Depois de um dia de silêncio forçado, descontentes com o regime monárquico finalmente conseguiram se encontrar na Porta do Sol, no centro de Madrid, às 20h. Quatro manifestações haviam sido convocadas para o espaço no dia de hoje e tiveram de ser canceladas após o Tribunal Superior de Justiça de Madri proibir a realização de protestos durante a proclamação do novo Rei.
No fim do dia, mesmo sem autorização oficial, algumas centenas de manifestantes levaram à Porta do Sol as bandeiras da república, proibidas durante o dia. Apesar do fim da cerimônia oficial, a praça seguia fechada, com a estação do metrô inoperante e forte presença policial.
Ao contrário de outras manifestações republicanas realizadas no mesmo espaço, dessa vez o clima era de tensão. “Trouxe a bandeira escondida. Só tirei agora”, dizia o técnico em eletrônica Miguel García, que se mostrava surpreso com o forte aparato do Estado. “Quase há mais policiais que manifestantes”.
Os movimentos sociais contam ao menos quatro detidos durante o protesto. Um deles, mesmo caído, foi arrastado pelos policiais por cerca de 100 metros até o camburão. Diante da confusão, alguns estabelecimentos comerciais próximos fecharam as portas com os clientes em seu interior.
“Temos direito de nos manifestar”, gritava por debaixo de uma fita isolante com os dizeres “Liberdade” Gema Carretero, 61 anos. Filha de um dos mortos durante a ditadura de Franco, Gema pedia não só por um referendo, mas também pela apuração dos casos de morte e desaparecimento durante o governo do general.
Nervosos, os manifestantes alternavam gritos contra a monarquia e contra a violência policial. “Te chamam democracia, mas não é” era um dos mais ouvidos. Quem estava na rua, promete voltar, apesar da recepção violenta recebida hoje.
Referendo popular
Diante da negação do governo em realizar um referendo, 50 coletivos espanhois decidiram tomar a iniciativa de organizar eles mesmos uma consulta popular. Os resultados do processo, que começou no dia 14 e durou até o meio-dia de hoje (19), foram divulgado em uma roda de imprensa às 19h, antes da concentração na Porta do Sol.
A convocatória reuniu 80.969 votantes, que responderam duas perguntas: uma sobre a realização do referendo e outra sobre a escolha do chefe de governo por meio de sufrágio universal. O voto foi presencial ou pela internet.
Os resultados foram uma esmagadora maioria a favor da realização de um referendo: 98,11% dos votantes acreditam que o povo deve escolher o regime político do País. Em relação à escolha do chefe de Estado por meio do voto, 95,8% disseram-se favoráveis.
“Os partidos políticos que estão no poder não nos representam. Eles estão totalmente distantes dos cidadãos. Nós queremos participar”, avaliou Lorena Müller, do coletivo Democracia Real Ya!, uma das organizações que participou da inicitiva.
O grupo ainda irá reunir-se para decidir se os dados serão encaminhados aos parlamentares.