O presidente da França, François Hollande, procurou nesta segunda-feira curar a ressaca das eleições europeias, que confirmaram a declínio dos socialistas, resultado que motivou pedidos de mudança por parte das outras forças políticas e recebido com firmeza pelo Executivo.
A reunião de crise para analisar os resultados reuniu hoje no Palácio do Eliseu o primeiro-ministro, Manuel Valls, e os ministros das Relações Exteriores, Laurent Fabius, Finanças, Michel Sapin, Interior, Bernard Cazeneuve, Assuntos Europeus, Harlem Désir, e Agricultura, Stéphane Le Foll (que é também porta-voz do governo).
O silêncio na saída desse encontro por parte dos participantes refletiu, segundo a imprensa, a dificuldade de se encontrar uma resposta a nível europeu, que poderá chegar amanhã ao término do Conselho Europeu de Bruxelas.
A apuração final na França terminou com a ultradireitista Frente Nacional (FN) com 24,85% dos votos, equivalente a 24 das 74 cadeiras do país, contra 20,8% (20 cadeiras) da conservadora União por um Movimento Popular (UMP), e 13,98% (14) do Partido Socialista.
Isso significa que pela primeira vez na história do país a FN foi o partido mais votado em uma eleição. O resultado foi considerado um terremoto, um "Big Bang" e uma devastação da paisagem político tanto pela imprensa como por representantes dos principais partidos.
Valls tinha afirmado que qualquer resultado que saísse das urnas não levaria a uma remodelação do governo ou uma mudança de linha econômica, e hoje frisou esta posição, pedindo paciência para que a política que está sendo realizada resulte em algo positivo.
"Se traçou um roteiro, e eu não quero trocá-lo. Se necessita de tempo, e peço tempo", afirmou em entrevista para a emissora "RTL", na qual lembrou que o mandato dado aos socialistas é de cinco anos, e por isso o partido deverá ser julgado após o final desse período.
Menos paciente se mostrou a líder da Frente Nacional, Marine le Pen, que reivindicou hoje a dissolução da Assembleia Nacional e eleições que reflitam a nova orientação política do país, demonstrada tanto nas eleições europeias como nas municipais, realizadas em março.
"Assistimos a uma rejeição global do sistema. É uma espécie de revolução patriótica", disse em declarações ao "Le Monde". Marine le Pen afirmou ainda que nasceu uma nova bipolarização no país, protagonizada pela FN e pela UMP e, com ela, uma "recomposição da vida política".
Para Hollande, segundo os analistas, já não restam cartuchos para reverter a situação, após a remodelação governamental que substituiu em março Jean-Marc Ayrault por Valls, e o anúncio de novas medidas fiscais para as classes mais populares, que vão exonerar do pagamento de imposto sobre a renda 1,8 milhão de pessoas.
O primeiro-ministro afirmou hoje que a pressão fiscal se transformou em algo "insuportável" para os cidadãos e que serão necessárias reduções de impostos adicionais, mas não anunciou novos planos que amenizariam a decepção da população.
"Este país já não funciona", disse hoje o presidente da conservadora UMP, Jean-François Copé, partido envolvido em uma crise interna por suposto desvio de dinheiro e pelo fracasso que significou as eleições, até o ponto de não se descartar uma saída do governo.
As eleições de março deram ao partido, segundo a imprensa, um "falso sopro de ar fresco", o que unido a uma desacreditada maioria governamental e a uma impopularidade histórica de Hollande, deixou o país com a insólita conjuntura de um triunfo da FN.
Este partido, de acordo com uma análise do instituto Ipsos, teve ontem seu melhore resultado entre as classes populares e os cidadãos menores de 35 anos, e conseguiu também que um de cada três cidadãos entrevistado considerasse que a legenda fez a melhor campanha eleitoral.