Escoceses vão às urnas discutir independência. Entenda

Escoceses decide em duas semanas se deixam ou não o Reino Unido; conheça cinco temas que geram debates acalorados

4 set 2014 - 15h39
<p>Alguns acreditam que a Escócia está mais segura fazendo parte do Reino Unido</p>
Alguns acreditam que a Escócia está mais segura fazendo parte do Reino Unido
Foto: BBC News Brasil

No próximo dia 18 de setembro, os escoceses vão às ruas para decidir se permanecem no Reino Unido - junto com Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte - ou se seguem o caminho da independência.

Ao longo de séculos de história, os escoceses lutaram ferrenhamente para manter-se como nação soberana. A atual união política com a Inglaterra, oficializada há 305 anos, ocorreu, em parte, em meio a uma séria crise financeira.

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As pesquisas, que antes apontavam uma vitória confortável do "não" à separação, hoje sugerem uma disputa apertada. Entre os cinco milhões de escoceses, os que argumentam pela independência dizem que a economia, as políticas sociais e a criatividade escocesas floresceriam se o país tivesse mais autonomia.

Para o campo oposto, a Escócia está mais segura fazendo parte do Reino Unido. Muitos se contentariam com mais autonomia financeira e legal para o Parlamento escocês - já o Legislativo com maior grau de "poderes devolvidos" por Westminster à população local de Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales.

Dois debates acalorados entre o líder da campanha Better Together (Melhor Juntos), Alistair Darling, e o líder do movimento nacionalista escocês, Yes Scotland (Sim, Escócia), Alex Salmond, ainda não persuadiram totalmente os indecisos. 

Salmond, líder do Partido Nacional Escocês, governista, e chefe do governo escocês, e Darling, representante do Partido Trabalhista britânico, deixaram de lado as amenidades e partiram para a ofensiva na tentativa de ganhar os eleitores.

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A BBC Brasil preparou uma lista de cinco pontos que os leitores levarão em conta na hora de fazer sua escolha.

1. Moeda

A questão da moeda a ser adotada por uma Escócia independente tem atraído atenção na campanha do referendo. Nos debates, Darling indicou que caso a Escócia vote pela independência, não poderá manter a libra esterlina como moeda nacional.

Salmond diz que é perfeitamente possível para a Escócia continuar usando a libra, da mesma forma que outras nações usam o dólar sem a necessidade de pedir permissão ao governo americano. Entretanto, o descompasso entre as duas economias pode trazer consequências ruins para o novo país.

Por exemplo, no caso de um aumento na taxa de juros, que seria decidida apenas pelo Banco Central ao sul da fronteira, sem qualquer controle de Edimburgo.

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Se abrir mão da libra, a autoridade monetária escocesa teria de provar aos investidores que tem competência para administrar sua própria moeda sem sair imprimindo dinheiro quando o governo decidisse gastar mais. Até que os mercados se convencessem disso, argumentam os céticos, a Escócia teria de pagar juros mais altos sobre empréstimos.

A campanha do "não" também alerta para a possibilidade de algumas empresas britânicas deixarem a Escócia. A Inglaterra continuaria sendo o maior parceiro econômico de uma Escócia independente; no entanto, variações na taxa de câmbio entre a libra e a nova moeda escocesa poderiam elevar os custos para as empresas, criando incentivos para que se mudassem.

O desejo de pertencer a um mercado maior (o inglês) ou, no caso de empresas do setor financeiro, de fazer parte do principal centro financeiro da Europa - Londres -, também poderia levar empresas a cruzar a fronteira.

Essas questões são consideradas por Salmond como uma forma de intimidar o povo escocês.

Ele acredita que uma união monetária por meio da libra pode ser negociada entre as duas partes.

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Caso contrário, argumenta, a Escócia teria direito a recusar responsabilidade sobre uma fração da dívida britânica.

A Escócia poderia ainda adotar o euro, a moeda da União Europeia, mas o governo escocês já disse que não é favorável a essa opção.

2. Petróleo

As reservas de gás e petróleo do Mar do Norte são outro tema quentíssimo nesse referendo.

Salmond diz que uma Escócia independente reservaria um décimo da renda do petróleo - que a ala Yes Scotland calcula ser equivalente a £1 bilhão, ou US$ 1,6 bilhão - para criar um fundo de reserva que acumularia, em uma geração, £30 bilhões, quase US$ 50 bilhões. 

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, diz que a exploração do petróleo no Mar do Norte tem sido uma história de sucesso para a Grã-Bretanha. Mas nesse momento, em que a extração vai se tornando mais difícil, é importante que a indústria do petróleo possa se apoiar nos "ombros largos" do Reino Unido, argumenta.

