Espanha: deputados aprovam abdicação do rei Juan Carlos

Medida abre caminho para a posse de Felipe VI ainda este mês

11 jun 2014 - 08h07
(atualizado às 08h44)
<p>Parlamentares de esquerda pediram a realização de um referendo durante a sessão que aprovou a abdicação do rei Juan Carlos e a adesão do príncipe Felipe, em Madri em 11 de junho</p>
Parlamentares de esquerda pediram a realização de um referendo durante a sessão que aprovou a abdicação do rei Juan Carlos e a adesão do príncipe Felipe, em Madri em 11 de junho
Foto: Reuters

Os deputados da Espanha aprovaram nesta quarta-feira, por ampla maioria, a abdicação do rei Juan Carlos, o que abre caminho para a proclamação em breve de Felipe VI, apesar dos pedidos para um referendo sobre monarquia ou república.

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A lei foi aprovada por 299 votos a favor, 19 contrários e 23 abstenções. Os deputados votaram de viva voz e de pé, em um procedimento solene e pouco habitual solicitado por alguns partidos pequenos contrários à monarquia.

Os partidos contrários à realeza apresentaram cinco emendas para solicitar que o país decidisse por referendo a manutenção da monarquia ou o retorno da república.

Mas a Câmara rejeitou todas por ampla maioria.

Os dois grandes partidos do país, o governamental Partido Popular (PP, direita) e o opositor Partido Socialista (PSOE), que somam mais de 80% das cadeiras no Parlamento e ainda receberam o apoio de algumas formações pequenas, expressaram com clareza o respaldo à Coroa.

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"Não estamos aqui para modificar os fatos, e sim para destacar com nossa lei que na Espanha contamos com uma monarquia parlamentar", instaurada pela Constituição de 1978, aprovada por referendo, afirmou o chefe de Governo, o conservador Mariano Rajoy, no início de um debate de três horas e que passou por trâmite urgente.

"Devemos decidir sobre a abdicação e apenas sobre a abdicação, não sobre a sucessão do rei Juan Carlos I por seu filho, o príncipe das Astúrias", destacou o líder socialista Alfredo Pérez Rubalcaba, depois de ter pressionado os deputados republicanos de sua bancada - apenas dois romperam a disciplina de voto.

O rei Juan Carlos, de 76 anos, um dos principais responsáveis pelo retorno da democracia à Espanha após a ditadura franquista (1939-1975), mas com uma imagem abalada nos últimos anos por vários escândalos, surpreendeu o país ao anunciar em 2 de junho a decisão de abdicar.

Seu filho, de 46 anos, deve ser proclamado como novo rei Felipe VI em uma cerimônia diante dos deputados e senadores em 19 de junho, sem a presença de convidados estrangeiros nem cerimônia religiosa, após a aprovação da lei em 17 de junho pelo Senado.

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Apesar de ter escapado da queda de popularidade do pai e da monarquia, como outras instituições em um país abalado por vários casos de corrupção, o novo rei deverá conquistar sua legitimidade como fez Juan Carlos ao estimular a democracia após sua coroação em 1975 e evitar um golpe de Estado militar em 1981.

Com gritos de "Espanha, amanhã será republicana", após o anúncio da decisão do rei, dezenas de milhares de espanhóis saíram às ruas de todo o país, com a bandeira vermelha, amarela e roxa da Segunda República espanhola (1931-1939).

Nesta quarta-feira, muitas vozes críticas falaram no Parlamento.

"A chefia de Estado, um senhor vai herdar como se fosse uma propriedade privada. E os cidadãos que opinam?", questionou o líder da Esquerda Unida, Cayo Lara. Ele recordou os republicanos mortos na Guerra Civil (1936-1939) ou exilados durante o franquismo.

"Todos os menores de 56 anos não votaram na Constituição, ou seja, dos 34 milhões e meio de cidadãos que hoje têm direito a voto, mais de 22 milhões, 64%, não decidiram sobre o modelo de Estado", destacou Joan Baldoví, deputado do Bloco Nacionalista Valenciano, recordando que em 1978 a idade legal para votar era 21 anos.

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"O baralho está viciado, saem apenas reis", afirmou Sabino Cuadras, da coalizão separatista basca Amaiur, que não participou na votação.

Os separatistas catalães do ERC votaram "não" e os nacionalistas catalães CiU e bascos PNV optaram pela abstenção, ilustrando as turbulências territoriais que Felipe VI enfrentará em breve.

Rubalcaba pediu aos congressistas que "não desperdicem a oportunidade política que hoje se abre, nem o impulso pela chegada de um novo rei" para realizar em breve uma reforma constitucional que solucione problemas como o crescente separatismo na Catalunha, decidida a organizar em 9 de novembro um referendo de autodeterminação considerado "ilegal" por Rajoy.

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