vez eleitos, esses discursos anti-imigração se traduzirão em atos ou serão deixados de lado", disse.

Giles Merritt, secretário geral do centro de estudods Friends of Europe, acha que a chegada de um novo bloco de extrema-direita pode eventualmente fortalecer o "debate" na casa.

"O reforço dos partidos anti-imigração no Parlamento Europeu deve estimular um debate muito melhor e acalorado sobre o futuro da União Europeia. Um Parlamento correto tem drama, faz barulho, é um teatro político", afirmou.

Ascensão

Uma pesquisa publicada pela organização independente PollWatch na quarta-feira indica que o bloco de extrema-direita poderá obter 38 assentos na Eurocâmara - mais que os 25 exigidos entre sete países para formar um novo grupo político.

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Liderados pelo Front Nacional francês - de Marine Le Pen - eles formariam a Aliança Europeia pela Liberdade (EAF, do inglês), junto com PVV (Holanda), FPÖ (Austria), Vlaams Belang (Bélgica), Lega Nord (Itália), Partido Nacional Eslovaco e Democratas da Suécia.

Ao mesmo tempo, o grupo eurocético Europa da Liberdade e Democracia (EFD, do inglês), liderado pelo britânico Ukip, de Nigel Farage, aumentaria sua representação de 31 para 66 assentos, passando a ser a quarta maior força política no plenário.

Somando os deputados de EAF, EFD e não afiliados, o número de parlamentares de tendência protecionista poderia aproximar-se a 30% dos 751 assentos.

Por outro lado, a PollWatch destaca que, durante a última legislação, os votos dos deputados dos sete partidos que formariam a aliança EAF só coincidiram em 51% dos casos - o que indicaria um potencial de desentendimento no novo grupo político.

Em 2007, a formação de extrema-direita "Identidade, Tradição e Soberania", que reunia deputados do Front Nacional, do Vlaams Belang e do italiano Alternativa Sociale, de Alessandra Mussolini, foi dissolvido dez meses depois de sua criação devido a uma disputa interna.

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