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Parte do problema é que as reservas de petróleo não são renováveis, e não há consenso, entre especialistas, em relação à quantidade de petróleo que ainda resta na região.

O governo britânico prevê que os impostos arrecadados com o petróleo vão cair de £6 bilhões em 2012-13 para £3,5 bilhões em 2018-19.

O governo escocês calcula que mais de 90% dos £6 bilhões arrecadados vieram de águas escocesas. As previsões de renda do "setor escocês" em 2018-19 variam entre £3,2 bilhões e £8 bilhões.

Previsões desse tipo são complicadas. Elas levam em conta a quantidade extraída de petróleo e gás, os preços globais, índices de impostos e flutuações na taxa de câmbio entre a libra e o dólar.

Alguns especialistas creem que os números escoceses estejam superestimados em até 60%.

Outros, que os ganhos escoceses futuros podem ser seis vezes maiores do que os britânicos estimam. A dúvida não facilita uma decisão por parte do eleitorado.

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3. Fronteiras

Declarações de que a fronteira entre os dois países teria de ser controlada caso a Escócia se tornasse independente também têm gerado discussões.

A polêmica resulta das posições de Salmond em relação à imigração. Ele espera aumentar a entrada de imigrantes na Escócia em 10% - de 22 mil para 24 mil pessoas por ano - para expandir a força de trabalho e, dessa forma, contribuir para financiar a aposentadoria dos escoceses.

O chefe do governo escocês argumenta que uma Escócia independente não precisaria de postos de controle na fronteira, já que o país continuaria a integrar a área de transito livre de que fazem parte o restante do Reino Unido, a República da Irlanda, a Ilha de Man e as ilhas no Canal da Mancha.

Atualmente, Reino Unido e República da Irlanda não fazem parte do chamado acordo de Schengen, que permite trânsito livre, sem passaporte, entre vários países europeus.

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A ministra do Interior britânica, Theresa May, disse considerar a possibilidade de "algum tipo de controle de fronteira". Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, disse que um governo trabalhista também consideraria a criação de postos na fronteira se a Escócia optasse pela independência.

A preocupação é que as regras de imigração em cada lado da fronteira sejam diferentes, servindo de incentivo para imigrantes ilegais desembarcarem na Escócia e para então se deslocarem para a Inglaterra.

Além disso, existe a questão da entrada ou não da Escócia na União Europeia. Analistas acreditam que o novo país muito provavelmente teria de solicitar sua entrada na União Europeia, em cujo caso talvez fosse obrigada a assinar o acordo de Schengen.

Se isto acontecer, Escócia e o país ao sul da fronteira teriam regras migratórias diferentes, implicando a necessidade de algum tipo de controle fronteiriço.

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Entre as questões que mais preocupam os eleitores britânicos, a imigração só perde em importância para o tópico economia, segundo pesquisas de opinião.

4. A União Europeia

A questão da entrada na UE não se refere apenas às regras migratórias. A dúvida é se uma Escócia independente teria de negociar sua participação no bloco como país integrante ou partindo do zero, como país novato.

Para o Yes Scotland, a negociação se daria pela continuidade do status atual; a ala Better Together diz que a Escócia teria de sair da EU e depois requisitar admissão, o que levaria anos. 

O atual presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, diz que seria dificílimo para a Escócia ser admitida na UE. Mas intelectuais como a acadêmica da Universidade de Oxford Sionaidh Douglas-Scott creem que o processo seria relativamente simples.

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Para o Reino Unido, a questão é importante porque influenciaria as suas relações com o novo país em áreas como direitos humanos e comércio exterior.

5. Defesa nuclear

Outro tema controverso é o sistema britânico de defesa nuclear - atualmente composto de quatro submarinos carregados com os mísseis Trident. O programa está instalado na Base Naval de 

Clyde, na costa oeste da Escócia, desde a década de 1960.

O governo britânico diz que não tem planos de transferir o sistema caso a Escócia vote pela independência.

Tanto os partidos Conservador quanto Trabalhista britânicos querem que o sistema atual seja substituído por outro, igual, no final da década de 2020. Liberal Democratas querem diminuir o número de submarinos para três.

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No entanto, o governo escocês diz que, se a Escócia votar "sim", o programa Trident será removido quando as armas forem recolhidas, em 2020. Salmond propõe incluir em uma Constituição a proibição à instalação de armas nucleares no país.

Alguns analistas acreditam que a independência da Escócia equivaleria a uma "declaração unilateral de desarmamento" britânica

Fonte: Terra
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