Poucos dias depois de anunciar sua abdicação, o rei Juan Carlos da Espanha presidiu neste domingo sua última cerimônia militar antes de ser substituído por seu filho Felipe, que se prepara para chegar ao trono num momento em que muitos espanhóis colocam a monarquia em xeque.
O rei, de 76 anos, presidiu, vestido com um uniforme caqui e apoiado em uma bengala, uma cerimônia em "homenagem aos que deram sua vida pela Espanha", por ocasião do dia das Forças Armadas em Madri.
O futuro Felipe VI, vestido de branco, permaneceu em segundo plano; ao seu lado estava a princesa Letizia, sorridente com um traje bege, e a rainha Sofía, de roxo. Atrás das barreiras de segurança, centenas de pessoas seguravam a bandeira espanhola, vermelha e amarela.
Nesta semana, Juan Carlos continuará cumprindo com sua agenda de chefe de Estado. No entanto, a transição já começou desde o anúncio feito pelo rei, em 2 de junho, de abdicar da Coroa deixando seu filho à frente de um país em crise que duvida da monarquia, questionada pelos escândalos.
Uma situação complexa que se refletiu em uma pesquisa, publicada pelo jornal El País, segundo a qual a maioria dos espanhóis é a favor de convocar no futuro um referendo sobre a monarquia, embora a metade deles siga apoiando esta instituição.
Cerca de 62% das pessoas ouvidas nos dias 4 e 5 de junho são a favor de convocar "em algum momento" um referendo para decidir se a Espanha conserva a monarquia ou volta a ser uma república.
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Mas se tiverem que se pronunciar, 49% dos espanhóis escolheriam uma monarquia com Felipe como rei, contra 36% que optariam por uma república, indica a pesquisa. A segunda república espanhola, proclamada em abril de 1931, acabou em 1939 com a instauração da ditadura franquista depois de três anos de guerra civil. Após a morte de Francisco Franco, no dia 20 de novembro de 1975, a monarquia foi restaurada.
Desde então Juan Carlos conseguiu se legitimar dirigindo uma transição até a aprovação, em 1978 por referendo, da Constituição democrática. Mas muitos jovens, que não viveram aquela época e são as maiores vítimas do desemprego no país, colocam em xeque a função da monarquia atualmente.
Desde a divulgação da notícia da abdicação, dezenas de milhares de opositores à Coroa protestaram em diversas cidades espanholas pedindo um referendo. No sábado ocorreram novas manifestações nas quais se dizia "Espanha, amanhã, será republicana!".
"Acredito que antes que nos imponham que deveremos seguir a monarquia, o povo tem que falar", afirmava Carmen Rodríguez, funcionária administrativa de 55 anos.
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"Isso não é um 'não' à monarquia, mas um 'sim' a um referendo", acrescentava, considerando que a Espanha aceitou a figura de Juan Carlos em 1975 "porque vinha de uma ditadura onde havia muita repressão e muito medo".
Até o momento, Felipe era o único membro da Casa Real que resistia à queda da popularidade da instituição. Mas Felipe VI agora terá que demonstrar sua legitimidade. Segundo a programação, será proclamado no dia 19 de junho ante o Parlamento em uma cerimonia laica e sem convidados estrangeiros.
