Quando subiu ao palanque para ouvir os resultados da votação em Maidenhead, seu distrito eleitoral, na madrugada desta sexta-feira, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, enfrentava a pior noite de sua carreira política.
E sua expressão fechada tornou ainda mais surreal a situação para quem observava os candidatos a seu redor: além de vereadores buscando um upgrade na carreira política, May dividia espaço no palanque com Elmo (o personagem do programa infantil Vila Sésamo) e um homem conhecido como Lorde Cabeça de Balde - e que se veste com uma espécie de cavaleiro medieval.
Sejam bem-vindos ao lado insólito e peculiar da política britânica.
Ao contrário do Brasil, a legislação eleitoral não exige filiação partidária e abre espaço para a participação de candidatos independentes. Com raras exceções (funcionários públicos e membros das Forças Armadas, por exemplo) qualquer cidadão britânico pode se candidatar.
E tal direito é usufruído por uma legião de pessoas em busca de atenção para causas particulares, para protestos cômico-anarquistas ou apenas por 15 minutos de fama. "Elmo", por exemplo, é o alter ego de Bobby Smith, um ativista que luta pelos direitos de pais em situação de alienação parental.
Outro candidato excêntrico foi o cômico Mr. Fish Finger (Sr. Palito de Peixe), que concorreu no distrito de Westmorland and Lonsdale - e levou 309 votos.
A legislação também é liberal no que diz respeito a domicílios eleitorais: um candidato não precisa viver no distrito que quer representar no Parlamento. Basta o endosso de 10 moradores. Isso permite que independentes como Smith escolham distritos mais badalados. Em 2015, por exemplo, ele concorreu pelo distrito de Witney, o mesmo do então premiê, David Cameron.
Naquela ocasião, Elmo teve apenas 57 votos - Cameron teve mais de 35 mil. Pior ainda foi sua "disputa" com May em Maidenhead: apenas três pessoas votaram no candidato.
Em ambos os casos, Smith teve prejuízo, já que candidatos nas eleições britânicas precisam pagar um depósito de 500 libras esterlinas (cerca de R$ 2.100), que só é devolvido para quem obtiver pelo menos 5% dos votos válidos.
Mas o dinheiro parece importar pouco. Candidatos e partidos que defendem plataformas únicas não têm como objetivo assumir o governo, mas sim chamar a atenção para causas "menores" no espectro político, como é o caso de candidatos do Partido dos Direitos Animais, o Partido Jovem, ou Partido Pirata.
Ou mesmo simplesmente aparecer. O Partido dos Monstros Malucos participa das eleições desde 1983 com o objetivo puro e simples de ser um veículos para votos de protesto, algo evidenciado por uma plataforma eleitoral que inclui a criação de uma moeda de 99 centavos, ou a promessa de seu líder, Howling Laud Hope, de renunciar caso algum candidato consiga obter pelo menos 5% dos votos - o que nunca aconteceu na história da legenda.
"Se algum de nossos candidatos recebesse esse tanto de votos, seria um sinal de que não estava sendo maluco o suficiente", afirma Hope.
O slogan da legenda, por sinal, é "Vote pela Insanidade".
No entanto, o sucesso eleitoral de candidatos "nanicos" é raro: nos últimos 67 anos, apenas 13 independentes conseguiram chegar ao Parlamento. Nenhum deles de partidos mais exóticos.