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76 anos se passaram desde 5 de janeiro de 1938, quando María de las Mercedes ganhou, em Roma, o seu primeiro filho, que seria chamado de Juan Carlos Alfonso Victor Maria de Borbón y Borbon-Dos Sicilias - o rei Juan Carlos. Don Juan (pai) abdicou em 1941 em favor de seu filho, a quem seus seguidores começaram a chamar Juanito III. Uma infância marcada pela solidão de embarque e responsabilidade como futuro rei da Espanha
Foto: Terra Espanha
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O verão de 1954 uniria Don Juan Carlos e a princesa Sofia. A Rainha Frederika da Grécia, mãe da princesa Sofia, organizou um cruzeiro no barco Agamenón para promover as ilhas do mediterrâneo como destino turístico. Na viagem, embarcaram 110 pessoas de Famílias Reais, entre os quais, os Condes de Barcelona acompanhados por Pilar de Espanha, Duquesa de Badajoz, e o Príncipe Juan Carlos
Foto: Terra Espanha
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Após o encontro a bordo do Agamenón, o Rei Juan Carlos e a princesa Sofia não se encontraram mais, até 1960, durante os Jogos Olímpicos de Roma. Em 1961, durante o verão, Don Juan Carlos enviou um cartão postal para a princesa. Em maio de 1962, eles se casaram na Igreja de São Dionísio, em Atenas
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Em 22 de novembro de 1975, com a morte de Francisco Franco, Don Juan Carlos ele foi ao tribunal para se proclamar Rei da Espanha. Com a cerimônia do país, encerrava-se uma etapa e se iniciava uma nova história do país. Vestindo o uniforme de capitão general do Exército, Don Juan Carlos jurou fidelidade aos princípios do Movimento Nacional e Leis Fundamentais do Estado: Não, não é uma ou duas poltronas para o Rei e a Rainha. Acima de nós, tem de estar a família real. A Monarquia, a Coroa não é só o Rei, disse
Foto: Terra Espanha
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Poucos dias depois, em 27 de novembro de 1975, o presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Vicente Enrique y Tarancón, o jovem casal foi coroado como Rei e Rainha da Espanha. Minutos depois, o carro casal desfilou pelas ruas da capital até o Palácio Real, local escolhido para a recepção oficial, onde acenaram pela primeira vez como reis do país
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Uma vez apresentados para a sociedade como reis, o casal viveu um de sues melhores momentos pessoais, desfrutando do matrimônio com o apoio do povo do país
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A juventude de Don Juan Carlos foi marcada por duras exigências
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Em 1957, Don Juan se incorporou à Escola Nava da Marinha, quando descobriu sua paixão pela navegação. Em 1972, ganhou vários prêmios em corridas a bordo do barco Bribón
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Em 30 de janeiro de 1968, nasceu o sucessor da Coroa, o terceiro filho de Juan Carlos, chamado Felipe; o príncipe foi batizado dias depois ao nascimento em Zarzuela, sendo a rainha Victoria Eugenia e Don Juan os padrinhos
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Em 1963, Don Juan Carlos e Sofia decidiram se instalar em La Zarzuela, em Madri, descartando, imediatamente, o Palácio do Oriente
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O rei disse, mais de uma vez, que a rainha Sofia era uma mulher muito disciplinada, companheira nos momentos difíceis e que cumpria perfeitamente seu papel como mãe, rainha e esposa
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Desde a chegada de Felipe, seu único filho homem, Don Juan se volta para a educação do futuro herdeiro
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Um dos momentos mais difíceis vividos por Don Juan Carlos foi em fevereiro de 1981, quando, durante a sessão de posse do presidente José Calvo Sotelo, no Congresso dos Deputados, centenas de policiais entraram no prédio numa tentativa frustrada de golpe de Estado conhecido como 23-F; o rei fez um pronunciamento transmitido pela televisão de dentro de seu escritório, defendendo a democracia
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Por ser o herdeiro do trono espanhol, Felipe recebeu uma educação diferente de suas irmãs, mais dura e disciplinada
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Para dar fim aos caprichos vividos por Felipe, a rainha Sofia enviou o filho ao Lakefield College, no Canadá
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Desde muito pequeno, Don Juan Carlos passou ensinamentos ao filho para que pudesse cumprir suas funções como herdeiro da Coroa
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Desde 1995, o príncipe Felipe viaja por toda a Espanha, seguindo os passos de seu pai que mais de uma vez destacou a dificuldade de seu ofício
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Em 22 de maio de 2004, o príncipe Felipe se casou com Letizia, em uma cerimônia celebrada na Catedral de Almudena, Espanha
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Algumas especulações sobre a relação entre o Rei Juan Carlos e a princesa apontavam dificuldades de entendimento entre eles; porém, o monarca sempre demonstrou apoio a ela, como futura rainha de seu país
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Juan Carlos foi apontado várias vezes como uma pessoa muito ligada à família
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No dia 2 de junho de 2014, Juan Carlos abdicou do poder em favor do filho, Felipe, afirmando uma "nova etapa" ao país
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